Acaba de sair no mercado
nacional o primeiro registro fonográfico da banda paraibana de Heavy Metal
Tradicional VINCULUM.
O
EP "Pássaro Sem Domínio" contém 5 faixas impecáveis cantadas em bom
português e de um extremo bom gosto na execução, timbragem, sonoridade (não
datada) e de letras bem expressivas e claras aos ouvidos. Acabamento visual
digno de nota e que nos deixa realmente felizes e satisfeitos ao saber que o
brasil está produzindo mais um grande nome pro futuro.
À
seguir uma entrevista com o guitarrista Ari Sabbath revelando a origem da banda
e vários outros detalhes como a visão que eles tem da cena nacional e uma
pequena resenha do lançamento.
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Ari Sabbath, Lucimario, Moisés, Jacob Wild e Eduardo Barbosa |
TOCA
DO SHARK : Como a banda foi montada?
ARI
SABBATH: Bem, a idéia de
montar a banda surgiu em 2007, ano no qual chegamos a fazer algumas reuniões,
mas sem pretensão em fazer músicas autorais e tendo um tempo disponível muito
reduzido, a ideia foi deixada em hibernação. Só em 2011, apenas como um mero
hobby, começamos de fato a encarar a jornada de ensaios aos finais de semana e
interpretar músicas de bandas como: JUDAS PRIEST, ACCEPT, SAXON, GRAVE DIGGER,
DIO, OZZY OSBOURNE, etc. Nesse mesmo ano, o guitarrista Eduardo Barbosa foi
convidado a fazer parte da banda, dando mais corpo e engajamento ao trabalho.
No início de 2012 a banda foi convidada, em quatro ocasiões,
a se apresentar em pequenos bares da cidade, havendo assim a necessidade de se
adotar um nome. Deste modo, foi escolhido o nome provisório METAL RISING. Já em
meados de julho de 2012, a banda sentiu a necessidade de compor suas próprias
músicas e, diante da nova proposta musical, de mudar novamente o nome, sendo
escolhido o nome VINCULUM. Como já havia certo entrosamento entre os
integrantes, rapidamente surgiram cinco composições autorais e a iniciativa de
gravação de um EP contendo os cinco registros.
T.S.: De onde vieram seus integrantes
(ex-bandas e tals)?
ARI: O vocalista Moisés e
o baixista Lucimário faziam parte, no início dos anos 90, da banda AGRESSION,
uma linha musical mais voltada a um Death e Thrash Metal. O baterista Jacob
Wild e o guitarrista Eduardo Barbosa, chegaram a integrar alguns projetos
musicais, mas ambos nunca fizeram parte de alguma banda propriamente dita. Eu
fazia parte da banda de Heavy / Doom Metal chamada ABHYMANIUM, que não mantinha uma frequência contínua de
ensaios, o que deu mais tempo hábil para me dedicar exclusivamente a apenas uma
banda.
T.S.: De onde veio a ideia para o nome
da banda?
ARI: A escolha do nome da
banda foi um dos processos mais difíceis pra todos nós, pois teria que ser um
nome sugestivo aos nossos ideais e que tivesse aceitação entre todos da banda.
Daí, Luciomário Nascimento, nosso baixista sugeriu o nome VINCULUM (latinização
de Vínculo), que no nosso contexto simboliza a união entre o Heavy Metal e seus
seguidores nos mais variados cantos do globo.Independentemente da nação,
idioma, todos nós possuímos uma só bandeira.
T.S.: As letras são totalmente realistas
(às vezes até um pouco negativas) e com aquele ar libertário do Metal
Tradicional. Quem compõe as letras da banda?
ARI: As letras retratam os conflitos e ensejos dos
dias atuais, que em outrora também era a proposta de bandas como BLACK SABBATH
e JUDAS PRIEST. O existencialismo é um tema preponderante em nossas letras, na
qual questionamos a existência do ser humano e o que ele provoca no ambiente.
Na
letra da música ‘Indecifrável Mundo’ deixamos no ar a reflexão clara desse
pensamento: “...Como entender o mundo,
como viver no mundo?” Na música ‘Ser Humano’ existe um trecho adaptado da
obra de Friedrich
Nietzsche: “...eu não sei o que quero
ser, mas sei o que não quero me tornar...”. Na música ‘Pássaro Sem Domínio’
é demonstrado o desejo de liberdade no mundo caótico em que vivemos, cheio de
regras e imposições sociais. Nessa música também é possível encontrar outra
adaptação literária de Friedrich Nietzsche,
em: “...Não há fatos eternos nem verdades absolutas...”. As três músicas
acima citadas são de minha autoria (Ari Sabbath).
Já as músicas ‘Tolo’ e ‘Olhos e
Alma’, foram escritas pelo vocalista (Moisés Lima), inspiradas em experiência
real, em que residindo na Líbia a trabalho, viu de perto a devastação causada por
uma guerra e tudo que estava envolvido por trás de um conflito, ficando
encurralado e praticamente preso naquele país. Tal episódio ficou conhecido na
mídia como A Revolta Árabe.
T.S.: A capa me lembrou o clássico EP “A
Ferro e Fogo” da pioneira banda HARPPIA e as canções, talvez por serem cantadas
em português, nos remete àquela época mágica do Metal Nacional. Vocês se sentem
influenciados pelas tradicionais bandas oitentistas que cantavam em português?
ARI: Sim, com toda
certeza. As bandas daquela época foram pioneiras nesse sentido, mostraram que
podiam fazer diferente de tudo que era feito na época e com isso suas letras
atingir diretamente o público, que de fato não dominavam o inglês.
T.S.:
Nos últimos 10 anos essa cena parece que veio numa crescente, que culminou em
novembro último com o festival ‘Super Peso Brasil’ em SP, com 5 bandas
pioneiras de várias partes do país. Alguns afirmam que 2014 será o Ano do Metal
em Português, como vocês estão encarando toda essa agitação na cena?
ARI:
Estamos encarando tudo isso com grande satisfação, sempre é bom poder
contribuir com o que você gosta e somar forças com bandas pioneiras e
promissoras. Fazer parte de uma banda de Metal no Brasil não é fácil e a quebra
de paradigmas do tipo: se é metal, tem
que ser em inglês, torna essa atividade bem mais dificultosa. Ver que a
cada dia estão surgindo nomes fortes e um público maior que aposta nessa ideia,
é algo gratificante para todos nós.
T.S.:
Vocês, em algum momento, cogitaram cantar em inglês?
ARI: Sim, tal assunto já
foi bastante discutido por nós, ocorrendo até uma divisão com maioria sendo a
favor de cantar em inglês. A minoria ganhou a causa com uma simples indagação.
Se mal sabemos falar português porque devemos cantar em inglês? (risos)
T.S.: Vou citar 5 grandes nomes
veteranos e mais 5 da nova safra e quero que me dê suas opiniões sobre essas
bandas:
STRESS:
Banda desbravadora na qual todos nós curtimos por unanimidade. Temos uma música
do STRESS como componente do no nosso repertório ‘Coração de Metal’.
ANTHARES:
Outra importante banda dos anos 80, sendo citada como influência por parte dos
integrantes.
MADE
IN BRAZIL: Importante banda do Rock Nacional, sendo
muito admirada por todos da banda. A música ‘Kamikaze do Rock’ faz parte do nosso
repertório de show.
KAMIKAZE:
Outra grande banda que curtimos bastante.
PATRULHA
DO ESPAÇO: Banda que curtimos muito, mas que não foi
influência direta em nosso som.
COMANDO
NUCLEAR: Banda conhecida e curtida por parte dos
integrantes, mas que não foi influência direta em nosso som.
CARRO
BOMBA: Importante e boa banda formada nos últimos 10 anos.
Muita coisa boa!
MUQUETA
NA OREIA: Não faz parte de nossas influências
musicais.
PROJECT
46: Não conhecemos.
MADAME
SAATAN: Não faz parte de nossas influências musicais.
T.S.: Faltou algum nome que vocês
gostariam de citar como influências?
ARI:
Sim, vários nomes. Mas citaremos a priori: HARPPIA, CENTÚRIAS, SALÁRIO MÍNIMO, VÊNUS
e SHOCK. Seguindo o critério da pergunta anterior, a banda dos últimos 10 anos
que curtimos por unanimidade é o COMANDO ETÍLICO de Natal (RN).
Como
a pergunta foi voltada para as influências dentro do Metal Nacional, não
citamos as bandas internacionais, as quais foram até mesmo mais influentes do
que muitas das que citamos.
T.S.:
Espaço final disponível para o que vocês queiram falar para o público.
ARI: A banda VINCULUM agradece a todos os
leitores, em especial aos que acreditam em nosso trabalho e que de alguma
maneira ajudam a fortalecer o Metal Nacional. Seja indo aos shows, comprando
material das bandas etc. Sem o apoio, as coisas realmente não acontecem. Agradeço veementemente em nome do VINCULUM, o espaço cedido
pela TOCA DO SHARK, podendo assim contar um pouco de nossa trajetória. Vida
longa ao Heavy Metal!!!!
SERVIÇO
ARTISTA: VINCULUM
DISCO: “Pássaro Sem Domínio”
ANO: 2013
FAIXAS:
1. Indecifrável
Mundo/
2. Ser
Humano/
3. Pássaro
Sem Domínio/
4. Olhos
e Alma/
5. Tolo/
Grande revelação de Campina Grande/PB, o
VINCULUM é uma banda rápida e direta que pratica o mais tradicional Heavy Metal
oitentista à lá SAXON, GRIM REAPER e várias outras bandas da N.W.O.B.H.M., mas,
como cantam em bom (ótimo) português brasileiro, temos que admitir que as
canções lembram em muito os pioneiros oitentistas como HARPPIA, INOX, STRESS
entre tantos outros, isso, sem contar que a capa com o pássaro nos remete às
capas do EP do HARPPIA, o clássico “A Ferro e Fogo” e também ao petardo do
JUDAS PRIEST “Screaming for Veageance”.
Com duas guitarras cortantes (à cargo dos
guitarristas Ari Sabbath e Eduardo Barbosa), uma voz de timbragem única de Moisés
Lima e uma cozinha tradicionalíssima (mas nunca datada) composta por Jacob Wild
(bateria) e Lucimario Nascimento (baixo/vocais) a banda destrincha temas
realistas como a destruição do planeta na faixa ‘Ser Humano’, angústias humanas
e dúvidas infindáveis em ‘Indecifrável Mundo’, ‘Tolo’ e ‘Olhos e Alma’ e o
grito libertário que sempre permeou o Heavy Metal está presente na faixa título.
Vale destacar que, apesar de ser totalmente
tradicional e oitentista no som e no visual, o VINCULUM não é aquelas bandas
datadas que deixam se expelir o ranço de uma era no seu som, jamais soando
moderna, eles são simplesmente e brilhantemente dosados e de extremo bom gosto
em seus acordes e timbres, nada que vá salvar o mundo, mas que nos faz abrir um
belo sorriso no rosto sem remorso.
Já não é de hoje que o Brasil vem vivendo uma
verdadeira ressurreição do som pesado, sincero e puro cantado em português, com
a dose certa de melodia, peso, consciência e ‘pegada’, esses caras em breve
mudarão a cara da cena underground que nas últimas duas décadas foram quase que
completamente dominadas pelo som extremo.
É, 2014 tá parecendo que será mesmo o ANO DO
HEAVY METAL CANTADO EM PORTUGUÊS!