Em abril de 1985
o QUIET RIOT veio ao Brasil pela primeira vez na sombra da desunião da formação
que se tornou clássica, pois o monstruoso baixista Rudy Sarzo já estava fora da
banda, mas mesmo assim vieram e fizeram shows históricos, pro bem e pro mal, haja
visto que destrataram a banda de abertura, os brasileiros do METALMANIA (saiba
mais pelas palavras do amigo Will Dissidente em http://whiplash.net/materias/curiosidades/164230-quietriot.html
).
Passados 13 anos
e inúmeras formações diferentes e discos também díspares, eis que em dezembro
de 1997 e janeiro de 1998 começaram os rumores de que teríamos, agora sim pela
primeira vez, a formação clássica do QUIET RIOT no Brasil, aquela mesma
formação que gravou os míticos “Metal Health” de 1983 e “Condition Critical” de
1984, a saber, Kevin DuBrow (v), Carlos Cavazo (g), Frankie Banalli (bt) e Rudy
Sarzo (bx) trazendo ao Brasil a turnê de reunião que tinha acabado de participar
de “Thunderbolt –a tribute to AC/DC” com ‘Highway to Hell’ e dias depois
lançaria o disco “Alive and Well”.
Eu ouvia QUIET RIOT
desde pequeno na cola dos meus irmãos mais velhos e pirava desde 83 com aquele
clipe de ‘Cum on Feel the Noise’ e jamais poderia sequer imaginar que um dia
iria vê-los na minha cara ao vivo e bem (trocadilho infame), pois, também vamos
analizar minha situação na época, eu tinha acabado de sair do meu emprego no escritório
e começado a fazer em Campinas/SP um curso de Rádio e TV com ênfase em locução
comercial, e tinha que viajar todo sábado pra tal cidade em questão do curso,
ou seja, era um estudante duro e desempregado que estava sendo paitrocinado para estudar tal curso que
meses depois realmente faria valer à pena, mas essa é outra história. O que me
salvou na época era que o programa de Rock da rádio Educadora FM de Campinas, On The Rocks (ou simplesmente OTR) programa esse que eu acompanhava há
anos era o programa que iria levar o QUIET RIOT a tocar em Campinas para sua
dita festa de aniversário e o apresentador do programa, o locutor Rony Viana
era um dos meus dois professores no curso, além dele me conhecer há alguns anos
e foi aí que dei o golpe de misericórdia. Conversando com ele sobre esse tal
show nos intervalos de uma aula em meados de março (em fevereiro a revista Rock Brigade já estava estampando uma
página inteira com o cartaz provisório do show), indaguei se REALMENTE seriam os quatro membros originais
que iriam tocar e que era meu sonho de infância ver os caras, eis que ele me
ofereceu dois ingressos de Cortesia,
foi um dos dias mais felizes da minha recém deixada adolescência (eu tinha
acabado de completar 18 anos).
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Propaganda de página inteira na Rock Brigade de Fevereiro de 1998 |
Cheguei em casa
contando pra minha irmã tal façanha e disse que ia vender um deles pois não
sabia de ninguém que pudesse me acompanhar em tal rolê, além d’eu precisar da
grana como informei acima. E na semana do show, uns dois dias antes, minha irmã
disse que foi um cara na loja de calçados que ela trabalhava à procura de
comprar um coturno e que disse à ela que era pra ir no show do QUIET RIOT
perguntando se ela conhecia, ela disse que não só conhecia como o irmão caçula
dela estaria neste show e tinha um ingresso sobrando pra venda, pois ela
intermediou a venda pra mim sem eu nem ver a cara do tal comprador. Uns quatro
anos depois disso acabei o conhecendo numa roda de papo num festival n’outra
cidade da nossa região, onde falávamos de vários shows que vimos e quando
mencionei o QUIET RIOT uma coisa puxou a outra e o tal cara se revelou dizendo
que tinha sido ele que comprou o ingresso com a minha irmã na loja, coisas que
só o Underground nos proporciona.
O dia do show,
era 04 de Abril de 1998, um sábado gelado de sol à pino na ‘cidade do vento’ e eu tinha aula do curso pela manhã, já fui pra
Campinas preparado pra passar o dia lá pois nem sabia onde era a tal ‘Pedreira
do Chapadão’ onde se realizaria o festival. Ah é, era pra ser um festival com
inúmeras bandas iniciantes da cidade se revezando no palco durante o dia e mais
à noite as mais profissionais da cena do interior de São Paulo entrariam em
ação, a saber, KAVLA, DARKLAND, TRANSFIXION, ACRON entre outras e mais à noite
seriam as principais M.V.P. (Michael Vescera Project), DR. SIN e finalmente o
QUIET RIOT, mas............................ sabe-se lá o porquê a dita produção resolveram de última hora
cancelar todas essas bandas nacionais que tocariam durante o dia nesse festival
anunciado como “A Festa de 8 anos do OTR” e quando nós, os primeiros a chegar
por lá após o horário de almoço, chegamos nos portões da tal pedreira (sim, era
uma pedreira enorme em forma de concha, coisa gigantesca) e nenhuma banda se
encontrava tocando e foi assim a tarde toda, inclusive a demora pela abertura
dos portões desencadeou um princípio de confusão entre alguns de nós e a PM
feminina que chegava no recinto, alguns minutos de tensão e muitos menores de
idade envolvidos depois a coisa se apaziguou (o azarado aqui devia ser o único
recém completado 18 anos). Até que no final da tarde os americanos do M.V.P.
que trazia o guitarrista Joey Taffola e o ex-vocal do MALMSTEEN e LOUDNESS,
Michael Vescera começaram a tocar e conquistaram a todos com sua competência,
feeling, simpatia e carisma inseridos nas canções do seu álbum-debut “Windows”,
mas quê público viu isso? Tinham ali uns 500 gatos pingados, pois é, afora a
rádio Educadora e a TV Bandeirantes da regional de Campinas, praticamente não
ouve divulgação decente e a banda só tocaria lá e dias depois no RJ, pulando SP
e outras capitais, a coletiva de imprensa que deveria ser em Campinas foi
transferida de última hora pra Sampa sem muitas explicações, tanto que as
revistas especializadas da época nenhuma trouxe entrevista com eles e algumas
até malharam à exaustão a dita produção que muitos músicos queriam pegar na
porrada no dia do show devido aos tais cancelamentos e seguintes erros como
alguns calotes proferidos que seguiram os dias à boca pequena, há quem diga que
Frankie Banalli foi parar numa delegacia após o show, mas vamos tratar aqui dos
shows.
Não chegou muito
mais gente depois e os shows seguiram com um clima de arena pra uma platéia bem
intimista, justiça seja feita, o palco, som e iluminação eram de primeira e o
que o M.V.P. e o DR. SIN nos ofereceram foram espetáculos de Hard Rock de
primeira linha, principalmente o trio paulista DR. SIN que estava no auge com
seu recente lançado terceiro disco de estúdio “InSINity” e o mega sucesso ‘Futebol,
Mulher e Rock and Roll’, pois fizeram o palco pegar fogo com canções que se
tornaram clássicas naqueles anos como ‘Emotional Catastrophe’, ‘Down in the
Trenches’, ‘Fire’, e ‘No Rules’ que trouxe a participação especial de Vescera
cantando com eles, nascia ali uma semente que floresceria dois anos depois em “Dr.
Sin II”? Provavelmente.
Após o final
apoteótico de ‘Futebol, Mulher e Rock and Roll’ que contou com a voz de Silvio
Luiz sampleada veio o quarteto americano da máscara de ferro
(como eram divulgados) e vieram com a faca nos dentes.
Kevin DuBrow com
um puta visual, garganta tinindo e presença de palco que só perdeu pro
monstruoso e inigualável baixista Rudy Sarzo que ‘jantava’ o baixo pulsante enquanto dominava o tablado sagrado
totalmente, a banda estava alinhadinha com a pegada destruidora do
baterista-líder Frankie Banalli e com as distorções e solos oferecidas pela
guitarra impecável de Carlos Cavazo. Que noite foi aquela em que eu pude ouvir
e chorar ao som de ‘Love’s a Bitch’, ‘Slick Black Cadillac’, ‘The Wild and the
Young’, ‘Run for Cover’, a nova ‘Alive and Well’, ‘Sign of the Times’, ‘Let’s
get Crazy’ e as baladas ‘Don’t Wanna Let You Go’ e ‘Thunderbird’ dedicada ao
eterno Randy Rhoads, além das versões mais perfeitas já feita pros hinos ‘Mamma
Weer all Crazee Now’ e ‘Cum on Feel the Noise’ além do mega hino ‘Metal Health
(Bang Your Head)’. O quê que foi aquilo gente? Além de tudo isso ainda arrisco
dizer que foi o show mais cheiroso que fui na vida, pois, com a baixa
bilheteria eu colei no palco e à minha volta só tinha mulher! Talvez pelo DR. SIN
ou até pelo M.V.P., não sei, só sei que aquilo não era normal à época e estava
tudo ótimo hehehehehe...
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O que restou do ingresso |
Finalizando
aquela noite, a prefeitura ainda disponibilizou uma frota de dezenas de ônibus
circulares pro centro da cidade que ainda passariam pela rodoviária e não é que
esses busões estavam todos lotados! Onde estavam aquelas pessoas todas no show?
Depois li em alguns lugares que a bilheteria chegou ao número de quase 3000
espectadores, mas esperavam 20 mil e isso explicaria algumas tretas financeiras
futuras e que pese também o tamanho megalomaníaco do lugar à céu aberto (numa
noite estreladíssima) escolhido também deixava um aspecto de evento vazio
afinal.
Sei que nos anos
que se passaram ouvi muita chiadeira de pessoas que diziam que eles deviam ter
tocado em Sampa e não no interior e que o público no RJ também foi irrisório
mas ouvi tantas outras pessoas contando histórias vividas naquele dia em
Campinas, algumas até impublicáveis e acabei trombando vários outros que diziam
que me conheceram naquele show e que eu nem me lembrava, sei que, pra mim foi
demais de emocionante e histórico e resolvi contar agora, uma data errática e
não redonda por causa da propagação da notícia de que eles irão tocar por aqui
de novo em novembro próximo, mas será com uma formação que só trará o baterista
Frankie Banalli haja visto a morte do vocalista Kevin DuBrow há alguns anos e a
dissidência dos responsáveis pelas cordas clássicas dessa instituição metálica
americana.
Ou seja, o
clássico QUIET RIOT só passou pelo Brasil uma única vez e foi há exatos 18 anos
deixando um rastro de memórias, muitas delas ruins, amargas devido ao descaso
da (des)organização, mas as que
contam mesmo são as inesquecíveis emoções positivas que guardamos e que resolvi
compartilhar aqui com vocês, só algumas, é claro.
Mais uma vez as
fotos não poderão ser publicadas pois ainda não existe scanner mental que nos
proporcione extrair da memória e passar pra tela tais lembranças, câmeras digitais
eram coisas de um futuro distante e aqui só posso lhes oferecer umas parcas
propagandas de revistas da época e o canhoto do ingresso que os burros
seguranças confiscaram nos deixando somente o canhoto, ou seja, era pra ser o
contrário, mas vai esperar o quê dessa turma que sempre nos trata feito lixo?
Até as próximas
lembranças, ou, quem sabe, até o show deles em novembro ;)
Eu era um recém chegado à cidade do vento e esse foi meu primeiro show ,perfeita sua leitura daquela tarde,parabéns meu caro amigo
ResponderExcluirEu era o baterista co fundador da ACRON. Não ficamos sabendo porque as bandas não tocariam. No fim, o que valeu foi que fiquei no backstage juntos dos feras e vi bem de perto o pessoal do Quiet Riot. Foi legal e me lembro até hoje desse dia.
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