De lá pra cá
muita coisa piorou, a violência descabida aumentou vertiginosamente, o acúmulo
de lixo também, as opções culturais diminuíram e as atrações internacionais
também, mas nada que tenha me afastado desta grande celebração às artes ao ar
livre. Tudo grátis e ao alcance de quem se dispor a ir ao (infelizmente) temido
centro velho de São Paulo, que, pra mim, é um mergulho no submundo urbano da
maior megalópole do país.
E pra celebrar meus
10 anos de Virada Cultural fui assistir algumas celebrações que rolariam este
ano, como o show de 50 anos do MADE IN BRAZIL, a celebração à obra do
arranjador e organista Lafayette, veterano da Jovem Guarda que gravou com quase
todo mundo e hoje se apresenta com o grupo LAFAYETTE E OS TREMENDÕES, e
principalmente a PATRULHA DO ESPAÇO com o show que, além de ser parte
integrante da sua turnê de despedida, também celebra os 40 anos da banda e
ainda por cima reuniu sua melhor formação (na minha opinião), a formação dos
anos 2000, um feito mágico que diz muito da minha formação Rockeira. Além de
tudo isso ainda vi outros bons shows, pontuados, pois não fiquei 24 horas no
evento devido à minha atual logística complicada.
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Chuva na terra da garoa (ah vá?) |
Pois bem,
chegando logo cedo à capital paulista me deparei com um temporal que arrastaram
algumas tendas já armadas pra Virada. O tempo bem fechado e ventania me
preocupou com o que viria no decorrer do dia que seria bem longo até as 18hs,
horário em que o evento começa. O tempo passou, o céu ameaçou limpar, mas não,
o vento gelado permaneceu.
Por volta das 17:30 com as primeiras atrações já se
mobilizando e passando o som em alguns palcos uma garoa apertou, todo mundo
ficou tenso, mas não passou daquilo que só serviu pra baixar mais a temperatura
e eu estava diante do dito palco “ROCK” que nada mais era do que uma tenda
grande armada sobre alguns andaimes na rua 7 de Abril (próximo à Av. Ipiranga)
onde tocariam grandes nomes como KRISIUN e RATOS DE PORÃO no domingo (não sei
como) e nomes promissores da nova safra como EGO KILL TALENT e o BLACK PANTERA
que era quem iria abrir as festividades e quem eu queria ver. Logo de cara o
Power trio de Uberaba/MG entrou metendo o pé no peito da platéia que já era
numerosa e com vários fãs dos caras. Chaene Gama (bx/v), Charles Gama (g/v) e Rodrigo
Pancho (bt) entraram no palco com atitude de ‘jogo ganho’, demonstrando seu
carisma e experiências angariadas nesses últimos quatro anos rodando o Brasil e
o Mundo underground (sim, a Europa já
foi visitada).
A banda começa com um som do novo disco “Agressão” que será
lançado ainda em junho, ‘Sexto Dia’ já ganhou atenção dos que estavam presentes
e na segunda faixa ‘Ratatatá’ do primeiro play a audiência já batia cabeça sem
parar, daí em diante foi só doideira e caos, quem ia chegando ia se envolvendo
e se misturando, a roda ia aumentando e era comum ver pessoas se jogando no mosh pit com copos na mão, de óculos e
até de mochilas, um ritual de entrega pura e simples de corpo e alma, algo
retribuído pela banda que se entregava ao máximo no palco e fora dele, afinal,
em determinado ponto do show até o guitarrista/vocalista Charles Gama desceu do
palco pra bater cabeça com o público numa atitude que demonstrava total
humildade,
o que foi praticado pela banda antes e depois do show
confraternizando com o público presente. Interessante era notar o espanto dos
transeuntes ocasionais que passavam e viam ‘três negões’ (esqueça o
politicamente correto por favor) no palco praticando um som extremamente pesado
e grooveado, afinal o senso comum
esperaria reggae ou algo mais voltado
ao popular, enfim, foi um enorme prazer conhecer e comungar desses momentos de
extrema entrega underground no
primeiro show da Virada Cultural ao lado de uma banda tão talentosa quanto é o
BLACK PANTERA que teve seu show totalmente transmitido via Facebook Live e você pode encontrar este show na página da banda em:
https://www.facebook.com/BlackPanteraoficial/
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BLACK PANTERA na humildade |
Ou saber mais sobre eles aqui na Toca mesmo:
SET LIST BLACK PANTERA:
SEXTO DIA, RATATATA, GODZILLA, ABRE A RODA E
SENTA O PÉ, TACA O FODA-SE, REDE SOCIAL, ALVO NA MIRA, O ÚLTIMO HOMEM EM PÉ,
EXTRA , EXECUÇÃO NA AVENIDA 38, ESCRAVOS, BACULEJO e BOTO PRA FUDER
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Charles Gama (g/v), Rodrigo Pancho (bt) e Chaene Gama (bx/v) BLACK PANTERA |
Após uma pausa
para jantar, cara, minha crítica à organização deste ano fica a cargo do fato
das bandas terem 1 hora para se apresentarem e os intervalos entre uma atração
e outra ser de 1:30h, não era pra ser o contrário? Em 1:30h o clima esfria
(ainda mais sob 10° ou 11° como era o caso) e o público se dispersa,
prejudicando a audiência do artista, enfim... Usei esta uma hora e meia pra ir
jantar, botar os ossos e músculos deslocados no lugar e apreciar a festa ao meu
redor, onde vi várias formas de arte espalhadas pelas ruas e até prédios, uma
experiência mágica!
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Arte pra todo lado e de todas as formas |
Agora vamos rumar
ao palco defronte ao clássico edifício COPAN na, não menos clássica Avenida
Ipiranga, o palco “História do Rock” que traria veteranos como LAFAYETTE E OS
TREMENDÕES, PATRULHA DO ESPAÇO, MADE IN BRAZIL e INOCENTES (que foram as que
conferi), AS MERCENÁRIAS, MUNDO LIVRE S/A, DEAD FISH e os PARALAMAS DO SUCESSO
pra quem ficaria no domingo.
Pouco antes da
banda capitaneada por Gabriel (AUTORAMAS) e Érica (ex-PENÉLOPE e atual
AUTORAMAS) subir ao palco com o veteraníssimo tecladista/arranjador/organista
Lafayette, um séquito de senhoras respeitáveis e senhores da ‘melhor idade’
vestidos a caráter, com suas camisetas de banda, calças justas, cinturões e
chapéus estilizados grudaram na grade para dançar ao som dos clássicos da Jovem
Guarda, todos arranjados e gravados pelo já citado mestre das teclas Lafayette
que aqui seria acompanhado por jovens músicos na banda/celebração LAFAYETTE E
OS TREMENDÕES, que desfilaram clássicos e mais clássicos imortalizados nas
vozes de JERRY ADRIANI, WANDERLÉA, ROBERTO E ERASMO entre outros, claro que os
momentos mais esfuziantes da platéia foram nos clássicos malditos que o ‘Rei’
Roberto gravou, como ‘Negro Gato’, ‘Você não Serve pra Mim’, ‘Como é Grande o
meu Amor por Você’ (na voz e interpretação angelical da incrível Érica) e
aquela que foi apresentada por Gabriel como ‘...aquela
que o rei não gosta mais de tocar, mas o Lafayette sim...’ e todo mundo
já sabia, ‘Quero que vá Tudo pro Inferno’ fez todo mundo ir ao delírio. Por
falar em delírio, toda vez que Lafayette partia pro solo nas canções, os jovens
músicos cercavam ele em posição de idolatria o que era reverenciado também pela
platéia, e o tímido Lafayette se escondia debaixo de seu bonezinho. Um grande
espetáculo que me fez voltar à minha infância, que, apesar da tenra idade, foi
mergulhada naquelas canções que minha mãe e meus irmãos mais velhos ouviam sem
parar em casa.
Depois desse
mergulho na infância era hora de mergulhar na adolescência e vida adulta que
foi e ainda é sonorizada ao som da incrível PATRULHA DO ESPAÇO que está se
recolhendo ao hangar (desta vez em definitivo será?), fazendo shows que são
anunciados como os de despedida, e este seria o segundo de três que a banda
anunciou fazer na capital paulista, mas este é mais do que especial, pois iria
reunir no palco os 4 músicos que ressuscitaram a banda em 1999, estou falando
da formação mágica que gravou os discos de “Chronophagia” (2000) até “Capturados
ao Vivo...” (2007), Rolando Castello Junior (eterno mentor da banda, bateria),
Luiz Domingues (baixo/voz – ex- A CHAVE DO SOL e futuro PEDRA entre outros),
Rodrigo Hid (futuro PEDRA) e Marcello Schevano (futuro CARRO BOMBA entre
outros), acompanhados pela voz de Marta Benévolo, na banda desde 2010. Seria um
set-list especial e foi mesmo, ver
aqueles caras reunidos, parece que nasceram para tocar juntos e quem os viu na
época dos discos como eu, vê-los tocando aqueles clássicos dos 80 como
‘Arrepiado’ (cantado por Hid e dedicado ao falecido Percy Weiss) e os que se
tornaram clássicos dos 2000 como ‘Nave Ave’ e ‘Ser’ foi demais da conta. Ainda
tiveram tempo de homenagear Arnaldo Dias Baptista (fundador da banda após sair
d’OS MUTANTES) em ‘Sunshine’ executada ao piano por Schevano e de chamar no
palco o grande vocalista Rogério Fernandes (ex-GOLPE DE ESTADO e atual CARRO
BOMBA) para cantar ‘Cão Vadio’ pouco antes de Marcello emendar com a ótima ‘São
Paulo City’ e ter sua impecável atuação estragada por um verdadeiro sem-noção
que invadiu o palco para se aparecer!
Vale ressaltar
que quem brilhou nesta noite mesmo foram os guitarristas Rodrigo Hid e Macello
Schevano que tem uma química perfeita ao improvisarem solos gêmeos nas canções
abrilhantando mais o espetáculo e levando a platéia ao êxtase puro, amparados
pelo baixo virtuoso do mestre Domingues e a bateria única de Castello Junior.
A festa de Rock
se encerrou ao som de ‘Columbia’ hino máximo dos patrulheiros (com direito a
citação de ‘Layla’ do DEREK AND THE DOMINOS nos solos de Hid e Schevano) que
deixaram o palco que logo menos foi preenchido pelos heróis do Rock, os irmãos
Vecchione e a cinqüentenária banda MADE IN BRAZIL que fez uma festa daquelas
com clássicos atrás de clássicos, como ‘Eu Quero Mesmo é Tocar’, ‘Vou te Virar
de Ponta Cabeça’, ‘Os Bons Tempos Voltaram’ e ainda contarem com a aparição
surpresa do lendário Simbas (eterna voz do CASA DAS MÁQUINAS) que invadiu os
bastidores e o palco sendo até seguido pelos seguranças somente pra cantar o
refrão de ‘Jack, o Estripador’ que estava sendo executada no ato da invasão e
dar um beijo nos irmãos Vecchione, a platéia foi ao delírio!
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Bangla (sax), Ziggy (g), Simbas, Oswaldo (bx/v), Rick (bt), Celso (g), Sol e Rubão (bv) UMA BANDA MADE IN BRAZIL |
Ainda no mote das
participações especiais tivemos o baterista Dimas ‘Destruidor’ Zanelli que
gravou os dois discos “Pirata ao Vivo” com a banda por volta de 1984/1985
tocando a trinca ‘Gasolina’, ‘Paulicéia Desvairada’ e ‘Uma Banda Made in
Brazil’ seguidas por ‘Amanhã é um Novo Dia’ interpretada pelo backin’vocals Rubão Nardo que acompanhou
a banda durante os anos 80 e está de volta ao time desde 2012 mais ou menos.
Para fechar
homenagearam Cornélius Lúcifer com ‘Anjo da Guarda’ e emendaram com ‘Minha Vida
é Rock and Roll’ quando foram surpreendidos com a produção do evento pedindo a
eles para fazerem um BIS, justo eles que em 2012 foram postos pra fora do palco
pela produção do evento que literalmente cortou a iluminação do palco e agora
estava se redimindo (veja mais em http://tocadoshark.blogspot.com.br/2012/06/8-virada-cultural-sao-paulo-05-e-06-de.html).
Pro BIS veio ‘Não Transo Mais’ e o fim de uma ótima apresentação que muito se
deveu ao gás que o jovem guitarrista Guilherme Ziggy deu à banda desde a sua
entrada.
SET LIST PATRULHA
DO ESPAÇO: DEUS DEVORADOR, SER, NÃO TENHA MEDO, ARREPIADO, OLHO ANIMAL, FESTA
DE ROCK, ROBOT, SUNSHINE, NAVE AVE, CÃO VADIO (Rogério Fernandes), SÃO PAULO
CITY, COLÚMBIA
SET LIST MADE
IN BRAZIL: , EU QUERO MESMO É TOCAR, VOU TE VIRAR DE PONTA CABEÇA, JACK O
ESTRIPADOR, OS BONS TEMPOS VOLTARAM, GASOLINA, PAULICÉIA DESVAIRADA, UMA BANDA
MADE IN BRAZIL, AMANHÃ É UM NOVO DIA, ANJO DA GUARDA, MINHA VIDA É ROCK AND
ROLL
BIS: NÃO
TRANSO MAIS
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Oswaldo e Dimas Zanelli |
Mais uma longa hora e meia durante a
madrugada mais fria do ano até então e viria uma das principais bandas do Punk
Rock nacional, INOCENTES em sua formação clássica com Clemente (v/g), Nonô
(bt), Ronaldo (g) e Anselmo (bx) pra esquentar o amanhecer paulista com o
primeiro hino ‘Rotina’ que senti estar levemente mais lento do que o
acostumado, aliás, percebi isso em algumas outras faixas também, não sei se faz
tempo que não vejo a banda e eles baixaram a rotação ou se era o frio de
congelar os ossos, enfim, o que importa foi a sucessão de hinos Punks que
encheram nossos ouvidos, pois ‘Expresso Oriente’, ‘Ele Disse Não’ e ‘A Cidade Não
Pára’ foi uma trinca poderosa que só deu uma pausa pra Clemente explicar que o
próximo som fazia anos que a banda não tocava e que ela tinha ganhado uma
versão da banda alemã RASTA KNAST, ‘Escombros’, tinha tudo à ver, afinal, à
poucos metros dali estavam os escombros do edifício ocupado que ruiu duas
semanas antes assunto esse abordado por Clemente pouco antes de tocarem ‘Desequilíbrio’,
mas antes tocaram ‘El Salvador’ com Clemente explicando que este país era nos
anos 80 o que é a Síria hoje em dia, ou seja, foco de guerras americanas.
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Clemente, Anselmo, Nonô e Ronaldo - INOCENTES |
Mais pra frente no set list recheado de clássicos tivemos versões para ‘São Paulo’ do
365 (com homenagem aos grandes nomes do reggae na segunda parte da canção) e ‘RDN’
da banda RESTOS DE NADA da qual Clemente fez parte bem antes dos INOCENTES
existirem, e a cada som desses a roda de pogo aumentava mais e mais de
diâmetro, engolindo todos que estavam ao seu redor. Era praticamente impossível
se livrar dos ânimos exaltados dos presentes e seus corpos voando pra todos os
lados! Também, com ‘Cala a Boca, ‘Não Acordem a Cidade’, ‘Pátria Amada’ e ‘Pânico
em S.P.’ quem fica parado?
Se tinha alguém parado esse mesmo não se segurou com
os dois últimos presentinhos da banda que levou até o baterista Nonô a sair de
seu posto e tomar o centro do palco com uma caixa e uma baqueta, festa pura e
adivinhem quais foram os dois sons? ‘Should I Stay, or Should I Go?’
do THE CLASH e ‘Blitzkrieg Bop’ dos RAMONES. Necessário? Claro que não, devido ao sem número de hinos
que os INOCENTES ostentam, mas, era tudo festa como eu já mencionei, e essa
festa continuaria dia adentro com AS MERCENÁRIAS, mas aí eu não posso falar
muito sobre, pois minha ‘complicada logística’ me impossibilitou de permanecer
na festa.
SET LIST INOCENTES:
ROTINA, EXPRESSO ORIENTE, ELE DISSE NÃO, A CIDADE NÃO PÁRA, ESCOMBROS, EL
SALVADOR, MEDO DE MORRER, NEM TUDO PASSA, GAROTOS DO SUBÚRBIO, MISÉRIA E FOME, DESEQUILÍBRIO,
SÃO PAULO, RDN (Restos de Nada), CALA A BOCA, NÃO ACORDEM A CIDADE, PÁTRIA
AMADA, PÂNICO EM S.P.
BIS: SHOULD I STAY OR SHOULD I GO? (The Clash)
BLITZKRIEG
BOP (Ramones)
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OS INOCENTES |
Apesar de cansaço físico, o mental não
existiu, voltei pra casa de alma lavada e mente sã, são e salvo também, apesar
dos relatos de violência gratuita, mais uma vez passei incólume e agradeço por
isso e esclareço a ausência de fotos dos shows à esse fato, não me arrisco
demais, com equipamentos dando sopa e também vou mais pra celebrar a música do
que registrar algo, afinal não sou jornalista credenciado e sim um fã obstinado
que adora tudo isso. LONGA VIDA AO ROCK AND ROLL!
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Sampa Rock City |
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Theatro Municipal durante o dia, fila já se formava pros concertos da noite. |
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Detalhe do majestoso edifício COPAN que ficou cercado por dois palcos de ROCK. |
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tietando o BLACK PANTERA |
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LAFAYETTE E OS TREMENDÕES |
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Clemente e Nonô (INOCENTES) |
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Clemente e Ronaldo (INOCENTES) |
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Oswaldo, Celso Vecchione e Sol Blessa (MADE IN BRAZIL) |
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Oswaldo Rock Vecchione (MADE IN BRAZIL) |
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MADE IN BRAZIL |
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Chaene Gama (BLACK PANTERA) |
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BLACK PANTERA |
Agradeço os clicks aqui presentes aos que os cederam:
Fernanda Antônia
Bernardes (BLACK PANTERA)
Bruna Piccolo (demais
fotos)