Marcos César, China Lee, Daniel Beretta e Alexandre Wildshark
SALÁRIO MÍNIMO (11 de agosto de
2012) TOCA DO SHARK: Vocês irão
participar do tributo ao STRESS com qual música?
CHINA LEE: ‘Vale o que Tem’, que inclusive já está gravada e a gente
está tentando liberá-la em breve pra galera como uma prévia do disco. Ficou uma
paulada e em Portugal será lançado o disco em Novembro que é quando o primeiro
disco do STRESS faz 30 anos e esse é o gancho da coisa toda. TDS: Então o disco sairá primeiro
em Portugal e depois no Brasil?
CL: Portugal, resto da Europa e depois América Latina.
DANIEL BERETTA: Nós estamos tentando lançar a nossa faixa aqui no Brasil
antes de tudo como um single na web. Vamos colocá-la para download no nosso
site e tudo mais, mas ainda estamos em negociação com a gravadora para que isso
aconteça.
TDS: O disco “Beijo Fatal” está
comemorando 25 anos este ano e acaba de ser lançado na Europa pelo selo Metal
Soldiers trazendo de bônus o mais recente “Simplesmente Rock” é isso mesmo?
CL: Na verdade foi o contrário, lá a negociação foi pelo disco
“Simplesmente Rock” que aqui saiu em 2010 e eles adoraram o disco e o “Beijo
Fatal” é o bônus da história e inclusive está vendendo bem mais do que aqui no
Brasil. TDS: Mas saiu com alguma faixa
bônus inédita ou foi só os dois discos na íntegra?
CL: Não, na verdade tem faixa a menos lá porque a gente não pôde colocar
a faixa ‘Rosa de Hiroshima’ no CD (Nota do Editor: versão para o hino dos SECOS
& MOLHADOS escrita originalmente por Vinícius de Morais e musicada por
Gerson Conrad) porquê é muito complicado mexer com a burocracia de direitos
autorais em se tratando de Vinícius de Morais. E Raul Seixas também, foram dois
nomes com quem a gente sofreu muito em relação a isso. TDS: Falando em lançamentos, já
tem algum álbum de inéditas ‘no pente’ pra sair em breve?
CL: Ontem mesmo a gente estava no estúdio da casa do Beretta
(guitarrista da banda), pouco antes de sairmos pra mais um show escolhendo 10
músicas para a gente começar a gravar, mas esse disco só deverá sair depois de
um evento bem grande que está confirmado pra ser lançado esse ano que é o
“Brasil Heavy Metal”... TDS: Essa seria a minha próxima
pergunta, sobre o “Brasil Heavy Metal”...ele vai sair ainda esse ano?
CL: Sim, está confirmado para ser lançado dia 15 de Novembro também em
virtude dos 30 anos do primeiro disco de Heavy Metal Brasileiro que foi o
autointitulado do STRESS e também há a possibilidade de acontecer um evento bem
grande em Belém do Pará (terra do STRESS), tudo simultâneo, então CONFIRMADO o
lançamento do “Brasil Heavy Metal” para 15 de Novembro e os shows comemorativos
a partir de Dezembro com algumas bandas que estão sendo negociadas que seriam
OVERDOSE, KORZUS, VIPER, SALÁRIO MÍNIMO, STRESS e tem mais uma, há o DORSAL ATLÂNTICA. Essas seriam as 6 bandas
principais que iriam viajar pelo Brasil e em cada estado que a turnê passar
serão somadas mais duas representantes regionais, por exemplo, no RJ TAURUS e
AZUL LIMÃO (só um exemplo), em SP HARPPIA e CENTÚRIAS, mas são apenas exemplos,
nada de concreto em relação à esses outros nomes... TDS: Eu estou gostando de fazer
essa entrevista com vocês porque, toda resposta que vocês me dão traz um
‘gancho’ pra eu fazer uma nova pergunta que na realidade já estava programada
para eu fazer, independente das respostas que fossem dadas... Agora eu ia falar
justamente sobre isso... Nos últimos anos a gente viu ai o ressurgimento de
grandes nomes da cena do METAL oitentista cantado em Português, como DORSAL
ATLÂNTICA, o nome mais recente junto com o CENTÚRIAS, o próprio SALÁRIO MÍNIMO,
o STRESS, METALMORPHOSE... Como vocês estão vendo tudo isso? Vocês acham que é
uma necessidade geral na cena, ou é um ciclo natural do reconhecimento? Tem
alguma resposta pra tudo isso que está acontecendo ou é só o Tesão de se fazer
Heavy Metal mesmo?
CL: Primeiro quero dizer que, eu fui dependente químico por anos a fio e
eu sei que você consegue deixar a cocaína, o álcool, o tabaco, seja o que for,
mas deixar o Heavy Metal é muito mais complicado, por mais que você tente, você
não consegue. Então, vendo que o SALÁRIO está fazendo um trabalho de retorno já
há 10 anos e o KORZUS que está aí desde sempre, começaram a voltar várias
bandas. Eu acredito que algumas terão um retorno temporário como é o caso
anunciado do VIPER e também do DORSAL e também estamos tentando a volta do
OVERDOSE. Então nós também estamos trabalhando em cima disso, não é um lance ao
acaso. O METALMORPHOSE sim voltou pra ficar, mas em alguns casos nós (as bandas
em geral) estamos cutucando os caras para voltarem. O CENTÚRIAS foi um caso,
que inclusive dividiu um show com a gente recentemente em Embú-Guaçú/SP. TDS: Em Embú-Guaçú foi um
festival ‘mosntruoso’ né?
CL: Foi ducaralho! Estrutura monstruosa e vai ter muito isso daqui pra
frente porque as Prefeituras estão voltando a acreditar que existe gente que
gosta disso.
DB: Eu acho que o que explica essa vontade de todo mundo voltar também é
o retorno do BLACK SABBATH! (risos) Tá todo mundo voltando! TDS: Vocês tocaram com uma dessas
grandes bandas que voltaram que foi o TWISTED SISTER e com uma outra que está
querendo ‘pendurar as guitarras’ mas que a gente sabe que não vai fazer isso
que é o SCORPIONS. Eu queria saber essa particularidade, coisa de fã pra fã
mesmo, como foi o convívio entre vocês, como é o tratamento mútuo, se os caras
são profissionais com vocês, essas coisas?
CL: Olha, esse cara aqui é mais do que o guitarrista da banda, é um
irmão (referindo-se ao Daniel Beretta) e a gente estava debatendo aqui o que
está acontecendo esta noite (falando da treta que rolou nesta noite no Festival
Pinhal Music Rock Festival envolvendo o SHADOWSIDE e as outras bandas da noite,
veja no link à seguir: http://tocadoshark.blogspot.com.br/2012/08/pinhal-music-rock-festival-tretas-heavy.html ). Eu
já vi tanta coisa errada na minha vida que eu não deixo mais passar em branco.
Eu tenho o poder do microfone e do microfone eu não perdoo, que é o que está
acontecendo hoje com as bandas aqui. Nós já tocamos 4 vezes com os ‘gringos’: - URIAH HEEP: fomos maltratados por eles ‘em
cima da marca do cal’. Ficamos 2 dias com os caras do URIAH HEEP, como amigos,
usamos drogas juntos, fomos pra churrascaria juntos e no dia final, 13hs o
SALÁRIO MÍNIMO tinha que passar o som quando toca-se um celular onde alguém
fala assim “...é pro SALÁRIO esperar que o URIAH HEEP vai passar o som
antes...”, eles chegaram às 20hs e deixaram 5 minutos pra gente passar o som,
nem preciso falar mais sobre o tratamento. - SCORPIONS: é um caso diferente.
É uma banda monstruosa que tinha mais de 300 pessoas no backstage querendo
pegar os caras. Então existe uma segurança diferenciada porquê os caras são
muito grande mesmo! Os caras até são simpáticos, mas existe uma barreira de
seguranças porque ali é uma coisa de louco! TWISTED SISTER: foi logo depois
do SCORPIONS. Eu fico arrepiado só de lembrar! Os caras do TWISTED SISTER
pediram pros roadies deles ajudarem a gente e todos os integrantes da banda
ficaram na lateral do palco assistindo nosso show. O Dee Snider ficava fazendo
joia pra mim, fantástico! Ducaralho! Ducaralho! - U.D.O.: Quem foi no show do U.D.O. viu que
eu ‘sentei o arreio’ no tratamento dos caras para com a gente. Eu sou fã pra
caralho deles, mas convenhamos que é uma banda que ‘não é tudo isso’ e eles
pensam que são o SCORPIONS e eles não são o SCORPIONS. TDS: Sobre a cena atual, como
vocês veem esse lance de todo mundo voltar a cantar em português, como nos anos
80, pois, nos 90, todo mundo queria cantar em inglês e ir pra Europa, agora
ninguém mais fala sobre isso, tem uma avalanche de bandas novas boas que cantam
em português, temos CARRO BOMBA, BARANGA, TOMADA, COMANDO NUCLEAR, SELVAGERIA
entre tantas outras... CL: Eu sempre falei isso, vejam
os antigos festivais Hollywood Rock pra dar um exemplo, SKID ROW e EXTREME com
abertura do BARÃO VERMELHO, o estádio inteiro cantou BARÃO VERMELHO na época, o
EXTREME o pessoal conhecia uma música e o SKID ROW foi um puta show estranho,
inaudível. Conclusão, se saiu bem a banda que canta na língua-mãe, por isso que
a gente sempre lutou pela nossa língua. O motivo das bandas voltarem a cantar
em português é porque realmente a cena está ficando forte e eu mando um abraço
forte pra todas essas novas bandas que são fãs mesmo do trabalho desenvolvido
nos anos 80, respeitam muito a gente. E a gente respeita eles também, pois precisa haver um respeito mútuo
entre os músicos senão a gente não vai pra lugar nenhum. Agora o pênalti
final vai ser o “Brasil Heavy Metal” ai vai explodir de vez. Pois o produtor, o
Michaelis que é um produtor renomado, até samba ele já produziu, gastou mais de
R$300.000,00 pra fazer acontecer esse documentário, pelo Metal Nacional e pela
memória do irmão dele Julio que era vocalista do SANTUÁRIO onde o Micka era o
guitarrista, ele só quer honrar o lado Banger dele entende? Até uma pesquisa já
foi feita no nosso país, onde chegaram a constatar que adeptos do HEAVY METAL
no Brasil somos apenas meio milhão (500.000), mas esse meio milhão está dentro
dos 8 milhões de roqueiros que ouvem de tudo um pouco, mas que abraça a causa
mesmo é apenas meio milhão e eu digo, você quer ouvir funk, pagode, vai, mas me deixa ouvir meu HEAVY METAL em paz! A
gente não tem o respeito de terceiros. A gente não pode ir trabalhar cabeludo,
não pode ir pra lugar nenhum que a gente é o ‘bixo-de-outro-mundo’ enquanto tem
um monte de funkeiro e pagodeiro que é traficante, sequestrador, até deputado e
a gente ainda se passa por bandido nesse país. Há, tenha dó!
TDS: Me lembro de você ter dito
isso na Virada Cultural e é verdade. A gente só toma porrada da sociedade dita
civilizada. Pra eles nós ouvimos o tipo de música errada, a gente se veste
errado, tem o corte de cabelo errado, segundo os padrões deles lá, do que é
aceitável e permitido, mas isso é provinciano demais. Pois o HEAVY METAL é uma
cultura mundial, você vai na Indonésia, no Chile, na Tailândia, em todo canto
do mundo há Headbangers da mesma forma que há no Canadá, Inglaterra, EUA e
tirando as ditaduras, em todos esses lugares os Headbangers são respeitados,
menos aqui que tem essa birra contra nosso cabelo, nossas roupas.
CL: É ai que entra o Metal cantado em Português, que se faz ser entendido
melhor por todos, para as pessoas verem que nós não somos bixos-do-mato e sim
até muito bem educados e alguns estudados. Você não vê um Headbanger
analfabeto, pode procurar.
M: Vai ter gravação de algum DVD de comemoração dos 25 anos de “Beijo
Fatal” esse ano?
CL: Teria uma gravação, que contaria a história da banda, com
convidados, mas o “Brasil Heavy Metal” não quer nada que ofusque o seu
lançamento então decidimos fazer isso no ano que vem, então será uma
comemoração de 26 anos! (risos) MARCOS CESAR (colaborador do Rock
On Stage): Cara eu vi o show do U.D.O. e o de vocês na abertura, naquele dia
parece que vocês engoliram o show do U.D.O., a plateia cantou tudo, foi
incrível!
CL: Sim, de todos os shows que fizemos de abertura pra bandas gringas o
de abertura pro U.D.O. foi o melhor, o do TWISTED SISTER também foi bom pra
caralho, mas é engraçado o que acontece com a gente, tem muita gente que não
admite que gosta do SALÁRIO MÍNIMO, mas quando as luzes se apagam canta todas
as músicas, é impressionante. Recentemente nós tocamos com o VULCANO e o
pessoal da banda, todos compraram nosso novo disco “Simplesmente Rock”
especificamente por causa de uma música, ‘Sofrer’ e eles tocam um som podreira
pra caralho, é muito legal isso! MC: Tem algo mais que vocês
gostaria de falar pro seu público? CL: Eu quero agradecer muito a
força dos fãs e de vocês da imprensa especializada, vocês são a soma disso
tudo, são muito importantes pra gente, pra cena como um todo. O que vocês
precisarem da gente estamos ai, porque o Brasil passou por uma grande baixa nos
anos 90 onde só existia uma única revista e até os dias de hoje, sobraram
poucas revistas que trabalham na cena, sobrou uma única rádio que só toca
música em inglês dos anos 70, não toca nada de novo, não ajuda em nada na cena.
Nos já gastamos dinheiro 4 vezes lá nos shows
com as bandas gringas que fizemos que eu já citei e os caras não tocavam
nossas músicas, quando tocavam eram os nossos amigos que trabalham lá que
tocavam de madrugada porque se tocar de dia perigas perder o emprego. Existiu
um momento em que umas 2 revistas manipulavam todo mundo, uma rádio manipulava
todo mundo e isso foi quebrado com a internet e foi onde vocês entraram pra
ganhar seu espaço, sua grana, as bandas começaram a ganhar seu ganha-pão. Esses
caras de algumas casas, rádios e revistas não querem que isso se expanda para
eles não perderem seu ganha pão.
 TDS: Isso era um ponto onde eu queria chegar,
o tratamento que as bandas recebem nesse país. Todas as bandas que fazem um
trabalho descente, material autoral, bem feito são prejudicadas por esses ditos
contratantes que insistem em pagar as bandas com cerveja ou fazer a banda tocar
por bilheteria, isso é algo que me incomoda pra caramba. Cadê o respeito com os
artistas?
CL: Isso começou com o cover que antes tocava por uma caixa de cerveja,
hoje tem banda cover que ganha bem mais grana que a gente e também é uma
cultura das bandas de pagode que tocam por cerveja e goró. É cara que nunca vai
ser nada. A gente não toca por cerveja. Teve uma banda em Guarulhos que tocou
com a gente que me perguntou: ‘Como que a gente faz pra negociar cachê? Os
caras não querem pagar nada!’ Eu disse a eles, se for interessante pra vocês,
vocês vão, se não for, fica na tua casa, não vai ter nada a perder. TDS: Esse lance é uma coisa que a
gente vê muito aqui e sei que já se expandiu pra Capital também, o tal Cover. O
Cover tá sendo tratado como artista principal. Essa tal Rádio que nós citamos
mesmo fez isso recentemente: “Aniversário da Rádio Tal apresenta: 5 bandas
covers de tudo quanto é parte do mundo!” Eu não vou pagar pra ver uma banda
cover do QUEEN da Argentina ou uma que faz cover do PINK FLOYD que veio lá da
Austrália se tem tanta banda magnífica aqui no nosso país que faz trabalho
autoral.
CL: Quer saber de uma fofoca? Esse evento ai que você está citando seria
na sexta, véspera do Festival de Embu-Guaçú onde nós tocamos. Uma semana antes
começariam as chamadas no ar do Festival, já pagas, os caras reenviaram o
dinheiro pra produção só pra não rolar as propagandas do Embu-Guaçú Rock Fest
pra não ofuscar a festa de Covers deles. TDS: É, mas a gente vê aqui gente
pagando R$150,00 pra ver banda cover do exterior e não paga R$20,00 pra ver um
festival como esse daqui de Pinhal com 12 bandas das quais 11 tem material
próprio, é uma vergonha!
CL: E as bandas internacionais também tomam muito nosso espaço. O cara
fica o ano inteiro juntando grana pra ver a banda internacional e não comparece
nos eventos do lado da casa dele às vezes. TDS: Mas isso também não é
reflexo dos tempos? Tá tudo muito fácil na internet , que era pra ser uma
ferramenta de divulgação onde o cara poderia buscar novidades e não, ele
insiste em buscar os clássicos de sempre, serve mais de ferramenta de
‘emburrecimento em massa’.

DB: A internet é uma puta forma de você chegar ao público, mas se o cara
é preguiçoso, ele não sai de casa nem pra ver cover mais, acha mais cômodo,
baixar o show e ficar em casa vendo pelo Youtube, ouvindo o som em casa,
batendo punheta em casa. Nem pra pegar puta o cara sai mais de casa! (risos) A
informação chega até ele, então não emburrece ninguém, o difícil é tirar esse
cara de casa. Quer baixar o disco do SALÁRIO tudo bem! Não temos restrições
quanto a isso não. Se você põe um evento no Facebook, 300 ou 400 confirmam a
presença, mas no dia do show, só aparecem 30 ou 40 daquelas do Facebook, o
restante é gente que acompanha a banda, viu a panfletagem, o cartaz, a
divulgação na rádio entende? Esses que vivem o mundo real, o cara que fica na
internet vai uns 30 ou 40 sei lá. Eles não saem de casa. TDS: Isso não desanima um pouco?
CL: A gente se reúne os 5 de vez em quando e bate um papo daí a gente
percebe que um ‘balança’, ai a gente fala: “Tú pesca? Não. Tú Joga Bola? Mal
pra caralho! Você faz trilha? Não. Pula de Para-Quedas? Não. Então cara, vamos
tocar ROCK AND ROLL!” "Entrevista
realizada em parceria com Rock on Stage (www.rockonstage.org). Fotos by Marcos
Cesar e Fernando Jr."
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