No final dos anos 80, com a efervescência do Heavy Metal no Brasil todo, o RJ foi o cenário para o primeiro supergrupo (junção de vários músicos conhecidos numa banda só) do Metal nacional. Pelo nome de X-RATED esse time atendia, time esse que era composto por Andre Chamon (baterista ex-STRESS), Mark DB (Marcos Dantas, guitarra ex-AZUL LIMÃO), Lucky Lizard (ex-vocal da METALMANIA) e Bruno Schubnel (baixo).
Lançaram 2 excelentes discos, o primeiro inclusive esta sendo relançado agora pelo selo carioca Urubuz Records e impulsionando a banda com essa line-up pelos palcos afora.
Conversei com Andre e Marcos sobre toda a trajetória da banda desde 1989 até o dia presente e você confere tudo agora aqui na Toca do Shark.
1990 - Mark (g), Lucky (v), Andre (bt) e Bruno (bx) |
TOCA DO SHARK: Como a banda foi montada no final dos anos
80?
MARCOS DANTAS: Toquei com André na última formação do
AZUL LIMÃO e com o fim do AZUL LIMÃO decidimos montar uma nova banda com
repertório em inglês.
ANDRE CHAMON: Em 1987, depois que o Bala
(vocal do STRESS) voltou para Belém e o Rodrigo (vocal do AZUL LIMÃO) viajou
para a Espanha, eu e o Marcos Dantas ficamos sem bandas. Em 1988, formamos a
banda FLÓRIDA com o baixista Alex Bressan (que tocou com o STRESS, antes de
suspender suas atividades) e o vocal Décio (ex-EROS), mas, não foi adiante.
No
início de 1989, eu e o Alex nos unimos ao Luciano (ex-METALMANIA) e ao saudoso
guitarrista Clóvis Mourad e formamos uma banda batizada de MAMUTTI por ninguém
menos que Arnaldo Baptista (ex-MUTANTES). Também não vingou.
No
mesmo ano, eu e o Marcos resolvemos apostar em uma nova formação do AZUL LIMÃO,
que, além de nós, contava com o Tavinho Godoy (vocal do METALMORPHOSE, que
também estava parado) e o Augusto Schur no baixo. Chegamos a fazer shows no Rio
de Janeiro e em São Paulo com esta formação. Mas, sentimos que o público estava
acostumado demais com o Rodrigo no vocal e desistimos da ideia.
AZUL LIMÃO (1989): Augusto Schur (baixo), Tavinho Godoy (voz), Andre (bt) e Marcos (gt) |
Passamos,
então a procurar músicos para formar uma nova banda, com um estilo diferente. O
Hard estava em alta com o GUNS’N’ROSES no topo das paradas. Naquela época, as
bandas nacionais começavam a compor em inglês, visando o mercado internacional.
Neste
cenário, o vocal rasgado e o inglês fluente do Luciano tornava-o a pessoa ideal
para o nosso projeto. Além disso, o fato de ter tocado com o Robertinho do
Recife no METALMANIA, fazia da banda uma união de músicos já conhecidos do Metal
Nacional.
Para
completar o time, o Luciano nos apresentou o baixista Bruno Shubnel, que tinha
o talento e o visual que estávamos procurando. Todos de cabelos compridos,
usando jeans, jaquetas e bandanas, além da maquiagem bem no estilo Hard do
final dos anos 80.
Só faltava escolher um nome pra banda. Lendo
uma reportagem na revista Playboy,
encontrei o termo “X-Rated”, que era
usado como advertência de conteúdo pornográfico, e achei um nome interessante
para uma banda de Hard Rock, estilo frequentemente associado à sexualidade. Os
outros membros acharam o nome legal e concordaram em batizar a banda com ele.
Como almejávamos o mercado internacional,
mudamos os nomes artísticos do Marcos e do Luciano para Mark DB e Lucky Lizard.
Cheguei a pensar em mudar o meu para Andy Chamon, mas, mudei de ideia e achei
melhor continuar como Andre mesmo, só tirando o acento.
FLÓRIDA - 1988 |
T.S.: No idos de 1991 vocês quase conseguiram tocar no
segundo Rock in Rio através daquele concurso chamado ‘Escalada do Rock’, mas parece que não conseguiram por coisa de
meio ponto, dando assim o lugar para a cantora gaúcha LAURA FINOCCHIARO,
conte-nos mais sobre o ocorrido na época?
MD: Muito estranho. Achávamos que
estávamos prontos para o Rock in Rio.
AC: Este é um assunto delicado. Correu um boato que o
concurso serviria para legitimar a participação do VID & SANGUE AZUL e da LAURA
FINOCCHIARO no Rock in Rio II.
A produção estava
certa de que eles receberiam a maioria dos votos. Acontece que o X-RATED acabou
surpreendendo e sendo classificado. A solução foi nos tirar meio ponto. A imprensa
ficou a nosso favor e nos comparou com a Martha Rocha, que perdeu o título de
miss universo por duas polegadas a mais nos quadris.
T.S.: Mesmo
assim, na mesma época vocês conseguiram um contrato com a Phillips/Polygram
para lançarem o segundo disco “Animal House”, o que foi um grande feito, mas,
como era de praxe na época, as vendas foram baixas devido aos erros de
distribuição da própria gravadora, que não sabia trabalhar uma banda de Hard
Rock, disponibilizando horrores de cópias para grandes magazines e deixando as
lojas especializadas no ramo sem o disco de vocês. Há quem diga que era
impossível achar discos da banda, por exemplo, na Galeria do Rock em SP, o
maior centro especializado em som pesado da América Latina. Era isso mesmo?
MD: Não
soubemos como se dava o processo de distribuição. O legal é que foi fabricado
em LP (vinil), Fita K7 e CD. De fato a propaganda da gravadora (na época
Polygram) era orientada para o grande publico e deixava de lado as lojas
especializadas e isto nos incomodava. Mas não tínhamos controle sobre isto. Como
não fomos sucesso na rádio FM, a gravadora não investiu mais na banda.
AC:
Apesar de o X-RATED haver sido limado do Rock in Rio II, o Mayrton Bahia, que
era o diretor artístico da Polygram e foi um dos jurados a votar em nós,
resolveu contratar a banda para lançar um disco por esta multinacional.
Gravamos no estúdio da própria Polygram e os
técnicos de som ficavam surpresos quando viam o Mayrton nos visitar no estúdio,
o que não era um fato comum. Numa dessas visitas ele nos apresentou a Cássia
Eller, uma artista ainda desconhecida que ele tinha acabado de contratar.
Tivemos os melhores equipamentos à nossa
disposição, mas, também enfrentamos alguns problemas. No meio da gravação,
faleceu um familiar do produtor artístico, o português Paulo Junqueiro. Ele
teve que viajar para Portugal e tivemos que continuar a gravação sozinhos.
Uma curiosidade: minha filha nasceu durante
as gravações. Ela tem a mesma idade do álbum “Animal House”.
Tentamos convencer o Mayrton a fazer um
trabalho de divulgação na mídia especializada, mas era difícil falar com ele.
Às vezes tínhamos que ficar de tocaia, para conseguir uma reunião.
Quanto
à distribuição, acredito que o CD era oferecido para as mesmas lojas que
compravam os outros lançamentos da gravadora. Com a falta de direcionamento na
divulgação e distribuição, o álbum “Animal House” não foi devidamente
trabalhado nas publicações e lojas do ramo.
Foto para divulgação do "Animal House" |
T.S.: André, certa vez você me contou que a banda se
apresentava com certa periodicidade nos programas da TV aberta brasileira,
entre eles um programa de auditório da Angélica, ainda na TV Manchete (o qual
se encontram algumas partes no Youtube) e devido a isso, tem várias histórias
insólitas, conte algumas aqui pros fãs mais novos?
AC: O X-Rated se apresentou em alguns programas de TV para
lançar o LP e o CD “Animal House”. O setor de divulgação da Polygram agendava
as gravações e nos levava até as emissoras. Não tínhamos trabalho nenhum, era
só chegar e tocar. Bons tempos aqueles!
O programa em que
mais tocamos foi o Milk Shake da TV
Manchete, apresentado pela Angélica. Apresentamos duas músicas: ‘Realize It’ e ‘Across
de Rush’. Era incrível como a banda animava a plateia, mesmo cantando em inglês
e fazia todo mundo dançar Hard Rock, inclusive a Angélica.
Antes da nossa
apresentação, eram sempre exibidas esquetes protagonizadas pela Angélica,
encenando pequenas estórias que tinham a ver com o nome da banda.
Uma curiosidade:
nas primeiras apresentações, a Angélica não conseguia pronunciar a palavra X-Rated (que é complicada mesmo) e pedia
para o Luciano (Lucky) ensiná-la.
Em um dos
programas, ela fez aquela brincadeira do "telefone sem fio", falando "X-Rated" no ouvido da
primeira criança da fila, para que ela repetisse no ouvido da seguinte até
chegar à última. Quando a última criança da fila teve que falar o nome da banda
em voz alta, foi muito engraçado: ninguém entendeu nada.
Circo Voador - RJ 1991 |
(Algumas destas apresentações podem ser
vistas no YouTube, clicando nos links a seguir:
T.S.: A banda teve outras formações após 1994, certo?
MD: Sim. Na verdade a banda nunca acabou.
Quando Lucky e Bruno saíram colocamos Guto Dufrayer (vocal) e Arthur Caria
(baixo) para substituí-los e depois Rod Eymael no lugar de Guto no vocal.
Depois entrou Marcio Chicralla no lugar de Arthur no baixo. Marcio Chicralla
tinha sido o primeiro baixista do X-RATED antes do Bruno.
"Daresafesexdisorder" 1994 |
"Untold Story (1993-1994)" - 2000 |
T.S.: O que fez a banda parar nos idos dos anos 90?
MD: A banda não parou. Ficou fazendo shows
tocando cover misturado com poucas músicas da banda no set list durante muito
tempo com Rodrigo Cotia (vocal) e Marcio Luiz (baixo)
T.S.: Vocês tem conhecimento duma banda de Pop japonesa
que se chama X-RATED?
MD: Sim. Nosso nome é registrado e somos
anteriores, então não há problema com isto. Há outras bandas no mundo que
utilizam este nome.
T.S.: Recentemente o primeiro play voltou às vendas com o
relançamento de luxo feito pela Urubuz Records e a banda está de volta à
estrada, a formação é a mesma? Há a possibilidade de sair em CD também o
“Animal House”?
MD: Sim. A formação é a clássica,
original. Faremos shows de lançamento inicialmente no Rio de Janeiro e em São
Paulo. Posteriormente pretendemos relançar o “Animal House” dependendo da
repercussão do “Shaking...”.
T.S.: Como surgiu a oportunidade de vocês regravarem
‘Back in the U.S.S.R.’ dos BEATLES no primeiro disco?
MD: De fato não foi uma gravação para o
primeiro disco. Foi uma gravação que utilizamos para concorrer ao Rock n Rio
II. Ficou inédita este tempo todo. Resolvemos colocá-la de bônus no CD.
Lucky Lizard (voz) |
Mark DB (guitarra) |
Bruno Schubnel (baixo) |
Andre Chamon (bateria) |
T.S.: O que impulsionou o retorno da banda aos palcos?
MD: Vontade de tocar.
T.S.: Como vocês estão vendo a cena atual, principalmente
com a valorização e reconhecimento dos pioneiros e o retorno de vários deles à
ativa, exemplo amplamente visto no evento Super
Peso Brasil em novembro passado em SP?
MD: É um sentimento muito bom... de que
tudo aquilo que vivemos no passado valeu a pena!!!
T.S.: Agora, sem mais delongas, o espaço é todo reservado
ao que vocês queiram falar:
MD: A vida é curta! Aproveitem!!
AC: Gostaria de lembrar um evento importante
na carreira do X-RATED: a abertura do show do FAITH NO MORE no Maracanãzinho,
em 1991.
Tocamos
para mais de dez mil pessoas e fizemos um clipe com cenas ao vivo da música ‘Across
the Rush’, que entrou na programação da MTV e outro da música ‘Kill Big Brother’.
Para
assistir a estes clipes é só clicar nos seguintes links do YouTube:
Além
de nós, este show teve a abertura de uma banda do Robby Rosa
(ex-Menudo), que foi muito hostilizado durante a sua apresentação.
Show de abertura pro FAITH NO MORE (1991) |
Ocorreu um fato lamentável, que não foi
divulgado na época. Na nossa passagem de som, quando ligamos a iluminação que
havia sido alugada para o X-RATED, os roadies do FAITH NO MORE entraram
chutando os spots e disseram que não poderíamos usá-los. Foi preciso a nossa
empresária (que estava produzindo o evento) interceder e ameaçar cancelar o
evento, caso não utilizássemos o equipamento de luz. A produção da banda
headliner então teve que voltar atrás e dividir os holofotes conosco.
BANDA:
X-RATED
DISCO:
“Shaking Like a Bad Machine”
ANO: 1990
SELO:
Urubuz Records
FAIXAS:
1. Striptease Boogie
2. Blue Heart
3. Evil Generation
4. Down in My Shelter
5. I Wanna Beer
6. King of the Hill
7. Have You Heard the News?
8. Face the Dog
9. Cocktail Whale Crime
10. In a Bad Mood
11. Back in the USSR*
12. Striptease Boogie (demo)
13. Blue Heart (demo)
14. Realize It (demo)
E a banda carioca de
Hard Rock pesado e sujo dos anos 90 X-RATED está de volta em evidência!
No começo dos anos
90 ela fez um enorme barulho na cena apresentando um som ‘tipo exportação’ de
primeira, com músicos tarimbados de extremo talento e currículos invejáveis que
passavam por bandas como STRESS, AZUL LIMÃO e METALMANIA.
Em 1990 lançaram
este, que foi o primeiro disco pelo selo Heavy trazendo um Hardão foda à lá MÖTLEY
CRUE, GUNS’N’ROSES (dos primeiros discos), RATT entre outros, com a inigualável
voz de banshee de Lucky Lizard (ex- METALMANIA de Robertinho do Recife) e o
instrumental digno de qualquer festa de Rock Pesado a banda por muito pouco não
pisou no palco do Rock in Rio II no ano seguinte.
Sonoridade rápida e
cortante a banda apresenta na faixa de abertura ‘Striptease Boogie’, ‘I Wanna
Beer’, ‘In a Bad Moon’ entre outras. A cadência na dose certa surge em músicas
como ‘Blue Heart’ e ‘Evil Generation’ que ainda explicita todo o talento da
dupla de cordas Bruno Schubnel (baixo) e Mark D.B. (Marcos Dantas
ex-guitarrista do AZUL LIMÃO e atual METALMORPHOSE). O Metal aparece em ‘Down
in my Shelter’ e Lucky judia da garganta em ‘I Wanna Beer’, mas, aposto que a
cerva dava um jeito nela depois desse som rolar.
Não há como destacar
faixas e esconder outras, o disco é bem coeso, balanceado e recheado com o
talento dos 4, incluindo aí o baterista Andre Chamon, um dos pioneiros do Metal
brasileiro, sendo fundador da lendária STRESS de Belém do Pará.
Para nossa alegria a
gravadora carioca Urubuz Records nos presenteou com o relançamento deste
primeiro registro da banda acrescido de um belo encarte e mais 3 faixas demo
como bônus, incluindo aí ‘Realize It’ que viria no ano seguinte no segundo
disco “Animal House”, outro disco obrigatório aos fãs de Hard Brasuca.
Algum conteúdo de video ou foto com Clovis mourad? Ele foi meu mestre de guitarra...
ResponderExcluir