terça-feira, 19 de julho de 2016

MONSTERS OF ROCK III – 20 Anos depois, a visão de um garoto que viveu aquele dia!


  Na primeira metade na década de 90, a maior ambição de um Headbanger brasileiro era ir a São Paulo viver todas as emoções que o festival “Phillips Monsters of Rock” poderia lhe proporcionar, afinal, o “Monsters of Rock” era, na época o maior festival de Rock Pesado do mundo há mais de uma década, lá fora, é claro.
  Acontecendo periodicamente desde 1980 na Inglaterra, o mega festival aconteceu esporadicamente também em outros países, mas todos bem longe daqui e quando foi anunciado que teríamos uma edição patrocinada pela Phillips em 1994 com KISS, BLACK SABBATH e SLAYER, todo mundo caiu de joelhos, principalmente quando essa edição realmente foi concretizada trazendo ainda o SUICIDAL TENDENCIES e mais quatro bandas brasileiras, a já veterana à época VIPER e mais três novatas na cena, o ANGRA (do ex-vocalista do VIPER), o DR. SIN (que trazia dois ex-integrantes do TAFFO e o ex-guitarrista da CHAVE DO SOL) e os realmente novatos RAIMUNDOS, foi uma puta celebração do som pesado televisionados por algumas emissoras de TV abertas e fechadas com várias matérias e entrevistas em programas de TV, rádio e inúmeros jornais e revistas noticiaram e cobriram tal evento.
  No ano seguinte anunciaram uma nova edição, agora encabeçada por OZZY e ALICE COOPER, trazendo ainda MEGADETH, FAITH NO MORE, THERAPY, PARADISE LOST, CLAWFINGER, os argentinos do RATA BLANCA e os brasileiros do VIRNA LISI. Mais uma vez grande frenesi foi montado em volta do evento por parte da mídia especializada e não-especializada também, ótimo, finalmente o Brasil tinha o seu “Monsters of Rock” e agora era só esperar pelas novidades de peso de 96.
  Da minha parte, adolescente cabeludo, fanático pelo Hard’n’Heavy vigente sofri muito por perder minha banda predileta em 94, o KISS, sofri demais em 95 por perder ‘a tia’ ALICE e o OZZY afinal eu não tinha grana nem autonomia pra ir, mas em 1996 comecei o ano arrumando um emprego logo em janeiro como office-boy e a minha meta daquele ano era estar presente na nova edição do “Monsters”, fosse quem fosse e eis que lá pelos primeiros meses do ano a nossa Rock Brigade já noticiava que a terceira edição traria grandes nomes como MOTÖRHEAD, espanhola HEROES DEL SILENCIO e uma banda nova à época, o BIOHAZARD, em seguida outros nomes foram aparecendo, entre eles os que realmente viriam, SKID ROW, RAIMUNDOS (de novo?) e finalmente no Brasil pela primeira vez MERCYFUL FATE, pois é, fazia pouco tempo que King Diamond tinha voltado com a banda reformulada e lançado o disco “Time” em 94 e estava lançando naquele ano o grande “Into the Unknown”, mas o que ninguém esperava era ver dois shows com King nesse festival e foi o que rolou, dobradinha inédita no mundo todo e única, ele traria sua banda solo também pra tocar em seguida, ou seja MERCYFUL FATE abrindo e KING DIAMOND em seguida com pouco mais de tempo de palco e promovendo o disco “The Graveyard” que também saiu naquele 1996.
Anos 90 - os 4 primeiros capítulos dessa história.
  Pra completar o time só faltava um headliner de peso e esse nome não poderia ser maior, IRON MAIDEN, pois é, vindo finalmente apresentar seu novo vocalista Blaze Bayley, além da banda alemã HELLOWEEN como openning-act.
  E como eu faria pra ir nessa festa? Eu era só um adolescente cabeludo que contrariava seus pais com aquele som maligno, suas roupas pretas e eles não podiam fazer muito, afinal eu já trabalhava e não pegava grana com eles pra bancar meus caprichos, mas jamais minha mãe aceitaria eu sozinho num mega-festival na capital paulista por mais de 24 horas, pois então, arrumei dois camaradas da escola e forjamos uma história de que iríamos de excursão pra ela ficar menos preocupada, uma baita mentira, porque o role começou na sexta à noite, fomos de busão mesmo pra Sampa e lá a gente se virou pra chegar ao Pacaembu, era nosso sonho mais extremo de adolescência se tornando realidade, mal sabíamos que aquele sonho se tornaria um hábito que levaríamos pra vida toda, felizmente, hehehehe....
  Era sábado, dia 24 de Agosto de 1996, umas 8 da manhã quando chegamos à famosa Praça Charles Miller, e aquilo já tava forrado por uma legião de roupas pretas e cabelos cumpridos, pronto, estávamos finalmente no nosso habitat natural, depois de anos amargando olhares tortos e preconceitos na nossa pequena cidade do interior paulista, aquilo era o HELL, porque paraíso pra nós não era uma opção.
  Logo meus camaradas já foram se preocupando em como ‘moquiar o bagulho’ que traziam consigo, não era o meu caso, eu nunca fui de ‘malocar bagana’ de ninguém, nem de usar, minha droga sempre foi o Metal (parafraseando o METALMORPHOSE) então, só queria entrar logo naquele estádio gigante de futebol pra ver um espetáculo maior que começaria lá pelas 11hs da manhã com a abertura dos portões (ficamos sem os ingressos que os despreparados seguranças confiscaram na entrada, nem canhoto nos devolveram...) e 13hs com o primeiro show, mas à essas horas já estávamos lá nas arquibancadas do estádio, sim, arquibancadas, éramos meio duros de grana né, compramos os ingressos mais baratos só pra estar lá e estávamos, vendo a estranha banda de abertura, a espanhola HEROES DEL SILENCIO com seu vocalista à lá Jim Morrison e um som que, definitivamente, não agradou quase ninguém dos quase 50.000 bangers que estavam morrendo debaixo daquele sol lascado que também fez penar King Diamond que entraria no palco por volta das 14hs todo aparatado e maquiado com o MERCYFUL FATE, vê se pode, deu um puta show começando com ‘Evil’ e terminando o curto set com ‘Come to the Sabbath’ pra voltar logo em seguida  com a KING DIAMOND BAND, foi só o tempo de trocar a já derretida e borrada maquiagem que escorria devido ao calor tropical, outro puta show se seguiu com mais cinco hinos, de ‘Welcome Home’ à ‘Abigail’, deixando todos de cara com as performances seguidas e com os instrumentistas que o acompanharam nessa jornada dupla, e a mídia só se preocupou em noticiar o fato dele usar um fêmur humano como pedestal de microfone, veja tudo no santo (ou profano) Youtube em https://www.youtube.com/watch?v=jhJ2bgViAwY
KING DIAMOND/ MERCYFUL FATE reinando sob o sol dos trópicos.
  Uma das bandas mais esperadas dessa edição era a alemã HELLOWEEN, veterana na cena, tinha um fã clube gigante no Brasil e que marcou presença em sua totalidade com uma bandeira imensa da famosa ‘abobrinha’ (a vantagem de se estar na arquibancada era justamente essa, se via tudo lá de cima). O HELLOWEEN à época excursionava abrindo a tour do IRON MAIDEN divulgando o disco “The Time of the Oath” e há quem diga que eles pagaram muita grana pra estar nesse festival que os dimensionariam aqui no Brasil de uma forma sem igual, começaram o show com a nova ‘We Burn’ do disco em questão e fizeram uma típica festa Happy Happy Helloween por aqui, a primeira de várias que seguiram nos anos seguintes... eu fui um dos capturados por essa banda que só conhecia de nome, o máximo que eu tinha ouvido deles foi uma fita K7 que um dos meus camaradas que me acompanharam nessa viagem me emprestou, nessa tal fita tinha gravado o ao vivo “Live in U.K.” de 1989 ainda com Kiske nos vocais e o que vimos aqui foi o ainda novo vocalista Andi Deris, aliás a nova formação com os também novos Uli Kusch na bateria e Roland Grapow na guitarra à um pouco mais de tempo ali acompanhando os fundadores Michael Weikath e o baixista Marcus Groskopf. Realmente foi um grande show e tem uns pedaços soltos no Youtube porcamente gravado por alguém (https://www.youtube.com/watch?v=ZqFeB_9URrI ).
Andi Deris debutando em solo brasileiro em grande estilo
  O que viria a seguir era peso e o clima oitentista daria lugar à sonoridade atual dos 90, os RAIMUNDOS entravam em palco com o jogo ganho, banda sensação daquela década, a galera mais nova idolatrava e os bangers mais velhos respeitavam bem até, era bem caótico o show deles. Uma das cenas mais marcantes pra mim foi quando a banda entrou no palco, subiu uma cortina de fumaça naquele estádio, era marijuana demais sendo queimada ao mesmo tempo, muita mesmo vocês não tem noção, só quem viu mesmo e ainda consegue lembrar pra te falar, outra coisa era a barreira de contensão que separava a arquibancada do gramado, lá de cima eu via bem, um cordão de PM’s encostados no paredão de lata do lado do gramado e a galera lá de baixo da arquibancada se preparando pra empurrar aquele paredão e invadir a pista livre, foi um golpe só e esmagaram os PM’s do outro lado e da metade pra baixo, todo mundo das arquibancadas desceram quase que rolando pra invadir o gramado, eu pensei em ir, mas eu tava beeeeem lá em cima e não daria tempo, ia dar de cara com os gambé dando borrachada em todo mundo, sem chance, mas que foi divertido ver o ‘rodeio de cabeludos’ dando ‘olé nos gambé’ lá em baixo, ah isso foi um show à parte. Outra cena pitoresca no show dos RAIMUNDOS foi a rapadura que arremessaram no palco durante o show, de lá pelos binóculos que eu comprei lá dentro d’um ambulante eu achava que era um tijolo de erva até que o Rodolfo no final da música agradeceu o sujeito que mandou ‘uma rapadura voadora’ no palco ou seja, um puta show daquela banda de moleques fumeiros, rendeu várias histórias pra quem viveu!
Cartaz oficial que comprei lá nas barraquinhas de merchandise oficial.
Depois de muitos anos nas paredes do meu quarto, foi o que sobrou!

  Seguindo o mesmo clima 90’s veio o BIOHAZARD com sua sonoridade atual e mega-pesada vieram com a faca nos dentes, mas eu não tenho a dizer sobre esse show à não ser que saí de role pois não era o tipo de som que eu ouvia na época (toma de brinde https://www.youtube.com/watch?v=tc6gV2Ep40U ), fui comprar um merchandising oficial, sim, peguei um cartaz e uma peita da atual tour do MAIDEN pois um camarada tinha pego uma do festival e eu não queria andar por lá com ele feito um par de vasos, era a turnê do “X Factor” então a peita era bem legal com o Eddie sendo torrado numa cadeira elétrica e os dizerem “Eu fui fritado na X Fac’n’tour”. Também aproveitei pra ir comprar uma água, mas à essas horas já de noite não existia dentro de estádio nada pra beber, a cerveja e o refrigerante tinham acabado faziam horas e água também, estavam tomando das torneiras do banheiro devido ao calor insuportável, algumas pessoas estavam dando dinheiro pra um vendedor ambulante de fora do estádio pela janela do banheiro masculino e ele passava por lá as garrafas d’água, os hot dogs eram pão seco com salsicha dura, e olhe lá, total descaso dessa parte.
Faixa de cabeça (muito usada nos anos 90) do festival.
  Eis que com o final do BIOHAZARD vi ‘um cara lisa’ de cabelo cumprido no telão e pensei que o show do SKID ROW iria começar quando de repente a barulheira começou, ERA O LEMMY PORRA! Mas como, de cara limpa, cadê o bigodão? Pois é ele tinha rapado tudo e tava começando naquele minuto o show do MOTÖRHEAD, corre pro lugar e borá bater cabeça como se não houvesse amanhã! Descrever o que Lemmy, Phill Campbell e Mikkey Dee são capazes de fazer é bobagem, todos sabemos, clássico atrás de clássico e uns sons do recente disco de 95 “Sacrifice” se sucederam com grande desenvoltura e atenção de todos presentes que usaram o show seguinte pra descansar ou se livrar de tudo que tinham nas mãos, sim estou falando do SKID ROW que foi o co-headliner desse festival e durou menos do que o esperado afinal, apesar de um show enérgico e pesado, a banda era hostilizada ao extremo por estar entre dois peso-pesados do Heavy mundial no Brasil e o show ficou marcado como o último da formação clássica do SKID ROW, que demitiu Sebastian Bach no backstage daquele festival após o fiasco que foi a aceitação deles em palco, jogaram tudo que foi lixo na banda e o vocalista foi chamado de BICHA em coro do público que estava ali sedento por IRON MAIDEN, uma pena, pois, repito, foi um puta show enérgico, sem frescuras, enfim, Brasil desde sempre com seus machismos acima de tudo.(Veja mais no famoso Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=Wkim5SFJYHU )

 
Imagem aérea do começo da festa (imagem meramente ilustrativa da internet)

  Era madrugada e a galera morta, esgotada, cansada, mas era hora do IRON MAIDEN entrar em palco pra apresentar seu novo vocalista, e começaram com a nova ‘Man on the Edge’ que estralava nas rádios país afora, sim, tocavam uns sons pesados nas FM’s da época. Em ‘Heaven can Wait’, estranhamos a voz do cara? Claro, apesar de já conhecermos o disco “X Factor” e tals, a voz dele cantando e desafinando os clássicos foi bisonho, mas, quando nos dávamos conta de que quem estava ali de camisa da seleção brasileira empunhando o baixo e pé no retorno era o boss Stevão e que aquela banda era O IRON MAIDEN pensávamos ...foda-se se é a Maria Bethânia no vocal, esse é o MAIDEN!” Com alguns pares de clássicos intercalados por canções novas e um gás daqueles o IRON MAIDEN fechou alta madrugada aquela terceira edição do festival “Phillips Monsters of Rock” que não aconteceria no ano seguinte para nosso desespero e só voltaria em 1998 para sua última edição pelos próximos 15 anos até ressurgir no novo milênio em 2013, mas isso é papo pra daqui uns anos...
Ah o link pra você assistir o MAIDEN é esse aqui https://www.youtube.com/watch?v=jqLW5xZ72hw


A tal peita oficial da turnê do MAIDEN

(OS: A ausência de fotos dos shows nessa resenha é simples e direta, naqueles anos os smart-phones ainda não tinham sido inventados e nem celular a gente tinha bem dizendo e entrar em um show com máquina fotográfica escondida era uma tarefa árdua demais, além do quê gente nem queria tal responsabilidade, só queríamos mesmo era bater cabeça, ver as gatas e curtir a festa, bem diferente de hoje com tantos cinegrafistas de fim de semana nos atrapalhando com seus aparelhos mega-caros empunhados na nossa frente. As poucas fotos que ilustram aqui são do meu acervo pessoal e as ao vivo são de vídeos do Youtube mesmo rs....)


Um comentário:

  1. Que lembrança foda, valeu pelos videos...só havia conseguido os videos do King Diamond e do Mercy, agora baixei todos. Faltou citar ai aquela mina de Brasilia que passou pela revista da entrada com alguns produtos ilícitos por algum lugar pouco ortodoxo...lembra...kkk

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