sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

IRON MAIDEN & HELLOWEEN EM CAMPINAS – 20 ANOS DA TRAGÉDIA.



 
Propagando do show que rolou normalmente
em São Paulo no dia seguinte ao caos campineiro
  Dia 4 de dezembro de 1998, ou seja, há exatamente 20 anos a região de Campinas estaria entrando pra história do Heavy Metal no Brasil, mas pelos motivos errados...
  Quando anunciaram que o IRON MAIDEN (na fase Blaze Bayley, divulgando o disco “Virtual XI”) viria tocar em Campinas acompanhado do HELLOWEEN (lançando “Better Than Raw”) a nossa região simplesmente caiu de joelhos! Um sem-número de jovens, adolescentes e jovens senhores de cabelos grisalhos se uniram numa mesma causa e marcharam para Campinas (vindo de todas as partes do interior paulista e sul de Minas Gerais) naquela sexta-feira insuportavelmente quente em busca de realizar sonhos de ver seus ídolos de perto, muitos pela primeira vez, não era meu caso, pois já tinha visto as duas bandas juntas na terceira edição do festival Monsters of Rock de 1996 em Sampa (leia mais sobre: http://tocadoshark.blogspot.com/2016/07/monsters-of-rock-iii-20-anos-depois.html).
  Eu, saindo de Mogi Guaçu, enchi uma van com fãs ardorosos de Metal e chegando lá encontrei mais uma porrada de amigos da nossa cidade por lá, torrando naquele solão que em pouco tempo se converteu em nuvens negras e pesadíssimas (sem trocadilhos), sim, não menos que de repente uma tempestade daquelas dignas de páginas da Bíblia caiu sobre Campinas, fodendo literalmente com todo mundo que amargava horas (alguns há dias) naquela maldita fila do lado de fora do estádio de futebol do time campineiro Guarani, o “Brinco de Ouro da Princesa”, como é conhecido.
Antes da tempestade era tudo festa.

  Após horas e com a noite chegando, a turba de cerca de seis mil fãs começaram a forçar os portões quando a segurança do evento resolveu deixar todo mundo entrar, sem nem botar as mãos sobre nós em revistas ou para pegar os ingressos, sim, foi um verdadeiro estouro de boiada, eu fiquei com o ingresso no bolso de trás da minha calça e a água não parava de cair... (outros entregaram seus ingressos mais tarde)
  Quando avistei o palco falei pra um colega que estava comigo, o Luiz Cláudio: “...véio, o que é aquilo ali? Um palco de comício?” ao que ele me retrucou: “... não sei, mas vamos colar na grade, hahaha ...”
  GRADE? QUE GRADE?
  Juro, não tinha NADA que me impedisse de arrancar o tênis do Steve Harris assim que ele botasse o pé no retorno. Estávamos debruçados na beirada do palco e aquilo tava cheirando muuuuuito mal, outros amigos ali do lado estavam tão chumbados de goró que nem ligavam, mas eu tava ‘somando 1+1’ e notei que não haveria remota possibilidade de uma banda grande tocar naquelas condições. A única referência ao MAIDEN que ali estava era a ‘casinha’ de onde o EDDIE saía durante os shows, montada atrás dum kit de bateria sem vergonha de pequeno. E o HELLOWEEN? SIM, nós ali na frente vimos Markus Groskopf (baixista) espiando a platéia de dentro daquela casinha do EDDIE e ele ainda nos deu um tchauzinho daquele jeitão risonho dele. Eles (o HELLOWEEN) estavam ali no estádio, já Steve e Cia eu duvido muito. Há quem diga que eles estavam no helicóptero que sobrevoava o estádio, mas, enfim...

  Dizem que os portões foram fechados em mais duas mil pessoas ficaram lá fora e foram avisadas que não haveria mais o show devido à chuva e os estragos causados no palco, mas nós, lá dentro só fomos avisados mais umas horas adiante, por volta das 23 hs e à essa altura a galera já tava de saco cheio e arrancando os tapumes de madeirit que protegiam (?) o gramado e fazendo cabaninha pra se enfiarem debaixo, quando uma voz saiu do P.A. anunciando o ‘adiamento do show’ os fãs começaram a jogar aquilo tudo contra o palco. Eu e o Luiz Cláudio corremos pra barraca de merchandising do HELLOWEEN que estava montada no estádio, onde comprei minha camiseta quando entramos e a barraca tinha desaparecido, ele ainda me falou pra corrermos pra fora, pois a ‘chapa ia esquentar’. Nessa hora a Tropa de Choque da PM já tinha tomado o estádio, olhei pra trás e vi nego em cima do palco arrancando tudo que tinha de equipamento e lançando pra longe, pratos e ferragens da pequena e solitária bateria, caixas de retorno, tinha gente dependurada na fraca estrutura de iluminação arrancando os holofotes e mandando pro gramado... corremos pra portaria do estádio à fim de sairmos de lá com vida, mas um PM veio de frente e tentou me acertar com o cassetete, ao que eu dei muita sorte de desviar. Tentamos ir pra uma espécie de ‘globo de vidro’ parecido com um aquário pequeno que estava cheio de ingressos na entrada, e do nada surgiu um cara dando voadora naquilo, que cuspiu ingressos pro ar e pro chão ensopado. Nosso falecido amigo Marquinho e seu filho Roger cataram um monte daqueles ingressos.

  Como não conseguíamos sair do estádio e o risco aumentava, corremos arquibancada acima quando encontramos dois amigos mais novos que foram de carro com outro cara, o Polaco e o Marolo, os dois em seu primeiro show internacional, eles ainda eram menores de idade na ocasião. Chamamos eles e nos ilhamos lá no topo da arquibancada, longe da confusão e da polícia. De lá de cima, com visão privilegiada assistimos por cerca de meia hora ou mais a praça de guerra que o estádio tinha se tornado. Tiros de borracha e bombas de efeito moral estouravam feito pipoca, gente dando e levando porrada pra todo lado, sangue, muito sangue, muito suor e muita chuva! Quando o barulho diminuiu descemos e encontramos condições de sair do estádio. Ficamos olhando de longe, um quarteirão de distância, de uma esquina ao lado de uma boa meia-dúzia de motos da polícia, pois precisávamos achar os outros integrantes da nossa van para podermos voltar pra casa. De novo, do nada surge um doido com um cone de trânsito nas mãos e golpeia a primeira moto derrubando ela e desencadeando um efeito dominó, motos por cima de motos, retrovisores e pedaços diversos das carenagens voavam e a polícia vinha pra cima de novo. BORA CORRER OUTRA VEZ CARAIO!
  Quando resolvemos que era hora de ir pra van e parar de correr, encontramos quase todo mundo dentro da mesma nos esperando, QUASE TODO MUNDO, pois ainda faltavam uns 2 ou 3, não lembro, entre eles o Rafael (futuro vocalista do INSIGNIA) ao qual eu e o Cláudio voltamos pra procurar. “PUTA QUE PARIU, vamos ter que descer naquela desgraça de novo?” Pois é, daí já avistávamos uma catraca do estádio no meio da rua, que isso meu? Quem teria força pra isso? Hulk?

  Eis que, no dia seguinte, com todos nossos camaradas sãos e salvos de volta aos seus lares, estava eu acompanhando os noticiários, vi que devolveriam o dinheiro dos ingressos pra quem ainda o tivesse em sua posse. FALA SÉRIO? Eu tinha o que equivalia a 50% dele, o resto era farelo que ficou grudado no bolso de trás da minha calça com tanta chuva, mesmo assim eu ia pra Campinas pegar minha grana de volta. Resolvi ligar para alguns amigos que foram no show pra ver quem tinha ingresso, eu reuniria eles e pegava a grana pra todos, era só eles pagarem minhas passagens de ida e volta. Quando fui a casa do Marquinho ele veio com um saco com cerca de 50 ingressos ou mais (lembra que eu falei que o filho dele tinha recolhido uma porrada de ingressos pelo chão, quando estouraram a bola de vidro?). Ele me deu uns 6 daqueles e disse “...pode ficar com a grana desses pra você...”
  No primeiro dia marcado pra trocar os ingressos nas bilheterias do estádio eu fui, uma baita fila, muita polícia e sol, mas desta vez a imprensa tava em cima, carros da Globo e SBT regionais e outros jornais e rádios de plantão e muita gente que não conseguiu receber a grana dando entrevistas. Daquele saco de ingressos que levei, muitos foram descartados devido à situação deteriorada deles, inclusive o meu (que eu deveria ter guardado de lembrança), mas mesmo assim, voltei com uma bolada de grana no bolso.

  Antes de voltar pro Guaçu, passei numa espécie de livraria que tinha vários LP’s na vitrine e torrei minha parte toda em vinil (exceto o valor das passagens, óbvio). Comprei umas relíquias impecavelmente conservadas que tenho e adoro até hoje, entre eles um SCORPIONSTaken by Force” e dois QUIET RIOT, “Metal Health” e “Condition Critical”, ou seja, pra mim, que já tinha visto as bandas dois anos antes, o saldo desse caos todo foi positivo, pois voltei com uma pá de vinil debaixo do braço e muuuuuuuitas histórias pra contar e relembrar até hoje, vinte anos depois!
  Ah, sobre o produtor dessa tragédia, bem, parece que mataram ele 10 anos depois... enfim... essa é a vida.


Fotos de recortes de jornais regionais dos arquivos do Shark.
(Alexandre Wildshark)

5 comentários:

  1. Oii! Queria saber quem é o moço da foto sendo arrastado. Obrigada pelo post, super completo com fotos e matérias da época!

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    1. Olá, o nome dele é Gustavo Magnusson do jornal Correio Popular de Campinas.

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  2. Do meu site pessoal sobre rock: Iron Maiden – Virtual XI Tour
    Local: Brinco de Ouro da Princesa – Campinas – SP
    Data: 04/12/1998 (sexta-feira)
    Público: 12.000 pessoas
    Com Harris, Murray , Gers, Nicko e Blaze Bayley.

    Depois de Europa, América do Norte, Europa (novamente) passando pelo Reino Unido e depois Japão o Virtual XI Word Tour chegava finalmente à América do Sul e depois de se apresentar no Metropolitan no Rio de Janeiro iria se apresentar em Campinas, pela primeira vez um gigante do heavy metal iria se apresentar na cidade, tudo parecia que ia bem até que no final da tarde fortes chuvas começaram a castigar o público que se aglomerava em frente aos portões do Estádio, depois de muita pressão os portões foram abertos e alguns fãs nem entregaram os ingressos tamanho era o tumulto na entrada, nem o portão que dava acesso ao gramado estava aberto e a galera começou a escalar o fosso para chegar ao gramado, nessa escalada acabei perdendo um broche do Rock in Rio, chegando ao gramado ainda havia poucas pessoas, mas com a abertura dos outros portões o público aumentava rápido, como a chuva diminuía mas não cessava alguns caras usavam umas madeirites para fazer uma cabana e uma ponte improvisada sobre o fosso ligava o gramado com as arquibancadas cobertas, como o show não começava resolvi usar a ponte e esperar nas arquibancadas cobertas, chegando lá molhado com frio e com fome começaram a surgir rumores de que o show seria cancelado, logo depois alguns caras começaram a sair e pegar seus ingressos de volta, me apressei em sair e peguei um ingresso, logo depois os poucos caras que devolviam os ingressos foram cercados por fãs e o cara perdeu o controle da situação e enquanto alguns caras pegavam vários ingressos outros ficavam sem pegar nenhum, para complicar mais os ingressos eram tipo um fly e muitos estavam rasgados e desmanchando por causa da chuva, já fora do Estádio subindo a avenida Monte Castelo comecei a ouvir as bombas de efeito moral lançadas pelo Pelotão de Choque da PM que foi chamado para evacuar o Estádio, pensei em voltar mas acabei indo embora, só fiquei sabendo dos estragos no dia seguinte. Depois disseram que o show havia sido apenas adiado e que Iron Maiden voltaria depois dos shows em São Paulo, Curitiba, Santiago no Chile (onde o show foi cancelado devido a tensões políticas entre a Grã Bretanha e o Chile por causa da detenção de Pinochet no Reino Unido) e Buenos Aires na Argentina, mas depois por falta de data e local os organizadores oficiaram o cancelamento e começaram a devolver o dinheiro, filas enormes começaram a se formar, como eu estava de férias fui no 1.o dia de manhã e lá pela hora do almoço consegui reaver o dinheiro, justo na hora que as filas aumentaram muito pois muitos aproveitaram a hora do almoço no serviço para tentar reaver o dinheiro, as filas continuaram por mais dois dias, mais acho que muitas pessoas acabaram ficando no prejuízo.

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