Quando se é
adolescente Rocker, a gente só sonha
em ver os ídolos ao vivo, a maioria deles inatingíveis, mas, quando em 1995 anunciaram que o KISS original
estava reunido eu fiquei em êxtase, fã deles desde sua primeira passagem por
aqui em 1983 (sim, eu era criança, mas tinha irmãos mais velhos que me
doutrinaram na arte do Rock and Roll)
nunca imaginei que poderia ver o KISS ao vivo, ainda mais a formação original
que nunca tinha pisado por aqui. Mas até anunciarem oficialmente que viriam
tocar no Brasil foram mais três anos.
Me lembro que o
disco “Psycho Circus” tinha acabado
de ser lançado na gringa quando
anunciaram que a banda viria pro Brasil com a famosa ‘turnê em 3D’, mais do que depressa a
Mercury/Universal resolveu lançar “Psycho
Circus” por aqui como CD duplo (o
original de estúdio e um CD bônus ao
vivo), mas com a capa simples. Capa simples? Mas que catzo! O mundo inteiro abismado com o tal 3D desde a capa do CD até
as imagens da turnê e a gravadora lança com capinha simples no Brasil? Hum,
típico! Mas pelo menos eu já tinha o importado que comprei no ano anterior. Aliás lançaram um sem número de revistas e CD’s
piratas (bootlegs ao vivo de todas as
épocas) do KISS no mercado nacional, foi uma verdadeira KISS-mania, até as HQ’s
“Psycho Circus” saíram por aqui em três edições duplas, ou seja, seis
histórias, os bonecos da McFarlane Toys
chegaram às lojas de brinquedo daqui via Gulliver
(e até uns quatro anos depois ainda era possível de achá-los por uns R$50,00).
A MTV passando clipes direto, as FM’s
(que ainda tocavam Pop e Rock) tocaram algumas canções como as
antigas ‘Forever’ e ‘I Was Made for Loving You’ até as mais novas ‘We Are One’
etc...
Quando chegou o
dia 17 de Abril de 1999 a banda já tinha tocado em Porto Alegre/RS dois dias
antes e agora seria a vez do Autódromo de Interlagos em São Paulo/SP.
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Capas de apenas duas das dezenas de revistas que saíram sobre o KISS em 1999. |
Os jornais de
papel em bancas todos noticiando o show há dias, os telejornais falando direto,
a MTV no dia do show fez maratonas especiais, algumas rádios ditas Rock de São
Paulo fizeram 24 horas de KISS no ar, alguns carrinhos de lanche na porta de
Interlagos estavam sintonizados nessas rádios e até programas de TV com gosto
duvidoso como o da Regina Casé, um tal de ‘Muvuca’ estava presente neste dia,
sim um conhecido que estava na mesma excursão que eu ‘furou’ um alambrado e
entrou pertinho do palco e jurou ter visto a Regina Casé lá no ‘gargarejo’ e
foi prontamente achincalhado por nós, mas que na semana seguinte vimos na TV
ela entrevistando a banda em seu programa, pasmem! (ah, tem isso no Youtube).
Saímos em cinco
pessoas de carro da minha cidade rumo a Campinas/SP pra pegarmos uma excursão
rumo à capital, achando que era apenas mais uma excursão como tantas que eu já
tinha pego em Campinas para shows em
Sampa fomos tranquilos. Ao chegar lá, nos deparamos com NOVE ônibus fretados
pra levar aquele verdadeiro exército pra Sampa, era o KISS ARMY mesmo! Nove
ônibus passeando com bandeiras estendidas do lado de fora, bandeiras feitas à
mão pelos fãs, com logotipos e os rostos de Paul, Gene, Ace e Peter desenhados.
Quando os ônibus entraram na Marginal Tietê e demais ruas de ‘Sampa Rock City’,
os fãs começaram a botar suas caras pintadas pra fora das janelas e aloprar os
transeuntes que andavam nas calçadas e nos carros que passavam por nós, nada
demais, apenas zoeiras circenses. Lembro bem de estarmos parados num semáforo
quando o cara uns bancos à minha frente botou o carão mal-maquiado de Simmons
pra fora com língua e tudo e uma senhorinha de idade com uma criança na calçada
perguntou pra onde estávamos indo, quando ele prontamente a responder: “Pra
missa do Padre Marcelo, aaaahhhhhh!” e tome língua de fora de novo, a criança
assustou, a velha riu e a caravana de nove ônibus seguiu adiante.
Após chegarmos
à Interlagos e enfrentarmos horas na fila enfim entrávamos, eu também mal
maquiado de Paul ‘Starchild’ Stanley,
a maquiagem foi feita em mim dentro do ônibus em movimento, por isso optei por
‘Starchild’, afinal era mais fácil,
só uma estrela e boca vermelha, uma garota no ônibus me emprestou seu batom, na
verdade ela mesma passou pois eu não sabia como rs... voltando ao meu traje,
além da make-up tosca, trajava botas
de couro com plataformas de borracha de uns 12 ou 15 cm que encomendei em um
sapateiro trash da minha cidade, ele
fez um serviço manual porco pra cacete, ficou horrível, mas eu improvisei e
adicionei à essa bota os canos longos, feitos de braços de uma antiga jaqueta
de corvim preto que eu tinha, ficaram
bem aterrorizantes devido à tosqueira
e sim, uma bela camiseta do KISS e uma jaqueta preta por cima, afinal, que
porra de frio era aquele que assolou São Paulo naquele dia? Nem os fogos de
artifício dos shows aqueceram aquela noite em Interlagos. Falavam em 11º.
A banda que
abriria o show do KISS seria uma desconhecida alemã chamada RAMMSTEIN que pra
nós era novidade, quando entraram no palco com uma pirotecnia pesada com vários
lança chamas e tal até empolgou, mas depois sacamos que o som deles era
beeeeeem diferente e a maioria deixou de lado. Eu não quis arriscar ir pra
perto do palco, meu objetivo era VER o show, então escolhi um morrinho pra
ficar em cima, de onde eu pudesse ver TUDO que acontecesse no palco, e deu
certo, apesar de ter ficado longe.
Quando realmente
era hora do KISS dominar tudo, surgiu uma cortina enorme imitando uma cortina
de circo, vermelha com estrelas amarelas, como a do encarte do “Psycho Circus”
e quando ela caiu revelando o quarteto original no palco com a contracapa do CD ao fundo no telão foi uma histeria
coletiva tomando conta de todos ali, parecia uma onda sonora muito poderosa
tomando conta, mas por pouco tempo, pois as ventanias daquela noite espalhavam
demais o som pra todos os lados, o que deixou ele bem ruim em vários pontos
segundo relatos. O show começou forte com ‘Psycho Circus’ e ‘Shout it Out Loud’
coladas, e em ‘Deuce’ até Paul Stanley reclamou do frio antes de tirar a
camiseta. Os óculos 3D só foram ser
úteis pela primeira vez lá pela quarta canção ‘Do You Love Me’ quando víamos no
telão imagens pré-gravadas intercaladas com algumas ao vivo, uma distração boa,
mas nem tanto quanto propagaram. Muitos disseram que não funcionou, aí já era
exagero dos detratores de plantão, o funcionamento da coisa toda varia muito de
fã pra fã de acordo com seu grau etílico também. Em ‘Firehouse’ Paul Stanley
cantou absurdamente bem, ele ainda tinha todo aquele gogó que acostumamos a
ouvir nos discos, mas eu tive minha primeira decepção com a pirotecnia que
praticamente inexistiu nesse show, o que o RAMMSTEIN exagerou com fogo o KISS
pecou pela falta dele, tudo bem que Gene Simmons cuspiu fogo nessa, mas só.
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Dos tempos em que tinha graça guardar os ingressos dos shows e o souvenir máximo, o dito Óculos 3D sujo de maquiagem preta heheheh... |
Era hora de Ace
Frehley tomar o microfone pra si e cantar ‘Shock Me’, nessa hora começamos a
perceber que ele estava ligeiramente ‘mamadinho’, e que aquele papo de
sobriedade dele era furado, naquela época ainda não sabíamos o tanto que o KISS
era mentiroso para com os fãs, foi só anos depois quando Ace e Peter começaram
a sair da banda de novo e os livros afloraram que nós começamos a deixar aquela
inocência cega de lado...rsss
Ace não atirou
com a guitarra nessa como achávamos que seria, mas a festa continuou garantida
com a espetacular ‘Let me Go Rock and Roll’ que mostrou um SpaceAce possuído nos licks
de guitarra e um Catman gargalhante
foi revelado no final pelos telões.
Segue o baile e
‘Dr. Love’ precede o segundo brilho solo de SpaceAce Frehley na então nova ‘Into the Void’ onde ele emendou seu
clássico solo com sua Les Paul voando de volta pra Jendell mas não sem antes
enfumaçar o palco todo seguida de tiros pro alto com outra Les Paul, tudo isso
em 3D e com direito a Ace arriscando
o riff de ‘Parasite’ bem mal feito e
umas cambaleadas aqui e acolá, show, era o verdadeiro Ace Frehley ali na sua
frente!
Era circo que a
gente queria, era entretenimento que a gente queria, era o verdadeiro, primeiro
e único KISS que a gente queria e
estava tendo. Depois de ‘King of the Nighttime World’ quem deu seu show foi o Demon em pessoa, vomitando sangue,
voando pro teto do palco e lá interpretando a mais do que clássica ‘God of
Thunder’ que botou um pouco mais de fogos no palco, colado a tudo isso veio
mais uma nova com efeitos 3D, era
‘Within’” com o Demon ainda no
controle.
Mas e Peter
Criss? Ah sim, era a hora dele brilhar sozinho, sua bateria foi içada até o
teto de onde o Catman solou por um
bom tempo mas não cantou.
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Chaveiro "Psycho Circus Live in 3D tour! |
Pelas próximas
canções quem brilhou foi o Starchild
e seu gogó de ouro com ‘I Was Made for Loving You’, ‘Love Gun’ por onde ele
sobrevoou o público na tirolesa (passando por cima de mim, eu até toquei a sua
bota) até a cabine de som no meio da platéia, essa foi a primeira turnê que ele
fez isso e desde então repetiu em várias outras e ainda deu tempo de botar a
casa abaixo com ‘100.000 Years’. Fecharam o set
com ‘Rock and Roll All Nite’, chuva de pétalas de rosas, novas pirotecnias na
guitarra solo de SpaceAce, gente
chorando pra todo lado, era o VERDADEIRO KISS pela ÚNICA VEZ em terras
brasileiras. Uma pequena pausa e eles voltam, aliás, só Peter ‘Catman’ Criss volta pra cantar ‘Beth’,
que momento de arrepiar!
‘Detroit Rock
City’ fez São Paulo cantar e ver em 3D
efeitos com carrinho e tudo, como na letra, Paul Stanley deu aquela ‘enchida de
linguiça’ com seu solo e esse espetáculo de outro planeta foi encerrado quase
duas horas depois com a emblemática ‘Black Diamond’ onde Catman esgoela bonito botando todos pra explodirem seus pulmões
cantando com ele e a bateria original voou pela última vez em solo
verde-amarelo, ‘a Inês era morta’ e
se encerrava o ÚNICO show do KISS
ORIGINAL em São Paulo, há 20 anos atrás nos deixando com a alma lavada pra
sempre, o que se sucedeu à tudo isso na KISSTÓRIA,
inclusive os vindouros outros shows dessa banda no país não se comparam...
Fotos: acervo pessoal Toca do Shark.
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