sábado, 15 de março de 2014

X-RATED - Um dos maiores nomes do Hard Rock Nacional!


  No final dos anos 80, com a efervescência do Heavy Metal no Brasil todo, o RJ foi o cenário para o primeiro supergrupo (junção de vários músicos conhecidos numa banda só) do Metal nacional. Pelo nome de X-RATED esse time atendia, time esse que era composto por Andre Chamon (baterista ex-STRESS), Mark DB (Marcos Dantas, guitarra ex-AZUL LIMÃO), Lucky Lizard (ex-vocal da METALMANIA) e Bruno Schubnel (baixo).
Lançaram 2 excelentes discos, o primeiro inclusive esta sendo relançado agora pelo selo carioca Urubuz Records e impulsionando a banda com essa line-up pelos palcos afora.
Conversei com Andre e Marcos sobre toda a trajetória da banda desde 1989 até o dia presente e você confere tudo agora aqui na Toca do Shark.
1990 - Mark (g), Lucky (v), Andre (bt) e Bruno (bx)
TOCA DO SHARK: Como a banda foi montada no final dos anos 80? 

MARCOS DANTAS:  Toquei com André na última formação do AZUL LIMÃO e com o fim do AZUL LIMÃO decidimos montar uma nova banda com repertório em inglês.
ANDRE CHAMON: Em 1987, depois que o Bala (vocal do STRESS) voltou para Belém e o Rodrigo (vocal do AZUL LIMÃO) viajou para a Espanha, eu e o Marcos Dantas ficamos sem bandas. Em 1988, formamos a banda FLÓRIDA com o baixista Alex Bressan (que tocou com o STRESS, antes de suspender suas atividades) e o vocal Décio (ex-EROS), mas, não foi adiante.
  No início de 1989, eu e o Alex nos unimos ao Luciano (ex-METALMANIA) e ao saudoso guitarrista Clóvis Mourad e formamos uma banda batizada de MAMUTTI por ninguém menos que Arnaldo Baptista (ex-MUTANTES). Também não vingou.
  No mesmo ano, eu e o Marcos resolvemos apostar em uma nova formação do AZUL LIMÃO, que, além de nós, contava com o Tavinho Godoy (vocal do METALMORPHOSE, que também estava parado) e o Augusto Schur no baixo. Chegamos a fazer shows no Rio de Janeiro e em São Paulo com esta formação. Mas, sentimos que o público estava acostumado demais com o Rodrigo no vocal e desistimos da ideia.
AZUL LIMÃO (1989): Augusto Schur (baixo), Tavinho Godoy (voz), Andre (bt) e Marcos (gt)
  Passamos, então a procurar músicos para formar uma nova banda, com um estilo diferente. O Hard estava em alta com o GUNS’N’ROSES no topo das paradas. Naquela época, as bandas nacionais começavam a compor em inglês, visando o mercado internacional.
  Neste cenário, o vocal rasgado e o inglês fluente do Luciano tornava-o a pessoa ideal para o nosso projeto. Além disso, o fato de ter tocado com o Robertinho do Recife no METALMANIA, fazia da banda uma união de músicos já conhecidos do Metal Nacional.
  Para completar o time, o Luciano nos apresentou o baixista Bruno Shubnel, que tinha o talento e o visual que estávamos procurando. Todos de cabelos compridos, usando jeans, jaquetas e bandanas, além da maquiagem bem no estilo Hard do final dos anos 80.
  Só faltava escolher um nome pra banda. Lendo uma reportagem na revista Playboy, encontrei o termo “X-Rated”, que era usado como advertência de conteúdo pornográfico, e achei um nome interessante para uma banda de Hard Rock, estilo frequentemente associado à sexualidade. Os outros membros acharam o nome legal e concordaram em batizar a banda com ele.
  Como almejávamos o mercado internacional, mudamos os nomes artísticos do Marcos e do Luciano para Mark DB e Lucky Lizard. Cheguei a pensar em mudar o meu para Andy Chamon, mas, mudei de ideia e achei melhor continuar como Andre mesmo, só tirando o acento.
FLÓRIDA - 1988

MAMUTTI - 1989
  Já no primeiro ensaio, rolou uma química perfeita entre nós. O entrosamento foi imediato e as composições fluíram com facilidade. Foi tudo muito rápido. Em novembro de 1989 fizemos nosso primeiro show e no ano seguinte, 1990, já estávamos lançando o nosso primeiro disco, “Shaking Like a Bad Machine”.

T.S.: No idos de 1991 vocês quase conseguiram tocar no segundo Rock in Rio através daquele concurso chamado ‘Escalada do Rock’, mas parece que não conseguiram por coisa de meio ponto, dando assim o lugar para a cantora gaúcha LAURA FINOCCHIARO, conte-nos mais sobre o ocorrido na época? 

MD:  Muito estranho. Achávamos que estávamos prontos para o Rock in Rio.

AC: Este é um assunto delicado. Correu um boato que o concurso serviria para legitimar a participação do VID & SANGUE AZUL e da LAURA FINOCCHIARO no Rock in Rio II. 
  A produção estava certa de que eles receberiam a maioria dos votos. Acontece que o X-RATED acabou surpreendendo e sendo classificado. A solução foi nos tirar meio ponto. A imprensa ficou a nosso favor e nos comparou com a Martha Rocha, que perdeu o título de miss universo por duas polegadas a mais nos quadris.

T.S.: Mesmo assim, na mesma época vocês conseguiram um contrato com a Phillips/Polygram para lançarem o segundo disco “Animal House”, o que foi um grande feito, mas, como era de praxe na época, as vendas foram baixas devido aos erros de distribuição da própria gravadora, que não sabia trabalhar uma banda de Hard Rock, disponibilizando horrores de cópias para grandes magazines e deixando as lojas especializadas no ramo sem o disco de vocês. Há quem diga que era impossível achar discos da banda, por exemplo, na Galeria do Rock em SP, o maior centro especializado em som pesado da América Latina. Era isso mesmo? 

MD:  Não soubemos como se dava o processo de distribuição. O legal é que foi fabricado em LP (vinil), Fita K7 e CD. De fato a propaganda da gravadora (na época Polygram) era orientada para o grande publico e deixava de lado as lojas especializadas e isto nos incomodava. Mas não tínhamos controle sobre isto. Como não fomos sucesso na rádio FM, a  gravadora não investiu mais na banda.

AC: Apesar de o X-RATED haver sido limado do Rock in Rio II, o Mayrton Bahia, que era o diretor artístico da Polygram e foi um dos jurados a votar em nós, resolveu contratar a banda para lançar um disco por esta multinacional.
 
1990
  Gravamos no estúdio da própria Polygram e os técnicos de som ficavam surpresos quando viam o Mayrton nos visitar no estúdio, o que não era um fato comum. Numa dessas visitas ele nos apresentou a Cássia Eller, uma artista ainda desconhecida que ele tinha acabado de contratar.
  Tivemos os melhores equipamentos à nossa disposição, mas, também enfrentamos alguns problemas. No meio da gravação, faleceu um familiar do produtor artístico, o português Paulo Junqueiro. Ele teve que viajar para Portugal e tivemos que continuar a gravação sozinhos.
  Uma curiosidade: minha filha nasceu durante as gravações. Ela tem a mesma idade do álbum “Animal House”.
 Tentamos convencer o Mayrton a fazer um trabalho de divulgação na mídia especializada, mas era difícil falar com ele. Às vezes tínhamos que ficar de tocaia, para conseguir uma reunião.
  Quanto à distribuição, acredito que o CD era oferecido para as mesmas lojas que compravam os outros lançamentos da gravadora. Com a falta de direcionamento na divulgação e distribuição, o álbum “Animal House” não foi devidamente trabalhado nas publicações e lojas do ramo.
Foto para divulgação do "Animal House"
T.S.: André, certa vez você me contou que a banda se apresentava com certa periodicidade nos programas da TV aberta brasileira, entre eles um programa de auditório da Angélica, ainda na TV Manchete (o qual se encontram algumas partes no Youtube) e devido a isso, tem várias histórias insólitas, conte algumas aqui pros fãs mais novos?

AC: O X-Rated se apresentou em alguns programas de TV para lançar o LP e o CD “Animal House”. O setor de divulgação da Polygram agendava as gravações e nos levava até as emissoras. Não tínhamos trabalho nenhum, era só chegar e tocar. Bons tempos aqueles!
  O programa em que mais tocamos foi o Milk Shake da TV Manchete, apresentado pela Angélica. Apresentamos duas músicas: ‘Realize It’ e ‘Across de Rush’. Era incrível como a banda animava a plateia, mesmo cantando em inglês e fazia todo mundo dançar Hard Rock, inclusive a Angélica.
  Antes da nossa apresentação, eram sempre exibidas esquetes protagonizadas pela Angélica, encenando pequenas estórias que tinham a ver com o nome da banda.
  Uma curiosidade: nas primeiras apresentações, a Angélica não conseguia pronunciar a palavra X-Rated (que é complicada mesmo) e pedia para o Luciano (Lucky) ensiná-la.
  Em um dos programas, ela fez aquela brincadeira do "telefone sem fio", falando "X-Rated" no ouvido da primeira criança da fila, para que ela repetisse no ouvido da seguinte até chegar à última. Quando a última criança da fila teve que falar o nome da banda em voz alta, foi muito engraçado: ninguém entendeu nada.
 
"Escalada do Rock" - 1991

Circo Voador - RJ 1991

  (Algumas destas apresentações podem ser vistas no YouTube, clicando nos links a seguir:

T.S.: A banda teve outras formações após 1994, certo?

MD:  Sim. Na verdade a banda nunca acabou. Quando Lucky e Bruno saíram colocamos Guto Dufrayer (vocal) e Arthur Caria (baixo) para substituí-los e depois Rod Eymael no lugar de Guto no vocal. Depois entrou Marcio Chicralla no lugar de Arthur no baixo. Marcio Chicralla tinha sido o primeiro baixista do X-RATED antes do Bruno.
"Daresafesexdisorder" 1994

"Untold Story (1993-1994)" - 2000
T.S.: O que fez a banda parar nos idos dos anos 90? 

MD:  A banda não parou. Ficou fazendo shows tocando cover misturado com poucas músicas da banda no set list durante muito tempo com Rodrigo Cotia (vocal) e Marcio Luiz (baixo)

T.S.: Vocês tem conhecimento duma banda de Pop japonesa que se chama X-RATED?

 MD:  Sim. Nosso nome é registrado e somos anteriores, então não há problema com isto. Há outras bandas no mundo que utilizam este nome.

T.S.: Recentemente o primeiro play voltou às vendas com o relançamento de luxo feito pela Urubuz Records e a banda está de volta à estrada, a formação é a mesma? Há a possibilidade de sair em CD também o “Animal House”? 

MD:  Sim. A formação é a clássica, original. Faremos shows de lançamento inicialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Posteriormente pretendemos relançar o “Animal House” dependendo da repercussão do “Shaking...”.

T.S.: Como surgiu a oportunidade de vocês regravarem ‘Back in the U.S.S.R.’ dos BEATLES no primeiro disco? 

MD:  De fato não foi uma gravação para o primeiro disco. Foi uma gravação que utilizamos para concorrer ao Rock n Rio II. Ficou inédita este tempo todo. Resolvemos colocá-la de bônus no CD.
Lucky Lizard (voz)

Mark DB (guitarra)

Bruno Schubnel (baixo)

Andre Chamon (bateria)

T.S.: O que impulsionou o retorno da banda aos palcos? 

MD:  Vontade de tocar.

T.S.: Como vocês estão vendo a cena atual, principalmente com a valorização e reconhecimento dos pioneiros e o retorno de vários deles à ativa, exemplo amplamente visto no evento Super Peso Brasil em novembro passado em SP? 

MD:  É um sentimento muito bom... de que tudo aquilo que vivemos no passado valeu a pena!!!

T.S.: Agora, sem mais delongas, o espaço é todo reservado ao que vocês queiram falar:

 MD:  A vida é curta! Aproveitem!! 

AC: Gostaria de lembrar um evento importante na carreira do X-RATED: a abertura do show do FAITH NO MORE no Maracanãzinho, em 1991.
  Tocamos para mais de dez mil pessoas e fizemos um clipe com cenas ao vivo da música ‘Across the Rush’, que entrou na programação da MTV e outro da música ‘Kill Big Brother’.
  Para assistir a estes clipes é só clicar nos seguintes links do YouTube:
  Além de nós, este show teve a abertura de uma banda do Robby Rosa (ex-Menudo), que foi muito hostilizado durante a sua apresentação.
Show de abertura pro FAITH NO MORE (1991)
  Ocorreu um fato lamentável, que não foi divulgado na época. Na nossa passagem de som, quando ligamos a iluminação que havia sido alugada para o X-RATED, os roadies do FAITH NO MORE entraram chutando os spots e disseram que não poderíamos usá-los. Foi preciso a nossa empresária (que estava produzindo o evento) interceder e ameaçar cancelar o evento, caso não utilizássemos o equipamento de luz. A produção da banda headliner então teve que voltar atrás e dividir os holofotes conosco.

BANDA: X-RATED
DISCO: “Shaking Like a Bad Machine”
ANO: 1990
SELO: Urubuz Records
FAIXAS:
1.       Striptease Boogie
2.       Blue Heart
3.       Evil Generation
4.       Down in My Shelter
5.       I Wanna Beer
6.       King of the Hill
7.       Have You Heard the News?
8.       Face the Dog
9.       Cocktail Whale Crime
10.   In a Bad Mood
11.   Back in the USSR*
12.   Striptease Boogie (demo)
13.   Blue Heart (demo)
14.   Realize It (demo)

  E a banda carioca de Hard Rock pesado e sujo dos anos 90 X-RATED está de volta em evidência!
  No começo dos anos 90 ela fez um enorme barulho na cena apresentando um som ‘tipo exportação’ de primeira, com músicos tarimbados de extremo talento e currículos invejáveis que passavam por bandas como STRESS, AZUL LIMÃO e METALMANIA.
  Em 1990 lançaram este, que foi o primeiro disco pelo selo Heavy trazendo um Hardão foda à lá MÖTLEY CRUE, GUNS’N’ROSES (dos primeiros discos), RATT entre outros, com a inigualável voz de banshee de Lucky Lizard (ex- METALMANIA de Robertinho do Recife) e o instrumental digno de qualquer festa de Rock Pesado a banda por muito pouco não pisou no palco do Rock in Rio II no ano seguinte.
  Sonoridade rápida e cortante a banda apresenta na faixa de abertura ‘Striptease Boogie’, ‘I Wanna Beer’, ‘In a Bad Moon’ entre outras. A cadência na dose certa surge em músicas como ‘Blue Heart’ e ‘Evil Generation’ que ainda explicita todo o talento da dupla de cordas Bruno Schubnel (baixo) e Mark D.B. (Marcos Dantas ex-guitarrista do AZUL LIMÃO e atual METALMORPHOSE). O Metal aparece em ‘Down in my Shelter’ e Lucky judia da garganta em ‘I Wanna Beer’, mas, aposto que a cerva dava um jeito nela depois desse som rolar.
  Não há como destacar faixas e esconder outras, o disco é bem coeso, balanceado e recheado com o talento dos 4, incluindo aí o baterista Andre Chamon, um dos pioneiros do Metal brasileiro, sendo fundador da lendária STRESS de Belém do Pará.

  Para nossa alegria a gravadora carioca Urubuz Records nos presenteou com o relançamento deste primeiro registro da banda acrescido de um belo encarte e mais 3 faixas demo como bônus, incluindo aí ‘Realize It’ que viria no ano seguinte no segundo disco “Animal House”, outro disco obrigatório aos fãs de Hard Brasuca.

Um comentário:

  1. Algum conteúdo de video ou foto com Clovis mourad? Ele foi meu mestre de guitarra...

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