Banda: TITÃS
Disco: “Nheengatu”
Ano: 2014
Selo: Som Livre
FAIXAS:
1. Fardado/
2. Mensageiro
da Desgraça/
3. República
dos Bananas/
4. Fala,
Renata/
5. Cadáver
Sobre Cadáver/
6. Canalha/
7. Pedofilia/
8. Chegada
ao Brasil (Terra à Vista)/
9. Eu
me Sinto Bem/
10. Flores
pra Ela/
11. Não
Pode/
12. Senhor/
13. Baião
de Dois/
14. Quem
são os Animais?/
Fazia no mínimo
uma década e meia que os TITÃS não apresentavam algo descente no campo do velho
Rock que eles não praticavam desde o meio da década de 90. Eles se tornaram uma
banda chinfrim e comercial até o osso, totalmente desacreditada pelos seus
velhos fãs até que no final de 2011 foi anunciado que eles iriam fazer uma
turnê comemorativa tocando o mítico disco “Cabeça Dinossauro” na íntegra nos
shows que hoje em dia seriam capitaneados pelos 4 remanescentes dos áureos
tempos, Branco Mello, Sérgio Britto, Paulo Miklos e Tony Bellotto, o que nos
rendeu uma descrença afinal como fariam isso em 4 se a banda desde o “Acústico
MTV” de 1996 estavam cercados de agregados e músicos contratados? Mas ele foram
os 4 pro palco com somente a presença do baterista Mario Fabre pois até o
Charles Gavin já tinha pulado do barco. Pois bem, veio o ano de 2012 e eles provaram
por A+B que seguravam bem a bronca sozinhos e que ainda sabiam fazer ROCK AND
ROLL pesado e ofensivo. Isso deve ter despertado dentro deles a vontade de
fazer de novo um belo disco com temas controversos e ofensivos com muito peso,
aliado aos manifestos do ano passado onde a população brasileira (mesmo que por
impulso ou manipulação) deixou bem claro que não aguentavam mais os abusos
impostos de cima pra baixo na sociedade doente em que vivemos há décadas.
Branco Mello, Sérgio Britto, Paulo Miklos e Tony Bellotto |
Eis que saiu este ano um discáço chamado “Nheengatu”
que na linguagem indígena significa ‘Língua
Geral’ ou seja, fala pra todos os povos e é essa a intenção dos 4 titãs pois assim como os clássicos
discos “Cabeça Dinossauro”, “Jesus Não Tem Dentes...” e “Titanomaquia”
(guardadas as devidas proporções) a banda aborda inúmeros temos que expressam
os males da sociedade brasileira atual que são a política, vida-e-morte,
corrupção, abusos de poder, drogas, consumismo, enfim, as mesmas de sempre, mas
logo na primeira faixa que virou clipe e carro chefe desse play eles já metem o pé na porta, a faixa em questão
é ‘Fardado’ onde eles deixam bem claro o lado abusivo e autoritário dos PM’s
pra cima do povo brasileiro, uma coisa que ficou bem explícita ano passado nas
manifestações de rua e esse ano durante a mal fadada Copa do Mundo que
sediamos. Há quem diga que é puro oportunismo da banda abordar esse tema justo
agora, mas mesmo que seja é uma atitude beeeeem louvável, pois digamos que eles
foram a única personalidade musical do mainstream
que deu a cara à tapa e peitou a sociedade, a mídia e o braço forte da lei nacional, haja visto que mais ninguém tomou
partido do povo entre os famosos, o que seria bem diferente se fossem nas
décadas de chumbo quente. Ponto pra
eles que ainda seguiram adiante no disco tratando dos males da epidemia do
Crack enraizado na sociedade moderna em ‘Mensageiro da Desgraça’, outra porrada
na boca do poder público que insiste em varrer
pra debaixo do tapete esse problema de saúde pública.
Em ‘República dos
Bananas’ e ‘Fala, Renata’ a banda escancara a face da juventude moderna, morta
e manipulada, diferente da deles 30 anos atrás que se mexiam para mudar algo,
mesmo que em nada desse.
Na faixa 5, ‘Cadáver
sobre Cadáver’ aparece a velha parceria de Paulo Miklos com o eterno titã Arnaldo Antunes com uma letra forte
que discorre sobre a única certeza que temos na vida, a Morte. Outro grande
compositor aparece na faixa seguinte, Walter Franco que gravou e escreveu ‘Canalha’
em 1980 que aqui aparece numa versão melancólica na voz de Branco Mello e com
um refrão pesado. Vale lembrar que o CAMISA DE VÊNUS já havia feito uma bela
versão Rock dela em 1987 no álbum “Duplo Sentido”.
Em ‘Pedofilia’ a
banda trata desse crime hediondo que o nome da faixa entrega numa letra que
chega a ser nojenta e foi feita exatamente com essa intenção, de explicitar o
quão nojento são os praticantes dessa horrenda atitude. Aqui abro um parêntese
pra deixar bem claro os trabalhos das guitarras capitaneadas pelo já famoso
Tony Bellotto agora amparado pelo vocalista e (ex?) saxofonista da banda Paulo
Miklos (antes a outra guitarra era do Marcelo Fromer que morreu em 2001) em
linhas pesadas que foram ladeadas pelo baixão agora tocado por Branco Mello
(após a saída de Nando Reis quem tocou as quatro cordas até a turnê de “Cabeça
Dinossauro” em 2011 foi Lee Marcucci, ex-TUTTI FRUTTI e RÁDIO TAXI).
Branco volta a
cantar na faixa ‘Chegada ao Brasil (Terra à Vista)’, outra faixa amplamente
divulgada pela banda nos shows que fala justamente sobre da chegada dos
portugueses às nossas terras com umas partes de trava-língua permeando a letra.
‘Eu me Sinto Bem’
deixa escapar aí uma crítica velada ao consumismo desenfreado dos dias
modernos. Já ‘Flores pra Ela’ tem um belo trabalho de Mário Fabre tanto na
bateria quanto na letra que ele dividiu com Sérgio Britto que canta sobre o
machismo e abuso contra as mulheres. Aqui meio que fica claro a posição de Mário
dentro do time, que já está mais do que efetivado atrás dos tambores, muito
merecido, basta ver os shows da banda com ele. Apesar do fato dele aparecer no
encarte como ‘Músico convidado’, ele
também tem o direito de fazer seus agradecimentos.
Os TITÃS sempre
foram uma banda ambígua. Não só nesse caso, mas no fato de lançarem um disco
tão anarquista e contra tudo na maior das capitalistas e manipuladoras das
gravadoras nacionais, a Som Livre e ainda irem nos programas da TV Globo
apresentar temas como ‘Fardado’, não sei se devemos condená-los de hipócritas
ou de lhes dar os parabéns pelo fato deles furarem os bloqueios impostos. Vale uma boas reflexões da nossa parte.
A capa e as
gravuras do encarte são todas do século XVI de autoria do artista Pieter
Bruegel acerca da Torre de Babel e O Massacre dos Inocentes entre outros temas.
Lembrando que o disco, além do CD digipack tem uma versão luxuosa em vinil
duplo.
Em ‘Não Pode’ a
bateria também se destaca e a letra trata do abuso de proibições descartáveis
de hoje em dia. Já ‘Senhor’ fala da situação hipócrita e financeira em que as
religiões estão afundadas.
A ambiguidade
volta a ser tratada na letra que Paulo Miklos escreveu e cantou em ‘Baião de
Dois’, aliás, uma belíssima letra, com direito à poesia, jogo de palavras e
expressões de baixo calão típicas do povo em desordem. Brilhante!
Na última faixa, ‘Quem
são os Animais’ eles ainda tem tempo de provar que sabem fazer letras
contundentes e atemporais, coisas que acontecem a toda hora mas ninguém fala
sobre. Quer um exemplo? Fique com esse refrãozinho:
“...Te insultam e te condenam a penar
Te julgam pela roupa que vestes
Te humilham e não te deixam falar...
Te chamam de viado, de sujo, de incapaz
Te chamam de macaco – quem são os animais?..”
Realmente eles
voltaram pra se imporem nessa cena bunda-mole
que o Rock comercial vive nos tempos atuais. E quer saber? Eles estão
conseguindo...
Se lhes restam
dúvidas ouçam o disco na íntegra no Youtube oficial da banda antes de investir
seus trocos nele: http://www.youtube.com/playlist?list=PLiTi2JREVP5Ya1HmaQNevRS1ensdDuJZk
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