segunda-feira, 29 de julho de 2019

DEVACHAN – Heavy Metal hereditário!



BANDA: DEVACHAN
DISCO: “Regeneração”
ANO: 2019
SELO: Independente (http://somdodarma.com.br)

FAIXAS:
1.  Domain Principia Inferiorum/
2.  Regeneração/
3.  Jogo da Vida/
4.  Um Sonho?/
5.  Loucuras, Guerras e Poesias/
6.  Devachan/
7.  Olho por Olho.../
8.  Caminho do Medo/
9.  Eis a Questão/
10.      Punctus Contra Punctum/

    Era uma vez dois irmãos que resolveram montar uma banda de Heavy Metal no interior de São Paulo. Os irmãos eram Gabriel Dias (v) e Leandro Dias (g), a cidade era Boituva/SP e a banda se chamaria DEVACHAN, mas aí tem um ponto de ignição com 30 anos de antecedência, o pai dos garotos, o baixista Daniel Dias que viu o Heavy Metal nascer no Brasil nos anos 80 e por lá começou a escrever suas próprias letras em bom português, como se fazia na época. Pois bem, essas letras ficaram engavetadas por três décadas, até que ele se casasse, tivesse filhos e esses resolvessem montar uma banda, resgatando assim aquelas letras que ainda se faziam atuais, com seus temas introspectivos, psicológicos e espirituais. Naturalmente o baixista da banda também seria o pai Daniel, nada mais justo, e assim nasceu a banda DEVACHAN!

    Completaram a banda o tecladista Michael Santos e Thiago Zico Teixeira que gravou as baterias (o atual baterista é Alexandre Galvão).

    “Regeneração” é o primeiro full-lenght da banda que em 2013 soltou um EP-demo chamado “Andarilho” com as letras do pai. Já neste disco temos composições antigas e novas como a faixa título, ‘Jogo da Vida’ e a própria ‘Devachan’, escrita em parceria de pai e filhos.

    O som é bem esmerado, tem peso, melodia, virtuosismo sem exageros, tem um clima de SYMPHONY-X e DREAM THEATER por causa dos teclados, mas também tem muito do tradicional Heavy brasileiro nos maneirismos vocais mas sem soar datado.
    Pra ser direto no ponto, o estilo da banda é Heavy Metal feito em família, afinal, aquela máxima que nós ouvíamos dos nossos ídolos nos anos 80 e 90 de que ‘se seu pai gosta da música que você ouve, isso está errado’ já não cabe mais há uns 20 anos, pelo menos.

    ROCK AND ROLL pode sim ser hereditário!

    Contatos:
http://twixar.me/1vnK       

   

domingo, 21 de julho de 2019

NECROFOBIA – OS ANOS 90 VIVOS NO THRASH METAL



BANDA: NECROFOBIA
DISCO: “Membership”
ANO: 2019
SELO: Independente (www.necrofobia.com.br)
FAIXAS:
1.  Silent Protest
2.  Membership
3.  Perpétua 136
4.  Blindness
5.  Rotten Brain
6.  Real Fiction
7.  Apatia Social
8.  Cemetery of Oblivion
9.  Circle of Trust
10.      Devil’s Lap
11.      Unused Rights
12.      Worthless Lives
13.      Guzzardi (bônus track)

    Quando você pega esse novo álbum do NECROFOBIA, o segundo full oficial (o primeiro “Dead Soul” é de 2004), você logo fica impressionado com a obra de arte que é a capa, e depois descobre que o encarte se desdobra num pôster grande da capa,
muitíssimo bem desenhado pelo artista Roger Gaulês, mas também, pra embalar obra de tamanha qualidade a embalagem teria mesmo de ser bem pensada.
    O NECROFOBIA foi formado em 1994 na cidade de Ribeirão Preto/SP e lá na região são lendas vivas, afinal de contas, a banda passou os anos 90 lançando várias demos K7 e tocando em grandes festivais nesses últimos 25 anos, como Skol Rock,
Roça’n’Roll, Virada Cultural Paulista e por aí vai.   
    Eles defendem aquela escola do Thrash Metal puro e
afiadíssimo que ficou imortalizado nas obras de grandes nomes como SEPULTURA, PANTERA, TESTAMENT entre outros. Chega
a ser absurdo você pensar que esses caras eram pra estar no nível de reconhecimento de um KRISIUN no mínimo se não fossem todos aqueles malditos percalços e tropeços que as bandas daqui sofrem através dos anos.


    Mas o que importa é o presente e esse disco veio pra vingar mesmo. Dá pra sentir o ódio expelido pelos alto-falantes, como nas ‘panterescas’ ‘Cemetery of Oblivion’ e ‘Circle of Trust’, ou em ‘Apatia Social’ que, com sua letra em bom português versa sobre a idiotice de um suburbano médio, egoísta e racista que povoa a nossa grande e maltratada nação.
    A banda atualmente é formada por Rômulo Felício (vocais/
guitarra), André Faggion (bateria), João Manechini (baixo) e Rodrigo Tarelho (guitarra solo), mas as guitarras base foram praticamente todas gravadas por Rômulo em conjunto com Raphael Guzzardi falecido em 2013 mas jamais esquecido, pois em 2014 a banda
lançou um single em sua honra ‘Guzzardi’ que aparece como bônus neste CD e com sua letra em português a banda homenageia o eterno riff master do grupo e assim fecham esse puta play fudido que corre o risco de encabeçar as listas de melhores de 2019 na categoria Thrash Metal nacional.
    Confiram em todas as plataformas digitais ou em:













terça-feira, 16 de julho de 2019

BRUNO MAIA, DA FANTASIA À REALIDADE NUA E CRUA!



    Recentemente o TUATHA DE DANANN se apresentou em Joinville/SC num festival que teria cobertura da TOCA DO SHARK (“Armageddon Metal Fest”, leia como foi em: http://tocadoshark.blogspot.com/2019/06/armageddon-metal-fest-2-edicao-01062019.html) e eu, como bom fã das antigas, não deixaria passar a oportunidade, não só de rever essa grande banda em ação, como também de trocar uma palavrinha com a banda. Infelizmente ficou inviável reunir a banda toda para um bate papo, o evento era tão grande e com tanta gente que os músicos estavam espalhados curtindo cada momento, mas consegui trombar com Bruno Maia, fundador, vocalista, guitarrista, flautista e letrista da banda na sala de imprensa durante uma outra entrevista. Fomos ali pra um canto da sala para uma entrevista exclusiva dele para a TOCA falando sobre tudo, desde a realidade triste vivida na política mundial vigente, até seus trabalhos solos, passando pelas agruras sociais brasileiras e um futuro disco do TUATHA que ainda está promovendo seu mais recente álbum “The Tribes of Witching Souls”.

TOCA DO SHARK: Eu já vou começar a entrevista indo direto ao assunto, ‘Your Wall Shall Fall’, uma canção com letra polêmica, anti essas políticas separatistas que o mundo atual enfrenta em vários países, vocês convocaram os fãs através das redes sociais a fazerem parte do clipe desta canção protestando cada um em sua cidade, mundo afora...
BRUNO MAIA: É ‘Your Wall Shall Fall’ não era pra ser tão polêmica. Eu até acho que nem é tanto. Na verdade a letra toca sim um pouco na ferida, pois, querendo ou não, o país está dividido só que eu acho que tem muita gente que nem entende.
    A situação é tão louca que, quando nós convocamos as pessoas para participar, teve uma menina que mandou uma foto usando uma camisa do Bolsonaro (risos). Acho que ela não entendeu nada, claro que a gente não colocou a foto no clipe. A letra não era anti-Bolsonaro, mas ele está no meio disso tudo, e exalta esse tipo de discurso de exclusão, divisão, perseguição, enfim, essas coisas da ‘direita paranóica’... Mas eu acho que ela não foi tão polêmica, as pessoas que não entenderam e muitas não ligaram uma coisa com a outra. Elas acham que o Brasil não tem esse tipo de problema, que tá longe daqui... É um conceito universal, está acontecendo em várias partes do mundo e as pessoas não percebem ainda o quanto isso está forte aqui.

T.S.: Agora sobre o novo álbum “The Tribes of Witching Souls”, fale mais sobre ele e sobre a aceitação dele.
B.M.: O “Tribes...” é o novo disco e estamos muito felizes com ele e é um disco que representa muito o quê o TUATHA DE DANANN é hoje (N.R.: Atualmente a banda é formada apenas pelos fundadores Bruno Maia nos vocais, flautas e guitarras e Giovani Gomes no baixo/vozes além do tecladista Edgar Britto com mais alguns músicos contratados). A aceitação aqui no Brasil está muito boa, fãs, crítica, a galera ta se inteirando bem com as músicas, cantando elas nos shows, ótimas críticas na mídia. Lá fora o disco ainda não foi lançado oficialmente, apenas distribuições via streaming, não física ainda, estamos cuidando disso para breve, vamos ver no que vai dar.
TUATHA DE DANANN (Edgar Britto - t, Bruno Maia - g/v/f, Giovani Gomes  - bx)

T.S.: Vocês estão rodando o Brasil atualmente, depois vão pra fora...
B.M.: É, na verdade não negociamos nenhuma turnê pro exterior ainda, somente o lançamento do disco físico. Existiram umas propostas pra irmos pra fora agora, mas do jeito que foram postas nós não queremos. Se não compensar pra nós não vamos. Agora aqui estamos tocando demais, ta incrível!

T.S.: Atualmente o Brasil tem muitos festivais e os principais focos aparentam ser Santa Catarina e Minas Gerais. Fale do seu ponto de vista, já que é também um produtor de festival, pois tratamos de um país de proporções continentais, onde existem várias opções geograficamente opostas para o público do Metal.
B.M.: Como você falou somos um país continental e um país pobre pra caralho também! É muito caro viajar pelo Brasil, sempre foi e atualmente está mais, nem bagagem mais você pode levar. O governo fode com a gente como pode e então esse fator econômico pesa muito na hora do cara escolher, pois tem que pegar um avião muitas das vezes. Só que, com certeza, o sul do país ta promovendo muitos festivais legais, Santa Catarina principalmente. Minas já teve mais, mas ainda tem muitos também. E eu acho que um festival é a melhor forma que você tem de apresentar uma banda para um público grande. Não precisa ser um festival grande, mas sim um festival que vá elencar bandas de vários estilos diferentes dentro do Rock, igual este aqui que estamos em Joinville. Esses festivais atraem públicos de várias tendências diferentes que, querendo ou não, estarão conhecendo bandas novas de estilos semelhantes aos que gostam ou nem tanto, mas dentro do mesmo universo, bandas de outros estados. E essa dinâmica que acontece nos festivais é muito positiva tanto pro público quanto pras bandas se apresentarem para várias pessoas que talvez nunca fossem ouvi-las. Fora a interação entre os músicos e fãs que é mais direta.

(Foto: Kaká Gomes)
T.S.: Eu to sabendo que vocês já estão com um disco novo engatilhado pra 2019 com um conceito diferente. Fale sobre isso, já que o mais recente disco de vocês saiu à bem pouco tempo e ainda estão divulgando ele.
B.M.: É verdade, é uma idéia antiga que a gente tinha, só que agora nós achamos ‘o pulo do gato’. Nós vamos lançar um disco somente com música tradicional irlandesa que o povo acostumou chamar de celta, mas é irlandesa, tanto as instrumentais como canções anônimas, aquelas que tem suas autorias perdidas através dos séculos... A gente vai gravar agora, só não sabemos se vamos lançá-lo ainda em outubro deste ano ou no ano que vem.

T.S.: E os seus projetos solos KERNUNNA e BRAIA, tem alguma coisa em vista?
B.M.: O KERNUNNA infelizmente não tem nada em vista ainda, tomara que a gente mude isso em breve. Tem um projeto aí de música instrumental misturando música celta com brasileira que talvez a gente lance com o nome de BRAIA, como se fosse um BRAIA instrumental, não sei, mas tem um ‘trem novo’ pra sair, coisa minha, talvez com participação dos caras da banda (TUATHA) também, tomara que saia no formato instrumental.

CONTATOS:


quarta-feira, 10 de julho de 2019

BARRIL DE PÓLVORA EXPLODINDO AS BARREIRAS DA CENA UNDERGROUND!




BANDA: BARRIL DE PÓLVORA
DISCO: “Barril de Pólvora”
ANO: 2018
SELO: Independente

FAIXAS:
1.  O Som do Trovão
2.  Muito Papel pra Pouca Solução
3.  Inércia
4.  Tocando no Inferno
5.  Loucuras, Sonhos e Delírios
6.  Blues da Saudade
7.  Barril de Pólvora
8.  Tempestade

    Oras bolas, pra quê encheção de linguiça? Tenho cá em minhas mãos um disco direto, reto, cru e sem frescura. É ROQUENROUZÃO (como costumo denominar as bandas de Rock brasuca em bom português) daqueles de sair chutando qualquer balde que se veja pela frente!
    Os caras aí se juntaram em 2005 lá em Belo Horizonte (ó Minas Gerais, quantos orgulhos nos trás!) e desde então vem
esmerando seu som pra soar tradicional sem soar datado ou revival demais, o som aqui está atualizado sem ser modernoso, está pesado sem ser barulhento, está escancarado, sem ser sem propósito, está fudido sem ser apelativo.


    Formado atualmente por Alexis Bomfim (bt), Saulo Santos (bx), Flávio Drager (v) e Emerson Martins (g), a banda contou com a produção de Rodrigo Garcia e mixagens e masterizações de André Cabelo (CHAKAL), tem um encarte ótimo e capa excepcional, tudo á cargo
de Vinícius de Souza e Gath Comunicativa.
    Mas e o som? Bem, o som tem uma mistura bem no ponto de Heavy Metal, Hard Rock cru e até Blues, coisa de gente grande, letras furiosas, críticas, ácidas e
loucas, como ‘Muito Papel pra Pouca Solução’ que massacra o sistema burocrático desse país ou ‘Tocando no Inferno’ que me lembrou o MOTOROCKER de Curitiba com suas brincadeiras com o diabo, mas a faixa que abre, mete o pé no peito com um sonzáço calcado no Heavy Rock trampadão, é ‘O Som do Trovão’ mesmo!
    Faça um favor a si mesmo e vá atrás dessa
banda, conheça, compre, compartilhe, espalhe as boas novas!


MAGNÉTICA - "Homo sapiens brasiliensis" (2017)



BANDA: MAGNÉTICA
DISCO: “Homo sapiens brasiliensis”
ANO: 2017
SELO: Independente
FAIXAS:
1.  Inflamáveis
2.  Super Aquecendo
3.  Homo sapiens brasiliensis
4.  Céu de Abril
5.  Descãonhecido
6.  Crianças
7.  Interstellar
8.  Os Magnéticos
9.  Natural
10.      Minha Hora

    Essa banda foi formada no interior paulista, na cidade de Bebedouro em 2013 com alicerces claramente calcados no Rock brasileiro dos anos 90/2000, me lembra bastante bandas como JUNK, CARRÃO D-GÁS, TIJUANA (sem a parte do pula-pula) entre outras daquela mesma geração, mas se dizem influenciados também por THE WHO, BUSH, NEIL YOUNG, STONE TEMPLE PILOTS entre outros.
    O que eu percebi é que as músicas desse disco são bem polidas, trabalhadas, estudadas a ponto de sair um disco redondinho que flerta com o Pop, aquele que deveria, mas não toca mais em lugar nenhum sabe? As FM’s tocariam facilmente esse disco 15 anos atrás, mas hoje, estão relegados ao undeground com muita bala n’agulha, muito talento e letras fortes, a faixa título por exemplo, sampleou até o hino nacional pra destrinchar aquela letra pomposa que nosso hino traz, uma crítica ácida que se espelha já na capa do disco, com um triste palhaço envolto na nossa bandeira nacional e um galão de líquido inflamável, o que remete ao primeiro som ‘Inflamáveis’, foda mesmo!

   Outros sons fodas, mas melancólicos são ‘Crianças’ onde o vocalista Elvio Trevizone deixa bem claro que tem medo da vida adulta e ‘Descãonhecido’ que, para quem já perdeu um animal de estimação que era considerado mais da família do que alguns humanos, dói no fundo da alma, uma narrativa trágica que nos pega pelo pescoço e aperta nossa respiração.
    Mas o astral volta a subir com ‘Os Magnéticos’ com uma letra cantada em cima dos riffs de Rafael Musa e Kelson Palharini (guitarras), é pra cima daquelas que nos conquista e logo estamos cantarolando junto, definitivamente um hino instantâneo.
    O disco fecha com duas faixas pesadas á lá ALICE IN CHAINS onde a bateria de Marcos Ribeiro e o baixo de Anderson Pavan destacam-se por si só. Em ‘Natural’ e ‘Minha Hora’ as letras narram as agonias de uma pessoa chegando ao fim de seus dias e assim também se encerra esse belo exemplo de como se fazer ROQUENROU, ou seja, como chamo o ROCK AND ROLL brasileiro de verdade em bom português.
Contatos:



segunda-feira, 1 de julho de 2019

“2019, 20 anos da minha primeira ‘Psico aventura púrpura” DEEP PURPLE em SP


    Este ano de 2019 estão completando 20 anos do meu primeiro show do DEEP PUPRLE (finalmente) e isso me fez relembrar daquela jornada 'psicodélica' que rolou comigo em relação ao meu incontrolável amor por essa banda britânica sem igual! 
(NR: Este relato à seguir foi postado originalmente no site A BARATA www.abarata.com.br  onde nasceu a TOCA DO SHARK ainda como coluna nos idos de 2003).

    Tudo começou em 1997, na verdade começou bem antes, quando comecei a me apaixonar pelo som do PURPLE, mas, vamos pular esta parte e ir direto a 1997 quando o DEEP PURPLE aterrissaria no Brasil pela segunda vez (a primeira foi em 90 com Joey Lynn Turner nos vocais e Blackmore na guitarra), com a turnê do excelente “Purpendicular” de 1996 e pela primeira vez com o mestre Ian Gillan à frente da situação.   Como moro no estado de SP, iria vê-los no Olympia, tradicional casa de shows de Sampa. Eu tinha 17 anos na época, era office-boy e o show rolaria numa quarta e numa quinta-feira, "dane-se" foi o que eu pensei. Saí do trabalho às 17:00hs, tomei um 'banho de gato' e rumei para a rodoviária com a grana contada! 

    Chegando à porta do Olympia, qual foi a minha surpresa (veja como eu era bobo naquela época!), os ingressos já haviam esgotado, era uma quinta-feira, no dia seguinte precisaria estar em pé às 7 da manhã e estava a 3 horas de distância de casa, às 21:00 hs na frente da casa de shows onde os 'monstros sagrados' do DEEP PURPLE tocariam e o pior, sem ingressos. Os cambistas estavam pedindo uns 300% a mais do que o valor real. Não poderia comprar, se comprasse eu não teria grana pra voltar pra casa, só me restou sentar na calçada em frente ao Olympia e chorar, chorar e chorar... Eu não era o único que estava 'fudido' de raiva lá fora, mas, só interessava a mim mesmo o que eu sentia, Desespero! De lá de fora eu ouvi a banda começar a tocar, pra não me revoltar mais e cometer uma 'insânia' qualquer, rumei de volta ao Terminal de Ônibus Tietê, com uma promessa a ser cumprida no futuro, lá, sentado naquela calçada com as lágrimas escorrendo no rosto, prometi à minha própria alma: "Antes de morrer, hei de ver o DEEP PURPLE ao vivo!" 

    Dois anos se passaram desde então, logo no começo de fevereiro de 1999 foi anunciada a vinda do DEEP PURPLE divulgando seu novo play “Abandon” de 1998 mas também a coletânea de 30 anos “30: Very Best of...” ao Brasil pela terceira vez, desta vez no Via Funchal também na capital paulista, além de Campinas, mais perto da minha casa, mas fiz questão de ir até São Paulo para ter certeza de vê-los, mesmo gastando o dobro! Afinal, um ano antes vivemos em Campinas a decepção de um não-show do IRON MAIDEN (vejam como foi http://tocadoshark.blogspot.com/2018/12/iron-maiden-helloween-em-campinas-20.html)
    Com um mês de antecedência tratei de comprar meu ingresso via telefone (que Internet que nada), depositei a grana direitinho e nada do ingresso chegar, a data de 19 de março de 1999 (sexta-feira, dia do show em Sampa) estava se aproximando e o meu ingresso não vinha, eu gastei uma fortuna em telefonemas ao escritório da empresa (ir)responsável pela venda dos ingressos, até cheguei a ameaçá-los dizendo que iria processá-los pela palhaçada...eis que, no dia do show, logo pela manhã chegou um envelope em casa, eu tinha saído e ninguém estava em casa para receber o tal envelope endereçado às minhas mãos, (teria de ser entregue em mãos). Quando vinha eu lá na esquina avistei um moto-boy sair da frente da minha casa, eu me toquei do que poderia ser e saí feito doido gritando atrás da moto até que o rapaz me viu e parou, me entregando o envelope e um documento de entrega para assinar, agradeci ele umas mil vezes por ter me esperado, pois dentro daquele envelope estava o MEU INGRESSO, e, pasmem, vinha acrescido de mais um, sim, mais um convite para o show (que depois vendi na porta do show por R$40,00 que era o valor real do ingresso e com a grana comprei uma camiseta oficial do show e ainda sobrou pro taxi de madrugada), ou seja, um par de ingressos...ri à toa! Procurei alguns amigos e ninguém poderia ir, sendo assim, fui eu sozinho para a rodoviária lá pelas 4 da tarde munido de grana e meus 2 ingressos.


    Peguei o busão na rodoviária lá pelas 17:00hs e rumei à Sampa. O ônibus estava bem vazio, só eu e umas 5 pessoas, sentei mais ou menos no meio, do lado esquerdo e fiquei vendo a paisagem, de repente, quando o ônibus estava passando por Jaguariúna (cidade do interior paulista, pouco antes de Campinas) uma garota de seus 16 anos mais ou menos literalmente 'emergiu' do fundo do ônibus, passando ao meu lado em direção à frente do ônibus com intenção de descer logo à frente, ela era loirinha, magra, cabelos channel e trajava um longo vestido de tom azulado, beirando o 'púrpura', com uma pasta na mão esquerda e um crucifixo no pescoço, ela passou, me olhou e eu nem dei atenção, achando se tratar de alguma missionária chata, ela voltou para trás, se dirigiu à mim e perguntou meu nome, eu, desligado na minha, retruquei: "Desculpe, o que foi?", nesta hora percebi que seu crucifixo era na verdade uma cruz egípcia 
 de Ansata (ou Ankh), ela repetiu a pergunta e eu logo me liguei e falei meu nome: "Alexandre...", sem muita cerimônia ela se inclinou sobre a poltrona vazia ao meu lado e estendeu sua mão direita, eu estendi a minha para cumprimentá-la como todos fazem, mas ela virou as costas da minha mão para cima e beijou-a dizendo em seguida: 
"Condenados são todos aqueles que nos julgam!" se virou e desceu do ônibus naquele minuto no meio da estrada... 

    Eu fiquei pasmo e sem reação alguma, ela desceu, retomei a razão e olhei janela à fora onde não encontrei ninguém, nem mesmo rastro da moça... tratei de limpar minha mão no banco do ônibus e fiquei 'griladão' com aquilo... pensei: "Será que vou morrer? Bem, se eu tiver que morrer, vai ter que ser depois do show!" sorri e me voltei para a paisagem esquecendo assim do que rolou. 
    Depois de muito rodar a 'capital do ROCK' de metrô e busão durante horas e gastar mais um bom tempo na fila do lado de fora do Via Funchal, estava eu dentro da casa, com aquele "Cheiro de Ansiedade no Ar", estaria eu em instantes realizando uma promessa e mais do que isso, um sonho de infância que nunca antes pensei que poderia. 

    Comprei uma camiseta oficial do show (com aquela grana do ingresso extra vendido na porta), ela era (e ainda é) 'púrpura' e tinha na frente aquela 'bola na água' da capa do CD "30: Very Best of DEEP PURPLE". 
Sim, é a minha e ainda está aqui

    O show começa quente...tava muuuuuito quente lá dentro, eu com aquela camiseta por cima de uma do KISS que trajava antes e aquelas botas plataformas de 10 cm de altura bem pesadonas... tirei as 2 camisetas e o calor continuava, comecei a delirar, estava lá na frente mesmo, esmagadão nas primeiras músicas, mas depois a galera relaxou e tudo se normalizou, para os outros pois eu estava caretão e 'vendo coisas'... via o rosto das pessoas à minha volta brilhando em tons azuis e 'púrpuras', como aqueles deuses indús, manja? Parecia que todos usavam glitter no rosto, mas os músicos no palco estavam normais, estranho, muito estranho! De repente a vista embaçou geral, pensei "a pressão caiu..." olhei pro lado e vi lá no fundo uma luzinha acessa, deduzi ser o bar da casa, e era, logo estiquei os braços pra frente, pra tirar quem tivesse no meu caminho, e rumei pra lá, com as camisetas nos ombros, ensopado de suor. Olhei pro barman e falei "Água!" e ele me deu uma daquelas garrafinhas de 600ml, sentei num degrau e matei-a todinha num gole só...naquela eu retomei a visão e meus sentidos, adivinha que som estavam tocando? ‘Strange Kind Of A Woman’, logo me lembrei da moça, o vestido dela era da mesma tonalidade de cor que eu estava vendo no rosto dos outros pouco antes... bizarro não? 
    Me lembrei do q/ tinha pensado antes, sobre eu morrer, morreria depois do show...rs 

    Voltei lá pra frente e curti o show até acabar... tempos loucos e mais orgânicos aqueles... e a ‘strange kind of a woman’ deve ter ficado por perto quando precisei, sabe-se lá... hahahahah...
    Em 2000 o DEEP PURPLE veio pro Brasil mais uma vez, desta vez, com RONNIE JAMES DIO e Orquestra, perdi essas apresentações, isso me dói à beça na alma, mas tudo bem, voltei a vê-los mais duas vezes, uma em 2003 e outra em 2017, além do saudoso JON LORD com a Orquestra de Câmara de São Paulo na Virada Cultural de 2009, ou seja, 10 anos após a minha primeira overdose-púrpura, coisa que a gente nunca esquece!

"...and if you hear me talkin'on the wind, you've got to understand we 
must remain... PERFECT STRANGERS..." 

o show de Campinas nem estava no merchandising