Na noite do dia 03 de Março deste ano me deparei com uma postagem de um amigo no Facebook, era um clipe da banda de Thrash norte-americana HIRAX. Logo comentei com ele que um brasileiro tinha passado pelo line-up da banda anos antes e apresentei a atual banda desse brasileiro, a saber, Fabrício Ravelli que eu conheci pelos idos de 2001 quando era o baterista da formação 'anos 2000' do tradicional HARPPIA. Esse meu colega comentou que sabia dessa banda brasileira e estava pesquisando sobre e acabou indo até o HIRAX e um terceiro amigo entrou na conversa falando que o Fabrício iria tocar na nossa cidade dali 2 dias com essa sua atual banda, o IMBYRA. Eu sabendo disso logo corri atrás de uma entrevista com os caras que se apresentaram aqui na nossa Mogi Guaçu no Dinossauro's Rock Bar ( https://www.facebook.com/profile.php?id=100008202318071&fref=ts ) no centro da cidade acompanhados de outro grande nome da nossa cena atual, o ECLIPTYKA.
Agradeço aos amigos em questão Ravi Menegasso e Wesley Fernandes por terem me avisado do show deles e ao Dino proprietário do bar por abrir as portas para a Toca do Shark fazer essa entrevista que eu trago até vocês agora.
Danilo (g), Anderson (bx), Fabrício (v/g), Guilherme (bt) |
ENTREVISTA com a banda IMBYRA – 06/03/2015
Fabrício Ravelli (g/v), Danilo Bonano (g), Anderson de
França (bx), Guilherme Figueiredo (bt)
TOCA DO SHARK – No começo dos anos 2000 você Fabrício foi
baterista do HARPPIA, depois de uma parada da banda você foi pros EUA e tocou
com o HIRAX e na sua saída do HIRAX você montou o IMBYRA na California ainda,
conte-nos mais como foi esses primeiros anos.
FABRÍCIO RAVELLI – Eu saí do HIRAX em 2008 e depois fiquei 3
meses fora do HIRAX e nesses 3 meses fora eu montei o IMBYRA em Huntington Beach
na California, mas depois o HIRAX me chamou pra fazer a turnê mundial do disco
que gravei com eles, o “Chaos and Brutality”, só que eu já estava com o IMBYRA
como prioridade, então eu só fiz a turnê e voltei pra gravar com o IMBYRA o que
seria o primeiro “I Now Proclaim” lançado em 2009.
TS – O curioso foi que você trocou de instrumento, pois voce
era conhecido como o baterista e de repente você pegou uma guitarra e tomou a
frente do palco cantando e tocando, porque isso?
FR – Cara, foi porque eu tava cansado de carregar a bateria
(risos). Foi ainda nos EUA, o primeiro disco do IMBYRA eu ainda gravei a
bateria, só gravei o vocal de uma música, mas quando a gente terminou a turnê
de divulgação do “I Now Proclaim” tanto lá quanto aqui, eu, que já tinha
cantando várias vezes a música que gravei, que foi ‘Over Lashed Out’, eu me
sentia muito bem cantando, tocando guitarra e falando com o público.
Fabrício Ravelli (vocal/guitarra) |
TS – Mas o primeiro disco do IMBYRA foi um ‘projeto de um
homem só’?
FR – Cara, quem gravou o disco foi eu e o produtor do disco
somente. Aí, quando acabou o álbum eu chamei uns amigos de Huntington mesmo,
grandes músicos e não eram contratados nem nada, éramos uma banda mesmo. Viemos
pra São Paulo, fizemos alguns shows aqui, voltamos pros EUA, mas depois de dois
anos, isso já em 2011 eu voltei pro Brasil em definitivo. O IMBYRA passou por
algumas formações até lançarmos o “The Newborn Haters” em janeiro de 2014 que é
o nosso mais novo álbum, aí, isso é igual uma empresa, a empresa vai chegando
num nível e você vai sentindo que aquelas pessoas não estão acompanhando o
ritmo da empresa e atualmente o IMBYRA são essas quatro pessoas aqui, se não
forem elas, não é o IMBYRA (a saber, Fabrício, Anderson, Guilherme e Danilo).
TS – E o que quer dizer ‘Imbyra’ (pronuncia-se Imbirá)?
FR – Olha só, eu tava nos EUA com uma puta saudade do
Brasil, só ouvia som nacional e pesquisava na história do Brasil coisas
relacionadas à fauna e flora, cultura indígena e surgiu essa árvore enorme que
é tipo Pau Brasil, em extinção, mas é muito forte, grande, enraizada e com
cipós fortíssimos, isso é Imbyrá!
TS – Falando agora com o restante dos músicos, se
apresentem, por favor:
DANILO BONANO – Eu sou o último que entrou na banda, fazem
apenas 6 meses que entrei na banda, mas eu toco com o Guilherme desde criança,
sei lá, tínhamos uns 10 anos de idade quando começamos a primeira banda.
ANDERSON De FRANÇA – Já deve ter uns 2 anos que eu voltei a
tocar com o Fabrício pois, assim como o Danilo e o Guilherme que tocam juntos
desde criança, eu e o Fabrício também nos conhecemos desde os 14, 15 anos de
idade, quando montamos a primeira banda, depois os caminhos se separaram e nos
re-encontramos há 2 anos, é um prazer tocar de novo com esse puta profissional,
parceiro e amigo e também uma honra pra mim conhecer outros dois grandes
músicos, profissionais e que se tornaram dois puta amigos, esse é o IMBYRA
agora, como o Fabrício já falou antes.
TS – E você Guilherme, como é tocar na banda que tem um
baterista como fundador, tem muita ‘cobrança’, pega no pé?
GUILHERME FIGUEIREDO – Nada cara, ele é tipo um professor
assim, ele me dá altos toques de como fez as viradas, ele me ajuda, isso é o
lado bom, mas o cara além de gravar de uma forma espetacular, ele é super
cabeça aberta, eu trago umas idéias, a minha interpretação, ele aceita e eu me
sinto lisonjeado porque ele é meio que um gênio, um puta batera que por acaso
canta pra caralho, dá uns berros monstruosos e ainda toca guitarra...
FR – Eu sou o passado e o Gui é o presente...(risos)
Guilherme Figueiredo |
TS – E falando em outros trabalhos, destaquem seus
principais trabalhos anteriores.
GF – Eu e o Danilo tivemos um projeto numa escola de música
quando éramos crianças, era um projeto do nosso professor que queria lançar um
livro com CD com as crianças tocando, chamava-se BARATAS DE JAQUETA, era um
projeto infantil, tínhamos 10 anos, depois disso tocamos na Rede Globo no
programa ‘Gente Inocente’ e esse foi nosso ponto de partida. Na área do
Rock/Metal eu gravei com o PROJECT 46 o álbum
“Doa a Quem Doer” e um EP também, depois tive um outro projeto chamado DEFENSA
e agora entrei no IMBYRA.
AF – Eu toquei com o Fabrício numa banda underground chamada
CHASING FEAR e depois toquei com uma turma de onde saíram duas bandas, uma era
o SCARS e a outra o CHAOSFEAR, eu fiquei com o CHAOSFEAR por 13 anos onde
gravei 2 CD’s lançados nos EUA e eu saí há uns 2 anos e meio e entrei no
IMBYRA.
Anderson De França |
FR – O mais triste do Underground é que agora as bandas não
estão ficando mais na ativa, é uma coisa fugas, dura muito pouco e quando o
IMBYRA veio pra cá eu trouxe muita bagagem do HIRAX, claro que é um cenário bem
diferente o nosso do deles, mas aqui o produto nacional ainda que seja muito
bruto, tem muita gente profissionalizando a cena, tem muita banda levando a
coisa a sério mesmo, como o ECLIPTYKA que está aqui tocando com a gente esta
noite, tem bandas muito fudidas e que estão se juntando pra fazer a coisa toda
funcionar...
TS – Vocês se envolveram com um coletivo recentemente...
FR – É, tá rolando o movimento que é o ‘Coalizão Metal
Brasil’ que é do pessoal do TAMUYA do RJ que a gente gosta demais, são muito
brothers e a gente tá juntando bandas de estados diferentes, eu acredito muito
que a cena nacional está se encontrando, devagar mas está, esse papo de
desunião tá ficando no passado e sim, está sendo bem lenta a progressão, mas
está se encontrando. Você não tem incentivo do Governo pra esse tipo de música
no Brasil como se tem na Europa, onde é muito fácil se fazer uma turnê. Nos EUA
quando lançamos o primeiro disco, fizemos uma turnê americana de 18 datas, uma
em cima da outra, porque lá ser músico é uma profissão, é levado como uma coisa
séria mesmo e aqui no Brasil as bandas estão começando a ver que a coisa toda
tem que ser levada a séria também, e tem muita banda da nova cena, da nova
safra que está encarando assim, a cena tá se encontrando e só tem a se
fortalecer.
Danilo Bonano |
TS – Assim como você mesmo disse, são duas realidades, a
Europa e os EUA são o berço de estilo, aqui não, além de outros tantos fatores
culturais que nem vem ao caso ficarmos citando agora, todos já sabem de cor
quais são...
DB – Está mudando até o público daqui, pois o público antes
só dava valor pras bandas que vinham de lá pra cá, hoje eles estão dando mais
valor pras bandas daqui de dentro do Brasil. Estão surgindo pessoas que, como
você, estão criando canais de divulgação pras bandas nacionais, pessoas que
estão valorizando os shows, divulgando, chamando os amigos, comparecendo, indo
atrás, isso tá ficando cada dia mais legal.
TS – Eu acho que uma das coisas que está fazendo isso tudo
acontecer também é uma ferramente que, ao mesmo tempo que ajuda, atrapalha, que
é a Internet, um território livre onde se divulga gratuitamente todo tipo de
arte, está tudo à um clique de distância, no Youtube você pode achar TUDO que
tiver afim de conhecer, basta você querer, mas que faz algumas pessoas não
saírem mais de casa...
FR – Você pega o próprio ECLIPTYKA que está tocando agora,
durante a nossa entrevista, é uma puta banda que não deixa a desejar nada, pra
banda nenhuma lá de fora, isso nos deixa muito motivados, ver que a qualidade
das bandas está crescendo absurdamente. 2014 foi um anos super produtivo pra
nós, fizemos shows de vários portes, tocando com bandas de lá de fora, de
bandas daqui, pudemos conhecer muitas bandas boas aqui do Brasil e o que o
Danilo falou é verdade, as pessoas estão começando a reconhecer a qualidade das
bandas daqui, estão começando a frequentar mais os shows, tão vendo que fica
mais barato ver uma banda daqui que tem a mesma qualidade daquela
internacional, o que falta apenas é investir mais em estrutura, as casas de
shows do Brasil muitas vezes deixam isso à desejar, esse tem que ser o próximo
passo, mas já tá mudando. A Toca do Shark, é esse tipo de iniciativa que
valoriza muito a cena, que o público precisa, que a gente precisa. Você vem
aqui, esse tipo da imprensa especializada, seja de forma impressa, online, essa
é a maior chave que esse movimento tem hoje de se expandir, de ajudar a
organizar, muita gente vai conhecer o IMBYRA através do teu blog, então já
deixo meus parabéns registrado a você, ao teu blog, aos teus leitores, isso que
o Brasil precisa na web.
TS – Eu penso que é tudo uma questão de bom senso, até
recentemente lancei esse raciocínio no meu perfil do Facebook, ‘Será que seu eu
não tivesse me metido a montar uma banda, gravar uma demo um dia, pegar num
instrumento musical, eu daria tanto valor assim às bandas nacionais?’ E a
repercussão foi imediata de músicos com 20 até 30 anos de carreira, é uma
impressão de que o público seja alheio a essa realidade, pois o que vemos muito
é uma platéia cheia de músicos para verem outros músicos enquanto o público
alvo está pagando R$300,00 para ver um cover de Pink Floyd feito na Austrália
se apresentando em São Paulo, em detrimento de pagar R$12,00 para verem bandas
nacionais que rodaram a Europa e os EUA e aqui tocam para 10 ou 20 pessoas...
FR – É, existe ainda essa mentalidade, mas que está mudando,
não podemos é pensar nisso à curto prazo, eu acho que a coisa está se
transformando no Brasil, mas devagar.
TS – “The Newborn Haters”, o nome é bem sugestivo, com esse
monte de gente odiando tanta coisa diariamente nas redes sociais.
AF – Todo mundo odeia tudo, mas qual é a sua verdadeira
posição pra isso? O quanto você vive isso que você defende?
FR – Esse disco começou a ser escrito em 2013 e trata do
fato de ‘não tem como você falar que você consegue exercer a sua cidadania no
Brasil sem você interferir na política que vai influenciar no teu presente e no
teu futuro’. É a nossa postura de pensar que hoje em dia não há como você dizer
‘...não tenho nada à ver com isso que tá acontecendo lá...’ claro que tem, tudo
vai influenciar em tudo, não importa a distância. Na nossa cidade, no nosso
bairro, no nosso estado, a gente chegou num ponto em que temos que ter uma
postura, o “The Newborn Haters” vem pra mostrar que essa é a nossa postura de
que nós somos contra o jogo de interesses políticos que irão interferir na
nossa vida, no nosso cotidiano. Se ao invés de existir interesse
político existisse vontade política, tudo seria bem mais fácil pra vida
no cotidiano, seja pro músico ou pro cidadão de outro segmento social.
Hoje a cultura do
país está na mão das empresas, essa Lei Rouanet por exemplo, tá na mão das
empresas e elas sempre irão investir no segmento musical, nos artistas que tem
mais à ver com os parlamentares, que eles escolheram apoiar e nesse momento
acontece a divisão, o Metal vai pra lá, ninguém dá valor porque não tá
envolvido com isso e o Axe, o Funk vem pra cá, e não se democratiza, é tudo
interesse político.
Durante o bate-papo com a banda. |
DB – Hoje o pessoal do Metal não pode ouvir falar em
Sertanejo. A questão não é do sertanejo estar na TV, a questão é de você
aceitar a parte musical, hoje tá todo mundo no mesmo nível, o Metal é musical,
mas hoje em dia não acontece mais isso. O Metal tá excluído então cria-se o
ódio, ah não vou gostar daquilo que tá lá na mídia porque sou Metal e vice e
versa...
FR – Lá em São Paulo (capital) o orçamento cultural é menos
de 1% dos 51 bilhões, então a gente expressa todo esse ódio à essa situação no
nosso disco. A gente toca todos sujos no palco pra expressar toda essa sujeira
política do dia a dia. O Brasil é um país muito rico e a gente é muito pobre de
cultura, todo mundo deveria ter espaço porque temos recursos e isso não
acontece aqui e o disco vem pra expressar esse sentimento de raiva de não
aguentar mais o que acontece no nosso país.
TS – Isso me fez lembrar uma coisa, vocês tocaram na Virada
Cultural da capital paulista, deve ter sido muito difícil entra na programação.
FR – 2010, com KRISIUN e PITTY. A Virada Cultural é um puta
negócio legal, mas eles não pensam no dia seguinte do músico, o que vai
acontecer na sequência da carreira deles. Nós tocamos pra 30 mil pessoas e a
gente vê que dá pra se fazer muito mais pelos artistas, mas tem muita
politicagem envolvida sim, muito Q.I. (quem indica). Infelizmente hoje ela tá
tomada pela violência, mas é algo que muita banda de Metal deveria subir
naquele palco, tanto que no dia que tocamos, eu falei ‘...quantos músicos devem
estar aí na platéia? Nós estamos aqui representando vocês, que no futuro, podem
sim subir aqui por meritocracia!”
TS – Pra finalizar, é de praxe deixarem seus recados aos
leitores.
GF – Independente de ser difícil a carreira de músico, eu
acho que se a pessoa gosta e se sente bem ela tem que se agarrar a isso e
correr atrás, ralar mesmo e seguir seu sonho.
AF – O IMBYRA faz o que faz de coração, a gente sente muito
prazer em tocar pra quem vem, veio e virá nos ver. Vamos ver o lado positivo da
Internet e buscar novas bandas, informações das próximas bandas que irão tocar
na sua área e sejam bem vindos, venham tomar uma pinga com a gente no próximo
show do IMBYRA.
DB – A gente tá aqui por que a gente gosta e quer,
independente das dificuldades, se tiver 15 pessoas ou 15 mil, iremos tocar,
porque a gente toca pra gente, não é egoismo, é prazer mesmo e a gente quer
passar isso pra quem tá presente.
FR – Primeiro agradecer
a TOCA DO SHARK e agradecer a quem está lendo e convidar esse pessoal a
se apresentarem à nós pelo www.facebook.com/imbyra
, www.instagram.com/imbyra , www.twitter.com/imbyra , www.imbyra.com, as mídias são diversas. E
quero parabenizar todas as bandas que correm atrás e ao público que vem em
nossos shows, convido à todos para virem ao nosso show na próxima passagem pela
região para conhecermos todos os leitores da Toca do Shark.
Fotos: Divulgação, Facebook da banda, exceto as creditadas, todas cedidas pela banda.
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