Vamos
imaginar a seguinte situação ridícula: Você é um pai de família de 26 anos,
trabalhador, morador do interior de São Paulo em pleno ano de 2006, com mais de
12 anos de experiência em shows internacionais de proporções desde festivais
até shows undergrounds em botecos ‘copo-sujo’.
Eis que de repente você vê na TV que a Maior Banda de Rock and Roll de todos os
tempos irá tocar na praia de Copacaba, Rio de Janeiro, de graça no mês de seu
aniversário. Logo você avisa a esposa e a família que você estará lá fielmente
para conferir aquele espetáculo único e sua mãe vira pra você e diz
categoricamente “Você Não Vai!”.
O quê? Mas como assim? Nunca disse não antes, apesar de não gostar nenhum pouco
desse estilo de vida que você leva. E ainda faz a cabeça do seu pai para
apoiá-la. O que você vai fazer? E porque o NÃO?
Pois foi
justamente essa situação ridícula que vivi há 10 anos atrás. Com o auxílio do
meu amigo e ex parceiro de banda Paulinho ‘Bomba’ eu fui
arquitetando como iria ver os ROLLING STONES e arrumamos uma excursão que não
deu certo e tivemos que arrumar uma
outra excursão para irmos eu e o Bomba ver a maior banda que já caminhou pela
Terra, uma de nossas maiores influências, sem dúvidas, mas tudo isso sem que
minha mãe interferisse, pois, na cabeça dela, Rio de Janeiro era uma espécie de
Sodoma ou Gomorra, ou algo pior e por ser um evento gigantesco de graça em
Copacabana ela temia por minha vida certamente, mas na base do grito eu afirmei
que iria sim e os comuniquei na véspera do show que sim, eu estava embarcando
naquela noite para o Rio e que eles assistissem a transmissão pela TV que, com
muita sorte, poderiam me ver em meio à diversão como sempre nesse show de Rock
de proporções apoteóticas!
Adesivo da ocasião, um dos poucos souvenires possíveis de se trazer daquele pandemônio nas areias de Copacabana |
Embarcamos numa
excursão que levou um ônibus cheio, um micro-ônibus (onde fomos) e mais uma van
na noite do dia 17 de fevereiro, seis dias após meu aniversário, uma sexta
feira quente para desembarcarmos na praia mais famosa do mundo na madrugada do
dia seguinte. Com alguns atrasos chegamos lá por volta das 7hs da manhã e
aquele lugar já estava tomado de gente de tudo quanto era parte da Terra e um
trânsito enlouquecedor, nosso motorista deu uma cochilada e encostou na
traseira de um Escort velho desencadeando uma das situações mais ridículas da
viagem, dois cariocas desceram e foram extorquir nosso motorista nos dando a
pior das boas vindas possível, alimentando aquele estigma que o carioca tem aos
olhos do restante do país, uma grande bobagem, sabemos disso, todo estigma é
uma falácia, mas esses elementos oportunistas é que dão a má fama aos
conterrâneos, sei que nós, de dentro do veículo morrendo de sono percebemos os
ânimos alterados do lado de fora do micro-ônibus que estava parado e resolvemos
descer, vários cabeludos mal-encarados, um deles ‘bombadão’, nosso amigo André ‘Maldito’ Luiz (que apresentava o
bloco de bandas nacionais do programa de rádio Coda On Line) resolveu perguntar
o que estava acontecendo, e logo mais uns cinco resolveram descer também para ‘resolver’
o problema e para nossa sorte, poucos metros à frente mais cinco amigos nossos da
nossa cidade natal, que resolveram encarar uma aventura dentro de um Opalão
cheio de cervejas, fitas cassete e uma bateria de caminhão para alimentar o
deck, estavam com seu grande Opalão detonado com um mega adesivo da língua no
capô sendo filmados pela TV Globo, eles também resolveram nos ajudar naquele impasse que logo foi
deixado de lado pelos nativos oportunistas deixando nosso motorista em paz para
estacionar num lugar e podermos desembarcar para aquele longo dia sob o sol da ‘Cidade
Maravilhosa’.
E sim, aquele
calor insuportável não me deixou ir de preto, logo selecionei uma camiseta
branca da banda MADE IN BRAZIL (do disco “Deus Salva... o Rock Alivia!!!”) para
ser minha vestimenta (fazendo par à um shorts jeans surrado, boné e um bom par
de havaianas... hehehe), pois pra mim o MADE IN BRAZIL seria a banda perfeita e
merecedora de tocar naquele dia, não os TITÃS, que estavam distante do Rock na
época, ou aquele tal Afroreggae, mas enfim, fiz minha homenagem aos
paulistas-stonianos que deveriam estar lá aquele dia e provavelmente estiveram
para assistir.
Vista geral do palco exclusivo pra este show no Brasil (reprodução da internet, meramente ilustrativa sem fins lucrativos) |
Rodando aquelas
areias clássicas encontramos gente de todas as etnias, raças, crenças, posições
sociais/filosóficas/políticas inimagináveis, funcionários públicos em greve
fazendo piquete (acho que eram os agentes penitenciários do RJ), hippies,
punks, rastas, malacos e malucos, rappers, headbangers, playboys, putas,
traficantes, trombadinhas, socialites falidas, camelôs de tudo quanto era
bugigangas relacionadas à banda, mais amigos e conterrâneos, vendedores de
vinil com uma gama sem fim de LP’s dos STONES para negociação, mas quem iria
arriscar comprar algo ali que levasse o dia todo em seu porte? Malemá consegui
trazer pra casa a tal latinha especial da cerveja Skol ‘Edição Rolling Stones 2006’! Enfim, a praia é o lugar mais democrático do
mundo, aceita todo tipo de gente e os STONES adorariam aquele espetáculo que,
segundo disseram os jornais da época, juntou 1 milhão e 300 mil espectadores em
terra firme ou não, pois a orla na hora do show ficou tomada de barcos e iates
luxuosos e vendo as imagens da época, facilmente encontradas na internet, no
youtube etc... vê-se um tapete gigantesco de seres humanos sedentos por Rock ou
simplesmente atrás do ‘oba-oba’ certeiro, mas quantos fãs estavam ali presentes
não importa, não estou aqui pra discutir tal fato, isso deixo pros radicalóides que só reclamam, estou aqui
pra exaltar a terceira passagem dos Maiores pelo Brasil, terceira passagem essa
que esta semana completa 10 anos, coincidentemente (ou não) a mesma semana em
que a mesma banda desembarca pela quarta vez no Brasil e tome ROCK AND ROLL
& BLUES na cabeça!
Saca só um pouquinho da galera presente naquela noite mágica (reprodução da internet meramente ilustrativa sem fins lucrativos) |
Daquela feita o
show foi transmitido via TV aberta e a cabo, desta vez, talvez não teremos essa
boiada, daquela vez gravaram aqui um DVD que saiu no ano seguinte num Box-triplo
que trouxe outros show da mesma turnê e um documentário feito no RJ seguido do
show quase inteiro (faltaram 3 músicas no DVD, uma delas aquela do disco de
trabalho na época “A Bigger Bang”, que foi feita em homenagem à Luciana Gimenez, a brasileira que engravidou do Mick Jagger em 1998 na segunda passagem
da banda pelo Rio, ‘Oh No, Not You Again’), vários clássicos, várias canções
novas, uma homenagem ao recém-falecido RAY CHARLES, uma ida ao palco menor em
meio à multidão (eu fiquei do lado desse pequeno palco), telões, muitos telões
espalhados pela orla, um palco exclusivo pra esse show no Brasil, único na
época e uma maldita área V.I.P. bancada pela empresa de celulares que pagou o
cachê da festa em parceria com a Prefeitura do Município do Rio de Janeiro.
Pois bem, segue
abaixo a trilha sonora daquele dia inesquecível que só quem viveu pra saber
como foi de verdade, por isso eu sempre digo aos leitores, saiam de casa,
abracem as oportunidades como essa, vão a shows ao vivo, pois no final o que
nos resta são as histórias pra contar, as boas histórias pra contar...
Ronnie Wood (g), Mick Jagger (v), Keith Richards (g/v), Charlie Watts (bt) THE ROLLING STONES |
SET LIST:
1. Jumpin’Jack
Flash/
2. It’s Only Rock and Roll/
3. You Got me Rocking/
4. Tumbling Dice/
5. Oh No, Not You Again/
6. Wild Horses/
7. Rain Fall Down/
8. Midnight Rambler/
9. Night Time is the Right Time/
(homenagem ao RAY CHARLES)
10.
This
Place is Empty/
11.
Happy/
12.
Miss
You/
(avanço
para o palco menor)
13.
Rough
Justice/
14.
Get
Off of my Cloud/
15.
Honky
Tonky Women/
(retorno ao palco principal)
16.
Sympathy
for the Devil/
17.
Start
me Up/
18.
Brown
Sugar/
19.
You
Can’t Always Get What You Want/
20.
(I
Can’t Get No) Satisfaction/
Mick Jagger na passarela do palco menor |
Texto dedicado
aos vários que lá estiveram e já se foram como o saxofonista que tocava com os ROLLING
STONES na época, BOBBY KEYS e nosso saudoso amigo Biscoitão que estava lá
conosco e um ano depois não estava mais ao nosso lado, aquele sim era uma
verdadeira ótima companhia para shows de ROCK AND ROLL!
as costas de uma camiseta pirata daquele show. |
o 'troféu' do dia! |
"A Bigger Bang" disco trabalhado na época do show |
"The Biggest Bang" o DVD resultante desta turnê mundial. |
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