O bom de se conversar com quem tem história é que os assuntos vão se entrelaçando e a pauta que era rápida e pequena se torna super extensa e detalhada.
Já tinha entrevistado Oswaldo 'Rock' Vecchione umas outras vezes e isso sempre se repete, porque ele TEM histórias para contar de sobra, sendo ele quem é, o mentor da primeira grande banda de ROCK AND ROLL do Brasil e a mais antiga em atividade ininterrupta, sim, o MADE IN BRAZIL, os assuntos nunca cessam, mas dessa vez garanto que me segurei pra não estender muito o papo afinal, a banda ainda tinha que passar o som depois da entrevista. E mesmo assim surgiram assuntos que não estavam na pauta, como a perna recém operada de Oswaldo que insiste em tocar com a perna quebrada e as versões de músicas de bandas internacionais que a banda fez ao longo de sua discografia, culminando numa polêmica que você lê à seguir somente aqui na TOCA DO SHARK.
Põe o vinil pra rodar e boa leitura!
TOCA DO SHARK – Oswaldo, vamos começar falando sobre o
momento atual da banda e o lançamento do álbum “Massacre” em vinil. Ele era pra
ter sido lançado em 1977 originalmente, foi censurado pela ditadura militar,
finalmente foi lançado em CD em 2005 e agora, 38 anos depois ele saiu no
formado que deveria em LP. Como está a aceitação?
OSWALDO ROCK VECCHIONE – O “Massacre” foi uma surpresa.
Na verdade a gente inicialmente fez uma tiragem pequena que já se esgotou. As
críticas foram bem favoráveis, não vi nenhuma falando mal, mas é o momento
político também, pois ele foi uma das vítimas da ditadura que prejudicou todo
terreno artístico desse país, não só a música, mas o teatro, filmes, literatura,
poesia e afins. Está nos planos fazer um “Volume II” até, com muita coisa que
não entrou nesse volume. No meu acervo encontrei muitas gravações da época em
K7, fita de rolo e VHS. Eu encontrei um show inteiro da turnê “Massacre” de
1977 no Teatro Tereza Rachel do RJ que tinha eu no baixo, meu irmão Celso, Tony
Babalú e Wander Taffo nas 3 guitarras, Juba (que depois foi pra BLITZ) na
bateria e o Percy nos vocais, talvez a gente aproveite 18 minutos desse show no
lado B e o restante do material não aproveitado será o lado A desse segundo
volume do disco “Massacre”.
T.S. – Então podemos esperar com total certeza um segundo
volume desse disco?
O.V. – Sim. Na verdade eu fiz um acordo com o pessoal da
Mafer Records de São Paulo, que já lançou outros títulos em vinil no país, eles
fazem uma tiragem limitada de 300 LP’s, só pra colecionador. O Danilo da Mafer
me falou que vendeu quase tudo já que ficou com ele na loja e que pretende
re-lançar esse volume I mas só daqui uns dois ou três anos. Mas ainda nesse
ano, entre outubro e novembro sai o segundo volume. E também estou negociando
um tributo ao Cornélius Lúcifer, com material ao vivo que tenho em meu acervo.
Ainda estou selecionando o que pode ou não entrar pra gente lançar um LP bacana
em tributo ao cara, que ele merece.
T.S. – Aproveitando o gancho, esse disco, o “Massacre” já
tem dois integrantes que não estão mais entre nós, que é o guitarrista Wander
Taffo que nos deixou há 7 anos e o vocal Percy Weiss que nos deixou há pouco
mais de 2 meses, além do citado Cornélius Lúcifer que se foi há pouco menos de
2 anos. Amanhã vai ter um grande show em homenagem aos dois vocalistas na
Virada Cultural de SP com alguns convidados e eu gostaria que você falasse mais
sobre esse show.
O.V. – O show da Virada seria um tributo somente ao
Cornélius, o Percy estava ‘costurando’
esse show todo junto à organização da Virada, ele iria participar inclusive,
cantando com uns convidados, mas ele acabou falecendo antes e então eu resolvi
propor à direção da Virada estender essa homenagem também ao Percy.
O lance seria
somente o repertório do primeiro disco que o Cornélius gravou, o “Made in
Brazil” (1974) também conhecido como “disco
da Banana”, como o pessoal da Virada aprovou minha ideia, iremos tocar
cinco músicas do “Banana” e mais cinco do “Jack, o Estripador” (1975) que o
Percy gravou conosco. Os convidados são Simbas (ex-CASA DAS MÁQUINAS), Pompeu
do KORZUS, Dino Linardi que cantou na última formação do GOLPE DE ESTADO e
Paulão de Carvalho das VELHAS VIRGENS.
T.S. – E falando em vocalistas do MADE IN BRAZIL, o que
aconteceu com o Caio Flávio?
O.V. – Ele trabalhou muitos anos com a orquestra do
Silvio Santos e atualmente trabalha com o Zezé de Camargo & Luciano há uns
15 anos.
T.S. – E sobre essas duas turnês que o MADE planejou para
esse ano, “Massacre” e “Combate Rock”...
O.V. – ...a turnê desse ano é a “Combate Rock”. Esses shows especiais que nós montamos, tipo o de
amanhã na Virada, o “Massacre” e o “Jack...” que a gente tinha combinado
com o Percy, logicamente iremos fazer ainda, mas com algum convidado no lugar
dele, temos vários shows montados, mas o que a gente excursiona pelo país é o “Combate Rock” que tem um repertório que
passa por todos discos que nós gravamos.
T.S. – E aquela turnê que teriam standarts do Rock and Roll e do Blues mundial?
O.V. – Era a turnê que durou até o ano passado, durou um
ano e meio, o “Rock Tributo” onde a
gente misturava umas versões dos clássicos do Blues e do Rock mundial ao nosso
repertório. Agora a gente mudou o set e mudamos o nome do show. Esse atual tem
mais os sucessos, aquele tinha mais Blues, versões que fizemos de clássicos que
gravamos nos discos oficiais da banda.
T.S. – Pegando esse gancho, o MADE tem algumas versões em
português gravadas em seus discos, de bandas como T.REX, MUDDY WATERS, AC/DC...
O.V. – Isso, FREDDIE KING, alguns números que foram
versões como ‘Mickey Mouse, a Gata e eu'...
T.S. – E a ‘Minha Vida é Rock and Roll’?
O.V. – Não, ‘Minha Vida é Rock and Roll’ não é versão.
Algumas pessoas cismaram que a música parece um som do BOB SEGER (N.E.: a
música se chama ‘Old Time Rock’n’Roll’), mas a nossa composição é anterior à
dele. Essa música era pra ter entrado no disco “Paulicéia Desvairada”, que é de
1978, (N.E.: curiosamente o mesmo ano em que saiu o disco do BOB SEGER “Stranger in Town”), mas é uma música que
escrevi em 1977, assim que gravamos o “Massacre” eu escrevi ela. O Caio Flávio
que era nosso vocalista cismou com essa música e não gravamos naquele ano. Daí
saiu no disco de mesmo nome em 1981. Eu tenho esse disco do BOB SEGER, a música
é muito boa, o jeito de cantar o refrão que é muito parecido, mas comprei ele uns
três anos depois. Admito que temos muitas versões, mas ‘Minha Vida é Rock and
Roll’ não é uma versão.
T.S. – Sobre a relação da banda com a Internet, como é?
Falaram tanto que o mercado musical seria assassinado pelo Napster, mas uma das
coisas que faz o Rock independente sobreviver em muitos casos é a relação da
banda com a Internet, pois aproxima mais o artista de seus fãs sem
intermediários...
O.V. – A única coisa que a Internet prejudicou aqui no
Brasil foi a venda de discos, com o lance da pirataria e outro as gravadoras
sempre cobravam preços absurdos aqui por um disco. Atualmente é mais barato
você comprar um disco importado que tem uma qualidade superior do que um feito
aqui no Brasil. Sai mais barato. Os caras (gravadoras) aqui não querem ganhar
pouco não, querem muito. Acho até legal eles tomarem esse tombo pra ver se eles
repensem os preços que praticam aqui no Brasil.
Pro MADE isso não
tem muita importância porque a banda há muitos anos é Underground. O disco que
mais vendeu da banda foi “Jack, o Estripador”, segundo a gravadora, pois o
disco não era numerado então eles pagavam o quanto eles queriam pro artista.
Dizem que foram 87 mil discos e o “Banana” 80 mil. Era razoável, mas
seguramente passou dos 100 mil discos os dois, porque até hoje vem gente trazer
uma cópia pra gente autografar... Mas a Internet não nos atrapalha, pois não
estamos mais numa multinacional como nos dois primeiros discos, os últimos seis
discos foram produções independentes com tiragem de 2000 cópias, no máximo 5000
cópias, isso a gente vende fácil nas poucas lojas que ainda resistem, pela
própria Internet e nos shows principalmente, onde montamos uma lojinha e
vendemos Brasil afora.
Conforme dito acima, Oswaldo autografando... |
...o disco da banda que mais vendeu. |
T.S. – O MADE IN BRAZIL tem uma vantagem de ser uma banda
pioneira no Brasil e ainda atrair público, o que não acontece com várias
bandas, que tiveram uma queda brusca em matéria de público devido à ‘preguiça digital’ conforme vemos há
tempos. As pessoas não saem mais de casa pra ver show, ficam esperando cair no youtube... O GOLPE DE ESTADO e a
PATRULHA DO ESPAÇO mesmo recentemente publicaram notas na Internet falando
sobre esse assunto que estão parando de produzir shows.
O.V. – Eu produzi muitos shows entre 60% e 70% dos shows
que fizemos de 1975 até 1989. Daí então dei uma parada porque não estava
compensando mais, então começamos a fazer somente shows com cachê fechado. Por
exemplo, eu queria tocar em Campinas ou Porto Alegre, eu tentava vender o show.
Se eu não conseguisse, eu mesmo alugava o local e bancava o show com
equipamento, luz e tudo mais com meu dinheiro.... Imagina você encher um ônibus
com músicos mais um caminhão com equipamentos e ir até Porto Alegre ou Salvador
sem garantia nenhuma de que o público vá aparecer? Numa sequência pelo interior
de SP eu vendia três shows e produzia dois, a agenda de shows era muito maior
que hoje, mas era muito desgastante e eu sinto falta de produzir, mas os riscos
financeiros são muito grandes.
Mesmo sentado, ainda na ativa! |
T.S. – Recentemente você apareceu nos shows com a perna
direita engessada e continua fazendo shows, inclusive o de hoje e o de amanhã
serão com sua perna imobilizada, nos fale sobre isso.
O.V. – Eu estava fazendo uma trilha ali perto de onde
moro atualmente, no Pico do Jaraguá, entrada de São Paulo e cai num barranco de
uns 7 metros e tive a infelicidade de tirar o calcanhar do lugar e quebrar o
tornozelo, tive duas fraturas. Tive que me submeter a uma cirurgia, fiz show
com a perna quebrada ainda antes da cirurgia, fiquei 10 dias internado e eles
não me operavam, pedi para sair, fui ensaiar e fazer o show do lançamento do
“Massacre” no SESC Belenzinho. Agora hoje e amanhã na Virada é diferente, eu já
operei, ainda dói um pouco, ainda estou proibido de botar o pé no chão, só
daqui uns 40 ou 50 dias que vou ter alta pra poder pisar com o pé direito, até
lá to fazendo fisioterapia e fazendo shows, o Rock não para, o que vai
acontecer é que vou tocar sentado, só isso...
T.S. – Uma coisa que você já fez na época em que o MADE
fez os shows acústicos né?
O.V. – Sim, mas na época eu fiz uma cirurgia e tive que
refazer, ou seja, operei duas vezes seguida de uma hérnia que eu tive na
virilha.
T.S. – Bem, vamos encerrar com o espaço aberto para suas
considerações aos fãs.
O.V. – Eu quero divulgar nossa página no Facebook, uma
página atualizada diariamente, o endereço é https://www.facebook.com/madeinbrazilbanda?fref=ts
. Nosso site esta desatualizado, mas em breve vamos dar um jeito nisso. Então o
contato atual mesmo é o Facebook. O MADE continua na estrada, acabamos de
lançar uma revista pôster, o vinil do “Massacre”, daqui á mais ou menos um mês
será relançado o disco “Sexo, Blues e Rock and Roll” em digipack com bônus ao
vivo e logo mais vai sair o “Rock de Verdade” e o “Massacre” em digipack
também. É isso, obrigado venham aos shows e fiquem à vontade para conversar com
a banda toda!
Os dois maiores responsáveis por ainda existir Rock and Roll no Brasil, Oswaldo 'Rock' Vecchione e Celso 'Kim' Vecchione a.k.a. MADE IN BRAZIL |
Agradecimentos
ao Samuel Profeta da casa O Profeta Pub Rock de Mogi Guaçú/SP.
MUITO LEGAL!!! VIVA MADE E VIVA O SHARK!!! ;)
ResponderExcluirO Shark e o Made agradecem o carinho e o astral. Rock and Roll Marcio!
Excluir