segunda-feira, 1 de julho de 2019

“2019, 20 anos da minha primeira ‘Psico aventura púrpura” DEEP PURPLE em SP


    Este ano de 2019 estão completando 20 anos do meu primeiro show do DEEP PUPRLE (finalmente) e isso me fez relembrar daquela jornada 'psicodélica' que rolou comigo em relação ao meu incontrolável amor por essa banda britânica sem igual! 
(NR: Este relato à seguir foi postado originalmente no site A BARATA www.abarata.com.br  onde nasceu a TOCA DO SHARK ainda como coluna nos idos de 2003).

    Tudo começou em 1997, na verdade começou bem antes, quando comecei a me apaixonar pelo som do PURPLE, mas, vamos pular esta parte e ir direto a 1997 quando o DEEP PURPLE aterrissaria no Brasil pela segunda vez (a primeira foi em 90 com Joey Lynn Turner nos vocais e Blackmore na guitarra), com a turnê do excelente “Purpendicular” de 1996 e pela primeira vez com o mestre Ian Gillan à frente da situação.   Como moro no estado de SP, iria vê-los no Olympia, tradicional casa de shows de Sampa. Eu tinha 17 anos na época, era office-boy e o show rolaria numa quarta e numa quinta-feira, "dane-se" foi o que eu pensei. Saí do trabalho às 17:00hs, tomei um 'banho de gato' e rumei para a rodoviária com a grana contada! 

    Chegando à porta do Olympia, qual foi a minha surpresa (veja como eu era bobo naquela época!), os ingressos já haviam esgotado, era uma quinta-feira, no dia seguinte precisaria estar em pé às 7 da manhã e estava a 3 horas de distância de casa, às 21:00 hs na frente da casa de shows onde os 'monstros sagrados' do DEEP PURPLE tocariam e o pior, sem ingressos. Os cambistas estavam pedindo uns 300% a mais do que o valor real. Não poderia comprar, se comprasse eu não teria grana pra voltar pra casa, só me restou sentar na calçada em frente ao Olympia e chorar, chorar e chorar... Eu não era o único que estava 'fudido' de raiva lá fora, mas, só interessava a mim mesmo o que eu sentia, Desespero! De lá de fora eu ouvi a banda começar a tocar, pra não me revoltar mais e cometer uma 'insânia' qualquer, rumei de volta ao Terminal de Ônibus Tietê, com uma promessa a ser cumprida no futuro, lá, sentado naquela calçada com as lágrimas escorrendo no rosto, prometi à minha própria alma: "Antes de morrer, hei de ver o DEEP PURPLE ao vivo!" 

    Dois anos se passaram desde então, logo no começo de fevereiro de 1999 foi anunciada a vinda do DEEP PURPLE divulgando seu novo play “Abandon” de 1998 mas também a coletânea de 30 anos “30: Very Best of...” ao Brasil pela terceira vez, desta vez no Via Funchal também na capital paulista, além de Campinas, mais perto da minha casa, mas fiz questão de ir até São Paulo para ter certeza de vê-los, mesmo gastando o dobro! Afinal, um ano antes vivemos em Campinas a decepção de um não-show do IRON MAIDEN (vejam como foi http://tocadoshark.blogspot.com/2018/12/iron-maiden-helloween-em-campinas-20.html)
    Com um mês de antecedência tratei de comprar meu ingresso via telefone (que Internet que nada), depositei a grana direitinho e nada do ingresso chegar, a data de 19 de março de 1999 (sexta-feira, dia do show em Sampa) estava se aproximando e o meu ingresso não vinha, eu gastei uma fortuna em telefonemas ao escritório da empresa (ir)responsável pela venda dos ingressos, até cheguei a ameaçá-los dizendo que iria processá-los pela palhaçada...eis que, no dia do show, logo pela manhã chegou um envelope em casa, eu tinha saído e ninguém estava em casa para receber o tal envelope endereçado às minhas mãos, (teria de ser entregue em mãos). Quando vinha eu lá na esquina avistei um moto-boy sair da frente da minha casa, eu me toquei do que poderia ser e saí feito doido gritando atrás da moto até que o rapaz me viu e parou, me entregando o envelope e um documento de entrega para assinar, agradeci ele umas mil vezes por ter me esperado, pois dentro daquele envelope estava o MEU INGRESSO, e, pasmem, vinha acrescido de mais um, sim, mais um convite para o show (que depois vendi na porta do show por R$40,00 que era o valor real do ingresso e com a grana comprei uma camiseta oficial do show e ainda sobrou pro taxi de madrugada), ou seja, um par de ingressos...ri à toa! Procurei alguns amigos e ninguém poderia ir, sendo assim, fui eu sozinho para a rodoviária lá pelas 4 da tarde munido de grana e meus 2 ingressos.


    Peguei o busão na rodoviária lá pelas 17:00hs e rumei à Sampa. O ônibus estava bem vazio, só eu e umas 5 pessoas, sentei mais ou menos no meio, do lado esquerdo e fiquei vendo a paisagem, de repente, quando o ônibus estava passando por Jaguariúna (cidade do interior paulista, pouco antes de Campinas) uma garota de seus 16 anos mais ou menos literalmente 'emergiu' do fundo do ônibus, passando ao meu lado em direção à frente do ônibus com intenção de descer logo à frente, ela era loirinha, magra, cabelos channel e trajava um longo vestido de tom azulado, beirando o 'púrpura', com uma pasta na mão esquerda e um crucifixo no pescoço, ela passou, me olhou e eu nem dei atenção, achando se tratar de alguma missionária chata, ela voltou para trás, se dirigiu à mim e perguntou meu nome, eu, desligado na minha, retruquei: "Desculpe, o que foi?", nesta hora percebi que seu crucifixo era na verdade uma cruz egípcia 
 de Ansata (ou Ankh), ela repetiu a pergunta e eu logo me liguei e falei meu nome: "Alexandre...", sem muita cerimônia ela se inclinou sobre a poltrona vazia ao meu lado e estendeu sua mão direita, eu estendi a minha para cumprimentá-la como todos fazem, mas ela virou as costas da minha mão para cima e beijou-a dizendo em seguida: 
"Condenados são todos aqueles que nos julgam!" se virou e desceu do ônibus naquele minuto no meio da estrada... 

    Eu fiquei pasmo e sem reação alguma, ela desceu, retomei a razão e olhei janela à fora onde não encontrei ninguém, nem mesmo rastro da moça... tratei de limpar minha mão no banco do ônibus e fiquei 'griladão' com aquilo... pensei: "Será que vou morrer? Bem, se eu tiver que morrer, vai ter que ser depois do show!" sorri e me voltei para a paisagem esquecendo assim do que rolou. 
    Depois de muito rodar a 'capital do ROCK' de metrô e busão durante horas e gastar mais um bom tempo na fila do lado de fora do Via Funchal, estava eu dentro da casa, com aquele "Cheiro de Ansiedade no Ar", estaria eu em instantes realizando uma promessa e mais do que isso, um sonho de infância que nunca antes pensei que poderia. 

    Comprei uma camiseta oficial do show (com aquela grana do ingresso extra vendido na porta), ela era (e ainda é) 'púrpura' e tinha na frente aquela 'bola na água' da capa do CD "30: Very Best of DEEP PURPLE". 
Sim, é a minha e ainda está aqui

    O show começa quente...tava muuuuuito quente lá dentro, eu com aquela camiseta por cima de uma do KISS que trajava antes e aquelas botas plataformas de 10 cm de altura bem pesadonas... tirei as 2 camisetas e o calor continuava, comecei a delirar, estava lá na frente mesmo, esmagadão nas primeiras músicas, mas depois a galera relaxou e tudo se normalizou, para os outros pois eu estava caretão e 'vendo coisas'... via o rosto das pessoas à minha volta brilhando em tons azuis e 'púrpuras', como aqueles deuses indús, manja? Parecia que todos usavam glitter no rosto, mas os músicos no palco estavam normais, estranho, muito estranho! De repente a vista embaçou geral, pensei "a pressão caiu..." olhei pro lado e vi lá no fundo uma luzinha acessa, deduzi ser o bar da casa, e era, logo estiquei os braços pra frente, pra tirar quem tivesse no meu caminho, e rumei pra lá, com as camisetas nos ombros, ensopado de suor. Olhei pro barman e falei "Água!" e ele me deu uma daquelas garrafinhas de 600ml, sentei num degrau e matei-a todinha num gole só...naquela eu retomei a visão e meus sentidos, adivinha que som estavam tocando? ‘Strange Kind Of A Woman’, logo me lembrei da moça, o vestido dela era da mesma tonalidade de cor que eu estava vendo no rosto dos outros pouco antes... bizarro não? 
    Me lembrei do q/ tinha pensado antes, sobre eu morrer, morreria depois do show...rs 

    Voltei lá pra frente e curti o show até acabar... tempos loucos e mais orgânicos aqueles... e a ‘strange kind of a woman’ deve ter ficado por perto quando precisei, sabe-se lá... hahahahah...
    Em 2000 o DEEP PURPLE veio pro Brasil mais uma vez, desta vez, com RONNIE JAMES DIO e Orquestra, perdi essas apresentações, isso me dói à beça na alma, mas tudo bem, voltei a vê-los mais duas vezes, uma em 2003 e outra em 2017, além do saudoso JON LORD com a Orquestra de Câmara de São Paulo na Virada Cultural de 2009, ou seja, 10 anos após a minha primeira overdose-púrpura, coisa que a gente nunca esquece!

"...and if you hear me talkin'on the wind, you've got to understand we 
must remain... PERFECT STRANGERS..." 

o show de Campinas nem estava no merchandising

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